foi algo tão ruim que justifica uma gravidez na adolescência?

698 130 132
                                    

Minha respiração está completamente desregulada mas, dessa vez, eu não preciso de bombinha de ar alguma. Meu coração está batendo rápido demais e ainda não decidi se foi pela adrenalina do que eu acabei de fazer ou por causa da mão que segura a minha pra buscar conforto. Meu cabelo? Ah, meu cabelo gritou "damn" para o tempo que passei para arrumá-lo, porém nem isso pode me deixar com raiva.

Só paramos de gritar e/ou brincar de brigar dentro do carro quando chegamos aqui no Píer de Santa Monica. A Any não parou de fazer drama, dizendo que iria se jogar dentro do mar, enquanto não andamos na montanha russa - sim, ela chegou a tentar subir nas barras de proteção e tudo. Acabamos de sair de lá e, Nossa Senhora dos Playgrounds Que Quase Matam, isso foi ainda mais divertido que a briga de mais cedo no carro. Só comprova minha teoria de que esse é o melhor jeito de aproveitar a vida. A minha, pelo menos. Esse clima de começo de noite deixa tudo mais perfeito.

Tão perfeito que Sina quis dar uma volta pela praia e, mesmo com receio de estar a sós com ela, nos despedimos do casal que não é casal - que ficaram putos por não poder bisbilhotar nossa conversa - e passamos a fazer companhia apenas um para o outro na longa caminhada pela areia gelada. Basicamente, eu estava tremendo de medo de fazer ou dizer algo de errado porém sorrindo do branquelo e da mulher-maravilha, não vou mentir.

- Acho que, se estivesse concorrendo a uma bolsa de estudos como você, não teria chance nenhuma de eu passar - a loira-sensacão expõe a si própria.

Chegamos a esse assunto porque Sina me perguntou se minha mãe conseguiu me fazer desistir de ganhar a bolsa. Se ela soubesse...

- Por que não? - pergunto. - Sempre achei que, como filha da diretora, você era um exemplo para os outros.

Sina escancara um sorriso no rosto.

- Noah, você sabe guardar segredo? - me pergunta.

Que medo.

- Bom... Acho que sim - afirmo, cheio de insegurança.

- Que bom... Por que eu não - a loira-sensacão é um meme ambulante. Sorrio quase que involuntariamente. - Teve uma vez que minhas notas estavam tão ruins em álgebra que tive de pedir ajuda para uma garota da minha sala e em troca eu ajudava ela a conquistar um garoto...

Ela faz uma pausa dramática.

- E o que aconteceu? Deu certo para as duas? - pergunto, pra mostrar interesse.

- Bom... No fim do semestre, eu tirei dez em álgebra e ela ficou grávida - Sina solta a bomba.

- Quê? Como assim? - literalmente grito. Depois me arrependo pois chamei a atenção das pessoas. - Isso é sério?

- Pior que sim.

- Não brinca comigo assim - peço. Não paro de sorrir mas penso que, se for verdade eu não devo sorrir de uma gravidez na adolescência, então abafo minha risada com a mão. Porém não adianta muito.

- Eu, a garota e o pai bebê adoraríamos que fosse mentira mas, infelizmente, não é - brinca.

Estamos indo de volta ao píer e, de vez em quando, sinto uns arrepios por conta do frio. Fui o único retardado que não trouxe um casaco. Parabéns pra mim.

- Você é muito má! - berro. Santo Kim Matthew sabe o quanto eu queria parar de sorrir mas não consigo.

- Não sou não, ela que quis - se defende.

- É sim! - retruco.

- Não tem como eu ser uma pessoa má, foi eu quem organizou o chá de bebê dela - não sei se a intenção da loira-sensacão é me fazer sorrir mas, nossa senhora da bicicletinha rosa chock sem freio, eu tô morrendo aqui.

- Eu retiro tudo o que eu disse sobre você ser um exemplo para os outros alunos - jogo na cara mesmo.

- Eu definitivamente não sou normal - Sina comenta. - Acho que é por causa da criação do meu pai.

Balanço a cabeça em negação repetidas vezes.

- Não ponha culpa no seu pai por você ter feito uma garota engravidar - olho em seus olhos quando digo. O clima está tão agradável. Porém frio.

- Parece até que eu sou o pai da criança - a loira-sensacão faz um draminha, só pra variar.

- Você entendeu o que eu quis dizer...

- Ainda assim, você não conhece o cara que me criou, senão concordaria - retruca.

- Foi algo tão ruim que justifica uma gravidez na adolescência..? - levanto as sobrancelhas e pergunto baixinho.

- Ele é meio doido - Sina começa e faz pausa por alguns segundo, provavelmente para pensar - Tipo... Teve aquela vez que ele fez um grande drama por causa de uma torta.

- Conte mais - peço.

- Meu pai tinha o costume de comer uma torta de limão no intervalo de todo jogo de basquete porque ele dizia que dava sorte - paramos perto do píer e encaramos o mar. - Mas teve um certo dia que eu resolvi comer apenas pra ver o que aconteceria...

- Afrontosa - comento, interrompendo-a. Ela solta um pequeno sorriso.

- E quando meu pai descobriu quem comeu, no caso eu, ele me fez comer torta de limão por uma semana inteirinha - Sina continua. - Torta no café da manhã, torta no almoço, torta de tarde e torta no almoço. Foi um pesadelo...

Ok, o pai dela é meio doido sim.

- Isso é sério?! - me desculpe se eu duvidar de exatamente tudo, é que minha vida é tão chata que tudo parece impossível na minha cabeça.

- Tão sério quanto a diabete que eu terei antes de chegar aos sessenta por causa daquelas tortas - responde sorrindo.

Não tem como não sorrir do que ela fala porque exatamente tudo vira motivo de piada. Estar com a Sina é sinônimo de se sentir bem o tempo todo e eu sinto falta de presenças assim em minha vida. Não que não haja pessoas legais em minha vida, mas é que com o tempo você acaba enjoando, sabe?

- Eu pegaria trauma e fugiria de casa - comento. Passando a mão em meus braços várias vezes para tentar me esquentar.

- Meu pai é policial, então não daria certo. Ele me encontraria em qualquer lugar - a loira-sensacão faz um biquinho super fofo com os lábios pintados de vermelho.

Agora bateu o medo do pai dela descobrir que eu a magoei de alguma forma e querer vir atrás de mim pra me matar. Me arrepio só de pensar.

- Você está com frio, né? - Sina pergunta após nosso pequeno período de silêncio que usamos para fitar as águas calmas do oceano.

- Um pouco - respondo ao virar meu corpo para ficar de frente pra ela.

- Eu posso..? - Sina estica os braços em minha direção. Eu entendo como um pedido de abraço, então assinto com a cabeça.

Seus braços rodeiam minha cintura e eu aconchego a parte superior do seu corpo com os meus. Acho legal o fato de estarmos próximos, significa que estou avançando no meu objetivo. Eu só não contava com o contato da sua boca no meu pescoço. Céus, ela está me beijando? Finjo que não estou nervoso, porque sei que atitudes assim costumam enganar o cérebro, em seguida a encaro.

Seus olhos verdes me fitam também. Estamos muito próximos, o que significa que quando ela solta uma lufada nasal eu consigo sentir o ar quente. Então Sina se estica para um beijo. Sinto sua mão sair da minha cintura e tocar meu rosto. Não querendo ficar atrás, movo minha mão até sua cintura e inundo sua boca com minha língua. Acho impressionante como o ar gélido que antes me incomodava agora está trazendo a temperatura perfeita para o que estamos fazendo: um beijo calmo e estalado.

E, não sei bem como explicar, é bom mas, sei lá... Não é como o do Josh.

For Fancy Days  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora