cinco

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"Me cobrir de beijos."

Minha avó, com seus cabelos que mais se parecem navalhas de tanto laquê, não para de me beijar, apertar e beliscar. Ela chora e ri ao mesmo tempo. E também vocifera:

– Por que não ligou? Eu teria arrumando o seu quarto, feito bolo de cenoura ou comprado aqueles camarões graúdos que você tanto gosta. Odeio quando chega sem avisar.

Não disse que a vovó é doida?

Meu avô se limita a um abraço longo, daqueles que não necessitam de palavras. Ele é o tipo de pessoa que dá vontade de apertar as bochechas só por existir. Emana uma calma tão sublime que, ao seu lado, sinto-me flutuar.

– Avisou ao seu pai que viria? – vovó vinca a testa.

– Não.

– Meu menino, o que houve? – esse velho deve ter algum poder sobrenatural. Sempre sabe quando estou em apuros.

– Podemos falar sobre isso mais tarde, vô? Não almocei e estou morrendo de fome.

– Como assim não almoçou? – estridente, vovó sacode meus ombros. – Taehyung, já são quase cinco da tarde, não pode ficar tantas horas sem comer. Venha, vou preparar algo para você.

A Pousada das Margaridas é um lugar bucólico e acolhedor. Foi fundada em 1970 e a decoração mudou muito pouco desde então. Apesar disso, não é um local com cara de velharia. Tá mais para um estilo vintage: rústico, chique e atual.

As trinta suítes são disputadas a tapa nos períodos de alta temporada. Muitos nomes de peso já passaram por aqui, inclusive estrangeiros. E eles sempre voltam; o magnetismo deste lugar é latente.

A construção, em estilo colonial, foi totalmente restaurada assim que meu avô colocou as mãos na escritura do imóvel. Poucas foram as alterações na estrutura original, e meu pai conta que uma pequena fortuna foi investida para que a Pousada das Margaridas se tornasse um dos pontos turísticos de Seonggi.

Um dos lugares que mais gosto é o pátio central, ladeado por jardins e margaridas, duas piscinas e um gazebo incrível coberto por copas de árvores centenárias.

Ainda no complexo funciona o restaurante típico, comandado pelo Chef Gasparzinho, um amigo de longa data. O apelido surgiu quando ainda éramos crianças e tem um motivo: Gasparzinho é Albino, e a alcunha pegou tão logo a inventei. Seokjin é o nome dele, mas acho que nem mesmo a mãe do Gasparzinho se lembra do seu nome de batismo.

Na parte de trás da pousada, seguindo pelo estacionamento, dois sobrados foram erguidos: a casa dos meus avós e a casa do meu pai, uma ao lado da outra. O que as separa é um suntuoso jardim de flores multicoloridas, circundado por um aroma que me remete à infância de imediato.

É bem no centro desse jardim que estou agora, embalando-me meio para frente e para trás, num balanço de madeira construído pelo meu avô assim que dei os primeiros passos. A corrente range baixinho, e sinto cheiro de verniz novo no ar.

Jogo a cabeça para trás e fecho os olhos, capturando os sons dos pássaros e inebriando-me com o cheiro que se desprende das flores ao redor.

– Taehyung, algo me diz que você veio para ficar. – a voz do meu avô chega mansa e rouca aos meus ouvidos. – E não estou dizendo isso só pelos milhões de sapatos que lotam o seu carro.

Paro de me balançar e miro meu avô. Através das lentes de seus óculos, noto olhos castanhos interrogativos.

Respiro fundo e me preparo psicologicamente para a conversa. Sei que meu avô não arredará o pé daqui enquanto eu não desembuchar o que tanto me atormenta.

the perfect man | taekook Onde histórias criam vida. Descubra agora