Um beijo na bochecha não é só um beijinho
Um abraço não é mais só um abraço
Aquela saudade parece mentira
Se o seu corpo é seu
As mãos dele deveriam ficar longe.
As mentiras dele não deveriam ser suas
Por outro lado todos sempre dizem:
Não confie em ninguém
Feche a porta e a tranque
Feche o zíper e passe um cinto
Feche as pernas quando sentar
Feche a cara para desconhecidos
Feche o corpo se for preciso
Feche-se para o mundo
Não abra nem mesmo a boca.
Não confie em ninguém
cale-se
cubra-se
nem respire.
Reze mais alto
Implore para todas as mulheres santas
Para que elas te protejam
Porque você é ainda uma menina
E não deveria ter aprendido tão cedo
O peso das lagrimas.
Não conte isso pra ninguém
Ele já está na família a mais tempo
E nessa sua boca suja
Não podem ser creditadas as verdades.
Nessa casa tão bagunçada
Ninguém vai se dar o capricho
De acreditar em você.
Mas se ele voltar,
GRITE
ESPERNEIE
EXPLODA
REVELE-O
CHORE
Ignore as regras de antes
Ninguém pode te julgar
Por tomar posse de seu próprio corpo.
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Digitais
PoetryLivro de poesias cotidianas de Ellen de Lima, uma jovem brasileira que usa seu olhar poético para falar do dia a dia e sobre a forma que vê o mundo. Fotografia de Andre Elliot. "Ensaio Hands Under Neon Lights" (distribuição: Pinterest).
