dois

77 15 39
                                    

"Ele só pensará em mim."

Golden rola nas alturas enquanto afundo o pé em Lúcifer, meu jipe Troller pra lá de incrementado. Aos prantos, minha voz atinge as alturas, acompanhando com a cabeça as batidas da música e os acordes de Harry Styles.

As unhas arranham o volante de plumas avermelhadas quando relembro o que se passou e para onde estou indo. Faltam sessenta quilômetros para o meu destino.

Quando as coisas não saem como deveriam, fujo para o colo do meu pai. Ele sempre sabe o que fazer, mesmo que a coisa esteja preta para o meu lado. Estou no fundo do poço, e só ele poderá me salvar.

Ouço uma sirene e olho pelo retrovisor. Mas que merda! Meus olhos correm até o velocímetro e xingo alto, esmurrando o volante com punho fechado. Mil vezes merda!

Meu pé desacelera e dou seta para direita. Bufo alto antes de desligar o som e o motor do carro. Não tiro o cinto de segurança, mas já me preparo para o que virá. Abro a janela lateral e aguardo aproximação do policial rodoviário.

– Documentos. – a voz grave e altiva me faz gelar.

– Um minuto. – abro a mochila e saco os documentos lá de dentro. Por sorte está tudo em dia.

Estendo a carteira com todos os documentos relevantes. Através do meu óculos zerado, noto que esse é o tipo policial metido a besta, com "olhinhos police" e cara de malvado.

– Seu velocímetro está com problemas? – ele indaga, num tom arrogante.

– Acho que não – sou curto na resposta.

– Estava quarenta por cento acima da velocidade permitida. – ele checa a documentação. – Para onde está indo?

– Seonggi.

– Talvez não chegue lá inteiro se mantiver essa velocidade. – ele baixa os óculos para me encarar. – Pode sair do carro, por favor?

– Claro. – respiro fundo, inconformado, antes de desatar o cinto de segurança. – Eu realmente não percebi que estava correndo tanto.

– Nenhum motorista pé de chumbo percebe. – o policial franze os lábios e engulo em seco. – O que são essas caixas? Você tem a nota fiscal desses produtos?

As caixas a que ele se refere são da minha megacoleção de sapatos. Duzentos e oitenta e dois pares no total. Gosto de mantê-los em suas caixas originais, onde faço uma janelinha e nomeio um por um. Não sou louco, apenas gosto de sapatos.

– Não são produtos, são sapatos. Estou de mudança para Seonggi e esses são meus móveis. – reviro os olhos quando o policial arqueia as sobrancelhas, incerto.

– Tudo isso são sapatos? Para uso pessoal? – ele bate com a caneta na boca, mirando-me.

– Algum problema com isso? – há certa irritação no meu tom e o policial percebe.

– Abra o porta-malas e essas caixas. Farei uma averiguação mais detalhada.

Como assim uma averiguação mais detalhada? Esse policial está de sacanagem comigo, só pode.

– Está de brincadeira, não é? – levo as mãos aos quadris. – Olhe, seu policial, eu tive uma semana do inferno. Perdi meu namorado, meu emprego, minhas economias, o chão onde pisava... Eu perdi tudo, menos meus duzentos oitenta e dois pares de sapato. E, claro, não perdi o Lúcifer aqui. – bato com uma das mãos na lataria do carro.

– Você...

– Por favor, dê logo essa multa e me deixe seguir viagem, tenho litros de lágrimas para chorar no colo do meu velho pai.

Assumo uma postura ereta e tombo a cabeça de lado, aguardando a reação do homem da lei. E a resposta vem, totalmente inesperada.

– Siga-me até o posto policial mais à frente. Não só vai ganhar uma multa como vai passar horas aguardando que uma minuciosa averiguação seja feita nesse tal de Lúcifer. – ele chega mais perto e sinto o cheiro de café nas fuças. – Mocinho, se não quiser se encrencar ainda mais, surgiro ficar de boca fechada.

Mas que merda.

dica do dia: não comprem um carro, nem uma motoca, nem um avião, o ideal eh ter uma bike. 

the perfect man | taekook Onde histórias criam vida. Descubra agora