você pode me abraçar?

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Eu bebi um pouco mais do que devia. Nem acredito que minha missão já foi comprida, mas eu consegui chamar a loira linda pra sair. Me sinto orgulhoso e o branquelo também, já que me fez beber a noite toda pra comemorar - mesmo que discretamente.

Any já foi pra casa. O possível namorado dela disse que a mãe da mesma ligou e então ela saiu correndo. Sei que não foi nada demais porque ele me disse, mas ela foi em bora antes que eu pudesse contar a novidade.

Meu corpo está elétrico, até me permiti dançar no meio da pista. Não sou tão acostumado a beber mas o álcool está me fazendo bem hoje. Não sei onde foi parar a jaqueta que vim usando, tirei-a pois estava calor. Mas continuei suando sem parar.

As pessoas me olhavam dos pés à cabeça. Alguns me encaravam demais, o branquelo disse que era inveja. "Costuma ser assim com todo pessoa nova que aparece" acrescentou ele. Outros apenas me fitam de soslaio. Acho que as roupas do namorado da Any disfarçaram bem as minhas "origens".

Saímos de fininho. O branquelo abraçou e beijou algumas pessoas antes de me empurrar para fora da boate. Ele está tão frenético quanto eu. Há poucas pessoas na rua, muito provavelmente, por conta do horário. O provável namorado da Any disse que nós dois voltaríamos a pé, pois a caminhada não era longa. Eu, no calor do momento e com medo de alguém dirigindo bêbado por aí, aceitei.

Minhas balinhas acabaram e minha boca está seca, implorei por água em meus pensamentos porém me arrependi quando ela veio. Começou a chover. Foi inesperado mas refrescante.

- Agora a noite está completa - o branquelo diz. Sua fala está arrastada e meio embolada.

- Você não é normal - afirmo.

É quase impossível não perceber a água escorrendo por seu corpo, fazendo sua roupa ficar colada e marcando tudinho. É claro que o garoto perfeito tem um abdômen perfeito também...

- Não é legal ser "normal" - ele faz um sinal de aspas com os dedos e depois passa o braço esquerdo por cima do meu ombro.

Estamos bem próximos agora, e continuamos assim por mais longos minutos. Não acho estranho, mas fico desconfortável pela falta de intimidade entre nós. Acho que por causa do álcool. É, deve ser.

A gotas de chuva pulam das nuvens e se chocam contra nós e contra o chão, fazendo tudo ficar encharcado. Numa esquina qualquer, acabo por deslizar numa calçada molhada e só não caio porque o branquelo me segura. Nunca agradeci tanto por alguém ter colocado o braço em minha cintura, caso contrário, estaria beijando as lajotas da frente do supermercado a essa hora.

Foi estranho, ele se aproximou demais e teu corpo molhado grudou no meu de uma maneira... Peculiar. Seus olhos azuis me fitaram por alguns instantes mas logo nos separamos. Sorri de nervoso.

Continuamos nossa caminhada e, finalmente, pude ver a casa dele na rua em que entramos. O branquelo está falando sobre como vai ser bom quando eu começar a estudar junto com eles e eu me sinto bem de não ser o único sonhando com isso. Ele me toca demais enquanto conversa e eu prefiro pensar que é por causa da bebida. Prefiro mesmo.

- Você vai dormir aqui hoje - me diz, quando chegamos em frente à sua casa.

- Não, obrigado. Eu...

- Noah, não foi uma pergunta - eu odeio esse jeito esnobe dele. Ele acha que tem algum direito sobre mim? - Já está tarde e você pode pegar um resfriado se ficar andando por aí.

Eu nunca dormi fora de casa. Por favor, não riem de mim. Será que vou saber me comportar? E se eu roncar ou fazer algum barulho estranho durante a noite?

- Ok - confirmo, ainda relutante. Acho que vai ser uma experiência legal pra mim, ainda que seja com ele.

- Então, entre - ele ergue a mão na direção do portão que acabou de abrir.

Eu o obedeço. Ando pelo jardim bonito e adentro a casa quando o branquelo abre a porta. Está tudo escuro e parece vazio, a julgar pelo silêncio assustador. Eu devia ter pensado nisso antes mas... Ele mora sozinho nessa casa enorme?

- Venha, eu te empresto alguma roupa - ele sobe as escadas se apoiando nas paredes, sem se incomodar de estar molhando tudo. Eu tento segui-lo na ponta dos pés mas acabo me atrapalhando, está tudo girando.

- Você mora sozinho? - pergunto de uma vez. Eu queria saber puxar assunto para quebrar esse silêncio que há entre nós.

Ele demora um pouco pra responder pois estava acendendo a luz do quarto quem o tom de azul marinho em predominância.

- Minha mãe está resolvendo algo na Rússia e meu irmão está com nosso pai - conta. O branquelo está vasculhando as roupas do armário gigante.

Às vezes esqueço porque quero tanto essa vaga naquela escola mas ver todo esse luxo me fez relembrar.

- Isso significa que estamos sozinhos? - meu medo é maior que tudo nessa vida.

- Isso é um problema pra você? - seus olhos percorrem o quarto e param em mim.

- É que tenho medo - afirmo.

- De eu fazer alguma coisa com você? Por que se for isso eu...

- Não, não, não - interrompo-o. É agora que me exponho. - É que nunca dormi fora de casa e tenho medo de escuro.

Ele franzi as sobrancelhas e volta a mexer no armário. Pra que fui inventar de falar isso? Ele deve estar me achando um bebê chorão agora. Só passo vergonha.

- Toma - ele diz, ao me dar uma calça e uma camisa que parecem ser bastante confortáveis. - Você pode se trocar no banheiro.

Ele deu um foda-te pro meu medo, é isto. Pego as roupas caminho para o local indicado - uma pequena observação, o banheiro dele fica dentro quarto. Dentro do quarto. Se eu tivesse um banheiro dentro do meu quarto só sairia pra comer e olhe lá se eu não pedisse para alguém me entregar.

Me troco e só então percebo a falta de uma cueca. Me sinto estranho. Só de pensar que o meu vocês-sabem-o-quê pode ficar balançando pro lado e pro outro e ele ver isso me faz querer fugir.

Saio do banheiro com passos lentos e dou de cara com uma bunda branca. Meu susto só não foi maior que o dele, pois ele acabou se desequilibrando e caindo no chão. Tenho quase certeza que foi por causa do meu grito. Tampo os meus olhos com a mão direita e espero sua confirmação para que eu possa olhar e então encontro ele sentado na cama. Céus, eu vi o Beauchamp sem roupa...

- Você me pegou desprevenido - brinca.

Eu rio, de nervoso, e paro em sua frente.

- Então... Onde eu durmo? - pergunto, arregalo os olhos quando ele bate duas vezes na cama. - Na sua cama? E Você vai dormir onde?

- Você disse que tinha medo de dormir sozinho - diz. Sua voz é serena e calma, ele parece estar sonolento. - Ou é isso ou você dormirá num quarto lá em baixo.

- Lá em baixo? - quase grito. - Você prefere qual lado da cama?

Minha brincadeira faz ele rir. O branquelo se joga no lado direito e eu desligo a luz antes de fazer o mesmo mas no lado oposto. Está frio, muito frio, e, talvez seja o álcool falando, mas creio que não conseguirei dormir sem uma coisa. Que deus me ajude...

- Branquelo? - chamo-o com um sussurro, sem olhar pra ele.

- Eu?

- Você pode me abraçar? - solto sem mais nem menos. Talvez eu esteja carente e, combinando com o fato de ele possivelmente não se lembrar disse amanhã, vou me aproveitar só um pouquinho.

- Sério? - sua voz saiu estranha, parece não acreditar.

- Não precisa fazer se não quiser - digo. Sabia que não devia ter feito isso, nem temos intimidade.

- Imagina... Isso sempre acontece comigo - ele diz. Percebo pelo seu tom de voz que é uma brincadeira.

Sinto a quentura de seu corpo chegar mais perto. Quando menos percebo seu corpo está em volta do meu. Eu nunca abracei nenhum homem desse jeito mas é estranhamente bom, confortável. O abraço dele é bom. É apertado e quente numa noite fria e com bastante novidades pra mim. É aconchegante.

E essa noite está tão estranha que comecei querendo conquistar uma loira e terminei numa cama com um branquelo que eu acho que tem namorada.

For Fancy Days  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora