CAPITULO 4

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Transitamos com calma, aproveitei para ver cada detalhe daquela cidade diversificada, que não parava mesmo debaixo do sereno frio da noite.

Passamos por vielas, viadutos, prédios comerciais com seus painéis de LED gigantescos; os jovens que saem das baladas carregados de tão embriagados, mulheres exibiam sua boa forma em seus vestidos exageradamente provocantes atrás do meio fio e famílias felizes riam juntos na lanchonete... Lembrei das advertências, todas aquelas restrições não podia ser apenas cuidado de mãe. Talvez eu estava sendo ignorante, mas não poderia ser nocivo viver ali! Eu achava que tinha algo errado com os supostos "golpistas", sabia que mamãe sempre exagerava para que eu quisesse ficar em casa. Precisava saber o que, eu tinha completa certeza, que ela me escondia.

- Quem são eles, e como me descobriram? Como estou viva? - Ela continuava a olhar pra frente. -Estou falando das pessoas que invadiram minha casa. Eu sei que quer me esconder de alguém, você me manteve trancada a vida toda!

- Não fale bobagens, eu nunca escondi de você que isso poderia acontecer, e aconteceu.

Já sabia desde o início que não iria arrancar uma palavra da mulher alto controlada que Susan Hayes era, o que não me impedia de descobrir sozinha.

Procurei qualquer motivo que explicasse ela ter que mentir pra mim, depois pensei estar ficando louca; quando , enfim, notei que o carro parava ao lado de uma casa que, assim como as outras daquele lado da rua, ficava frente a orla de uma floresta pouco distante.

Eram residências estereotipadas, com revestimento de tábuas corridas, telhado de telhas shingle e com aqueles frontões que tentam imitar o estilo neoclássico.

- Vamos, Ana! A chuva está aumentando, não devemos ficar aqui fora.

Saí do carro ainda olhando para trás, me perguntando se atravessamos a cidade inteira. A julgar pelo ambiente ali, tudo tão antiquado, tive quase certeza que estávamos no interior de Root.

Me direcionei para o rol de entrada. Quando a porta foi empurrada fui tomada pela surpresa de ver alguém lá dentro, no escuro. Era uma garota, estava descendo os últimos degraus da escada, quando nos viu correu para abraçar minha mãe. Ela era morena, tinha pele tom de oliva, como a nossa.

Depois de uma troca de sorrisos, ambas olharam pra mim.

- Darla, está é sua prima Ana. - falou olhando para a garota na nossa frente, em seguida pôs os olhos em mim. - Ana, essa é sua prima Darla.- Me senti tão feliz por conhecer outra parente! Estendi a mão em sua frente a fim de lhe cumprimentar e, sem esperar, fui puxada para um abraço. Não estava acostumada com demonstrações de carinho, e ela notou quando a empurrei de leve.

...

Durante o jantar pude perceber o quanto Darla era insuportável! Seus assuntos não me interessavam.

Esperava poder perguntar sobre outros primos ou tios, mas suas perguntas aleatórias tomavam cada segundo da conversa. Elas eram: " O que você fazia no lugar que morava?" , "Gosta de praia?" , " Já decidiu qual faculdade vai fazer?" , "Você namora?". Eu minimizava minhas respostas, isso tornava tudo menos desagradável, contudo, não tive muito o que fazer quando ela resolveu falar "um pouco" sobre a vida dela. Foi , entediantemente, assim: " Sou Auxiliar de admição diurna no necrotério do hospital de Root, gosto de rosa, amo animais. Sou louca por romances, vou te emprestar alguns, você vai gostar. Vamos ser mais que amigas!"

Darla foi interrompida antes que terminasse sua apresentação, minha mãe pediu para falar algo, o que me aliviou , pois não saberia qual resposta dar para aquele mutirão de informações. Talvez só conseguisse falar um "Legal!".

Pousei minha atenção na mulher ao meu lado.

- Darla irá morar com você aqui, enquanto eu estiver fora. - Olhei para Darla, incrédula. Desejei ter expressado o "legal!".

- Mas... Você vai sair? Pensei que fosse ficar todo tempo comigo!

- Passo o dia inteiro na delegacia e a noite no meu apartamento, no centro da cidade. Por isso pedi para minha sobrinha que tomasse conta de você por mim.

Darla olha pra mim com um sorriso forçado.

...

Já passava das onze horas da noite e ainda havia uma pilha de roupas para organizar no armário. Foi minha primeira ideia para manter a cabeça distraída e esquecer que eu não iria poder estar com minha mãe tanto quanto eu gostaria.

Algo a mais que carência me deixava inquieta e me fazia andar pelo quarto com as mãos na cintura. Talvez fosse o fato de ter um futuro incerto, ou ter o futuro que sempre quis e saber que podia não durar para sempre.

O fato de morarmos aqui apenas Darla e eu, deixava implícito que poderia acontecer nesta casa o que aconteceu em Hill Cities. Tendo interesse pessoal ou não pessoal, a minha normal vida nova dependia apenas da sagacidade dos bandidos em me encontrar. Temi por mim e por Darla!

Depois da puberdade, passei a duvidar de que ,realmente, estivesse em perigo. Pois muitos motivos explicados para mim por mamãe ou Edda não faziam sentido! Quando eu era criança, falava pra mim sobre animais selvagens e bicho papão que me levariam se sair pra fora. Quando cheguei à adolescência, falavam sobre ladrões e moradores de rua violentos que nos sequestram e troca por comida. Agora, criminosos me causam pesadelos, eram... muitas perguntas sem respostas. Perguntas essas que só sentia confiança em direcioná-las à Edda, pois da mamãe sempre recebi respostas ensaiadas. Pobre Edda, claro, não sabia o que dizer! Apenas me consolava com um " Não há nada que precise saber, querida!"

Nunca era mencionado nada sobre a "tal delegacia" ou sobre os colegas de trabalho da mamãe. Ela falava apenas das consequências, essas consequências me privaram, não só de vida social, mas também de presença materna. Talvez tenha afastado meu pai também.

Meu desejo era ficar sozinha até o outro dia, porém, notei tarde demais, que havia deixado a porta destrancada e minha mãe já entrava estendendo um papel para que eu pegasse.

Ela sentou na cama enquanto eu fazia o mesmo, em seguida explicou:

- O Sr. Derik Hoffman, reitor da Harvest Tech University... Ou H-Tech como é conhecida, enviou estas informações. Por sorte, as aulas vão começar amanhã.- Abri o papel e vi uma grade com inúmeras datas de aulas presenciais, à distância, práticas, teóricas e grupos de estudos. Na parte de trás havia plantas de toda o
prédio. -Não foi fácil incluir você em uma turma de universidade com documentos falsos! A reitoria sabe que você está portando documentos falsificados e conhece sua condição. Foram muito gentis em imprimir mapas para que você não precise ficar zanzando pelos corredores. Não faça amizade com mais de cinco alunos... Escute bem: A-LU-NOS. Nunca com funcionários! - Só nós duas estávamos dentro do quarto, mesmo assim ela falava baixinho e olhando no fundo nos meus olhos.- O Sr. Hoffman entende que seu aprendizado exige peculiaridades, então não faça descaso com nossa preocupação. Contratei um motorista, entre no carro ainda dentro da garagem, ele te levará para qualquer lugar que quiser; serei informada quanto à esses lugares. E por último, mas não menos importante, nos seus documentos consta agora que você é Ana Bryant.

Olhei para ela sem saber o que falar. Pelo que entendi, terei que ser invisível. Não muito diferente de como vivia antes.

- Se precisar de mim, o motorista sabe onde eu moro, é só pedir que ele te leva lá. Mas só me procure se for uma emergência e seja discreta.

- Serei como um fantasma! - Preferi pensar que ela se comportava assim, tão profissionalmente, para me fazer ver a gravidade da situação, e que não estava pensando que eu estragaria seu sossego.

...

Olá, querido leitor!
Na mídia do capítulo tem uma imagem mostrando a Ana e a Darla, vc também poderá encontra-las no capítulo (personagens) lá no começo..

Obg por ler e, se tiver gostado, deixa uma estrelinha pra mim saber se devo continuar a escrever esta história.

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Me Dê RosasOnde histórias criam vida. Descubra agora