quatro

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"Ele só pensará em mim."

São três da tarde.

Antes de seguir para Seonggi, resolvo fazer um desvio de última hora. Giro o volante e entro na péssima estradinha que me levará até Numggi, um dos meus lugares preferidos do mundo.

O Troller vermelho adere bem ao terreno, ainda assim sou jogado para cima e para baixo no banco conforme desço a estrada esburacada a caminho a praia. Abro a janela e desligo o ar-condicionado. Respiro fundo, e o cheiro de maresia me remete a tempos passados, num saudosismo intermitente.

O peito se enche novamente e fecho os olhos por dois segundos, talvez menos. Sinto-me abraçado pela atmosfera, pela natureza que me rodeia, como é bom estar em casa.

Paro Lúcifer sob as areias da praia. Recosto a cabeça e mordo o lábio para segurar o riso, enquanto rememoro uma das cenas mais hilárias que já protagonizei: meu primeiro beijo.

Foi nessa praia, num luau desses que deveriam constar dos livros de história da cidade. O beijo foi estranho, úmido e engraçado. Eu tinha quartoze anos e o garoto, quinze. Nenhum de nós tinha beijado antes, e é bem provável que, por esse motivo, as coisas não tenham saído como deveriam. Ou talvez a culpa tenha sido minha.

Eu estava tentando dar uma de difícil, mas na verdade louco para beijá-lo. Ele tinha cara de nerd, usava óculos de grau e sua timidez me deixava mais a fim ainda.

Enquanto a galera se matava de dançar na pista improvisada na areia, ele tomou uma das minhas mãos, numa confiança que eu nunca tinha notado antes. Sob a luz do luar e da iluminação bruxuleante dos candelabros, ele me puxou para beira do mar, bem longe dos olhares curiosos.

Confesso que estava tenso. Eu já tinha anos de treinamento básico com o dorso da mão. Mas ele não era a minha mão, afinal tinha lábios e uma língua. Só de pensar nisso, senti um frio congelante na espinha.

Ele era uns dez centímetros mais alto do que eu. Comecei a divagar sobre as possibilidades: ele se abaixaria na minha direção ou eu deveria ficar na ponta dos pés? Não sei por que pensava nisso mas na época me pareceu importante.

Descalço, senti a água morna se aconchegar. Observava um navio lá no horizonte, as cabines ainda acesas. Meus cabelos esvoaçavam com a leve brisa e o cheiro do mar me entorpecia.

Ele tomaria iniciativa ou eu deveria agarra-lo? Remoí aquela dúvida por pouco tempo. Suas mãos rasgaram o ar e tomar meu rosto em chamas. Seu olhar era fixo, tão profundo que não consegui me segurar. Eu desatei a rir desenfreadamente.

Acho que o constrangi, não sei dizer. Ele mordeu o lábio e ficou me encarando, com uma baita interrogação no semblante. Eu juro que tentei, mas a risada nervosa me dominou, sem parar. Se fosse qualquer outro cara, teria virado as costas e se mandado. Bem, ele até fez isso mais tarde, e eu entendo perfeitamente.

Descontrolado, afundei meu rosto em seu peito franzino. Seus dedos se enroscaram em meus cabelos e acho que ele bufou, talvez inconformado com minha atitude. O riso estava frouxo, ainda assim contive o acesso por tempo suficiente para ouvir o que ele disse a seguir:

– Taehyung, você está me zoando? Tirando uma com a minha cara?

– Não! É claro que não. – estava envergonhado demais para mirar seus olhos escuros. – Escute, vamos tentar novamente?

– Acabou o clima, Tae.

– Por favor? – então, fiz uso da minha arma mais poderosa: a sedução.

Na ponta dos pés, comecei a beijar o seu ombro, até chegar ao pescoço. Ele tombou a cabeça de lado e arfou. Seus dedos, que a segundos atrás estavam enroscados em meus cabelos, escorregaram para as minhas costas. Senti seus lábios em minha testa, bochecha e então se colaram em minha boca.

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