CAPÍTULO 2

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O delegado de aparência cadavérica me causava sono com seu jeito preguiçoso de falar, “...fique aqui e espere por sua mãe” ele repetia todo instante. Talvez pensou que eu estivesse sofrendo de choque pós traumático, ou apenas falou para mim o que fala para toda vítima que chega nesse lugar.

Eu esperava me chamarem para prestar depoimento, analisava minhas mãos calculando quanto tempo havia passado desde o último dia que vi minha mãe, de repente sua voz roubou minha atenção.

Era ela, na minha frente. Nada havia mudado, as roupas pretas pareciam ser características dela, realçava seus cachos louro-médio.

-Ana! Eu sinto muito, foi minha culpa! - suas mãos levantaram meu rosto, de perto pude apreciar a cor de sua pele, tão morena quanto a minha.

   Não a vejo com frequência pois moro com Edda, em Hill Cities, desde muito pequena. Tampouco conheço outros parentes, não conheci meu pai, não tenho amigos. Vivo num mundo que conheço apenas por telas e monitores.

Minha mãe, Susan, nos visitava somente em datas comemorativas. Eram visitas rápidas,  por “pouquíssimas” horas, logo retornava para... Na verdade, guardava seu endereço em segredo. Nem mesmo Edda sabia, e se sabia escondeu muito bem.

Edda! Onde está?

- Estive tão empenhada em manter discrição... - Tentou explicar.

-Edda? Não a vi sair... – A interrompi.

- Permaneça calma, Ana, nem tudo é como queremos!- Temi as palavras que viriam. Aquela tentativa de consolo me mostrava que algo de ruim havia acontecido. – Infelizmente, o corpo foi encontrado no banheiro! - Despejou sem cerimônia.

   Eu estava visivelmente abalada, porém não deixei que as lagrimas caíssem. É impossível!

...

   Ainda me recuperava da bagunça que a negação havia causado em mim. Durante toda a noite esperei por uma ligação da delegacia, em que o delegado falava que Edda estava viva e que isso tudo não passava de um terrível engano. Como você pode imaginar, essa ligação não aconteceu.

   Minha mãe e eu dormimos em uma pousada estilo vitoriana, fora da cidade. Sem conversas, sem olhares, apenas dormimos.

...

No dia seguinte, tudo amanheceu bonito, parecia que o mundo queria me dar uma força.

Olhava para fora da janela quando seus cabelos claros entraram no meu campo de visão. Me chamou para sentarmos frente à frente na mesa, pois precisava falar algo “inadiável”, como caracterizou.

- Foram feitas investigações. Tivemos apoio da delegacia local. Graças a isso e ao depoimento do porteiro, Sr. Robinson Morris,  os culpados foram encontrados, confessaram e foram condenados sem direito a julgamento e habeas corpus.

- O que queriam com Edda? Por que a mataram? – Indaguei encarando o verde da grama lá fora.

- Vocês não eram o alvo Principal deles, são apenas alguns integrantes de um grupo criminoso do Sul do país que querem acertar as contas comigo.

Eles aplicam golpes milionários em ricos executivos, os assassinavam para em seguida obrigar as viúvas a entregar o dinheiro do Seguro de vidas. Eu e minha equipe investigamos e intervimos.

- Você? – Fitei seus olhos.

- Sim. Acho que o plano era te sequestrar ou... - desviou o ohar - Algo pior! Com isso eles queriam chamar minha atenção e ter posse sobre mim. É o preço que pagamos para que eu possa exercer minha profissão. Agora você entende que devemos ter o máximo de cautela?

- “preço”? Edda está morta! Foi um preço muito alto que não escolhemos pagar!

- Por fim,  sou detetive na delegacia de segurança pública de Root. Deixei que morasse aqui sob os cuidados de Edda para que ficasse em segurança. Nos conhecíamos desde muito tempo, ela era uma grande amiga e não hesitou quando pedi que cuidasse de você por mim. – lagrimas forçavam passagem nos meus olhos ao lembrar da mulher maravilhosa com quem dividi meus melhores momentos. - Mas esta cidade não é segura, não como antes e não pra você!

- O que quer dizer?

- Em Root, apenas pessoas de minha inteira confiança sabem da sua existência. É uma cidade grande, está passando por um momento delicado. Ninguém teria interesse em te fazer mal, lá os criminosos procuram apenas por dinheiro. Vou levar você comigo. – era o que eu imaginava todo dia antes de dormir: morar com minha mãe, fazer programas juntas, rir de um seriado de tv... Mas a mágoa me impedia de ficar feliz com essa notícia, eu não conhecia a mulher na minha frente. Talvez me enxergasse como um “imprevisto”, enquanto eu a enxergava como mãe.

Me Dê RosasOnde histórias criam vida. Descubra agora