Pare o motor que gira o mundo por favor.
O outono chegou hoje cedo.
Chegou com os gritos de minha mãe ordenando às janelas que se abrissem para um dia raro de sol.
Essa é uma das melhores sensações quando se cresce em uma cidade que chove com frequência, os dias de sol são ainda mais belos.
O cheiro da terra é maravilhoso e a roupa do varal tem aroma de lavanda.
A geleia é de abóbora e o gosto é de infância. Minha mãe sempre faz pão em casa mesmo que a padaria seja a 5 minutos daqui. E até os 15 anos eu não tomava outro café se não o da minha mãe.
Hoje é um belo dia sim. Há tempos que não via um dia tão encantador, será que mais alguém na vizinhança está tendo o mesmo dia que eu ?
São dias assim que me fazem acreditar que as coisas podem melhorar, se a vida nos brinda com aroma de esperança ela nunca vai nos deixar faltar nada.
Pare o motor que gira o mundo por favor.
Eu, meu livro e minha sombra de goiabeira queremos ficar juntos por mais uma hora.
Pare o motor que gira o mundo, senhor Deus não leve o sol embora, porque a vista das árvores no morro do Guanabara, com o céu infinito atrás, parece ter sido pintada a óleo.
Não deixe o sol se esconder , por favor, eu suplico. A visita acabou de chegar e minha prima veste lindas sandálias. Que lástima seria a garoa fazer a lama e a lama fazer o mal humor.
As nuvens partiram rumo ao norte. " obrigada senhor" suspiro profundo enquanto o vento me trouxe uma folha dourada.
Pararam os motores e o sol embelezou as flores dos apaixonados. Pararam o motor que antes rangia e agora quieto traz paz aos anjos.
Pararam os motores e ninguém mais notou, ninguém além de mim , meu livro e minha sombra de goiabeira.
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Digitais
PoetryLivro de poesias cotidianas de Ellen de Lima, uma jovem brasileira que usa seu olhar poético para falar do dia a dia e sobre a forma que vê o mundo. Fotografia de Andre Elliot. "Ensaio Hands Under Neon Lights" (distribuição: Pinterest).
