Quem com rola fere, com rola sera arrombado.

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Cutucada.

– Grrr.

Cutucada.

Cutucada.

– Chega.

Amassadela, amassadela, amassadela.

Cabeçada.

– Eu compreendo que você não consiga ler o calendário, mas devia saber quando é domingo. Sério, Bidu. Cabeçada dura.

Rolei na cama para longe das insistentes cabeçadas e cutucadas de Bidu e cobri a cabeça com o lençol.

Lembranças da noite anterior insistiam em aparecer. Shouto na cozinha de Toga, a nossa apresentação sendo ouvida pelo mundo inteiro. Os amigos dele me chamando de Garoto do pijama jungkook. A ficha de all might caindo ao descobrir que eu era o garoto que eles estavam falando.

Eu beijando Shouto. Hummmm, eu beijando Shouto. Não, eu beijando Shouto, não!

Me enrolei nas cobertas. Bons sonhos e paredes finas... Um calafrio me percorreu de cima a baixo quando lembrei suas últimas palavras. Me embrenhei ainda mais nas cobertas. Meu coração se acelerou ao pensar no quão envergonhado tinha ficado. Coração, ignore o garoto debaixo das cobertas. A noite de ontem fora definitivamente sem sonhos, mas, para ter certeza de que ninguém (Shouto) ouviria meus possíveis berros ardentes, dormi com a TV ligada.

A revelação de que Shouto me escutara sonhando com ele tinha me perturbado tanto, que eu zapeara interminavelmente pelos canais em busca de algo que não soasse nada como eu mesmo tendo um sonho molhado com "Shoutinho". Acabei no canal de vendas, que, é óbvio, me manteve acordado até mais tarde do que eu planejara. Tudo ali era fascinante. Tive de arrancar o celular da minha própria mão às três e meia da madrugada, quando quase comprei o lançamento da Polishop – sem falar da meia hora irrecuperável que gastei vendo um vendedor tentando me empurrar a melhor coletânea de canções dos anos cinquenta.

Me estiquei preguiçoso sob o lençol, sufocando um riso ao perceber a sombra de Bidu me perseguindo, tentando encontrar uma brecha para entrar. Ele tentou por todos os ângulos, mas eu impedi seus avanços. Finalmente, ele retornou à sua tática de empurra-amassa, e eu descobri a cabeça para rir de seu focinho.

Eu podia lidar com essa história do Shouto. Não precisava ficar totalmente constrangido. Claro, meu O sumira do mapa, talvez para sempre. Claro, eu vinha tendo sonhos eróticos com meu vizinho excessivamente atraente e confiante. E, claro, o dito vizinho tinha escutado os ditos sonhos e feito um comentário sobre eles, ficando com a última palavra numa noite que já era extremamente bizarra. Mas eu podia lidar com isso. Claro que podia. Só precisava admitir o fato antes dele – tirar vantagem, por assim dizer. Ele não precisava ter sempre a última palavra. Eu podia me recompor e manter nossa ridícula trégua.

Estou totalmente ferrado.

Então ouvi o despertador disparar no vizinho e congelei. Depois, me recuperei e deslizei para baixo das cobertas novamente, deixando de fora apenas os olhos. Espera, por que eu estava me escondendo? Ele não podia me ver. Ouvi-o bater no despertador e seus pés tocarem o chão. Por que estava levantando tão cedo? Com o silêncio da manhã, era possível ouvir absolutamente tudo através das paredes.

Cara, ele também estava me ouvindo todo esse tempo! Senti o rosto esquentar ao recordar meus sonhos, mas me controlei. Um oferecimento de Bidu e suas cabeçadas em minha lombar na tentativa de me empurrar para fora da cama e servir seu café da manhã.

— Tá legal, tá legal, vamos levantar. Meu Deus, você é tão babaca às vezes, Bidu. — Ele disparou um olhar rabugento por cima do seu ombro de cachorro, já a caminho da cozinha.

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