você quer assistir a um filme comigo?

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A mulher maravilha também chora? - eu juro que não sabia disso.

É quase noite, o sol se despede da cidade dos anjos e o vento frio bate contra meu rosto, me trazendo paz. Só eu e minha bicicleta, minha companheira, rua após rua. Me sinto livre, meu cabelo voa. Estou sentindo uma epifania.

Como combinado, o branquelo não contou para Any sobre eu ter chamado a garota loira pra sair ainda, então estou indo fazer isso agora. O talvez namorado dela me deu o endereço da casa, que é um pouco mais distante que a dele mas não chega a ser tão longe da minha também.

E no meu fone de ouvido parece estar acontecendo uma festa. É que sou apaixonado por músicas de verão e é só o que eu escuto o ano inteiro. Combina comigo, combina com a Califórnia, combina com o clima de fim de tarde.

Cá estou eu outra vez, com minha calça mais nova, minha camisa verde limão e meu tênis surrado. Tento parecer arrumado mas qualquer coisa que tiver no meu guarda-roupa não chega aos pés da roupa mais velha que o branquelo tem no dele, por exemplo, mas a vida continua. E meu cabelo? Nossa, passei tanto tempo penteando-o e agora ele estar todo desgrenhado, estou a base de ódio. No mínimo, vão achar que é um mendigo pedindo comida quando eu chegar lá.

Essa parte da cidade tem casas enormes, os jardins são lindos - ainda que eu não goste de flores. Me sinto num desenho animado, com aquelas casas padrões, tudo igual. Todas cheirando a dinheiro e poder. Volto a ressaltar que o capitalismo e eu temos nossas desavenças.

Já na rua do meu destino, checo o número da casa e então descubro, enfim, que cheguei. É branca, sem graça, assim como todas as outras. Definitivamente, esses burgueses estão precisando de um arquiteto novo pois perde até a graça ter uma casa tão grande e não poder pintar uma parede sequer de uma cor mais... Chamativa.

Respiro fundo, toco a campainha e espero. Como ninguém aparece, toco outra vez. Aposto que devem estar olhando pelas câmeras de segurança e imaginando se isso vai ser um assalto. Quando me preparo pra apertar a campainha pela terceira vez, alguém abre a porta.

- O que você está fazendo aqui? - a voz que ouvi poucas vezes, mas que já consigo identificar, é a que ouço perguntar.

Mas me deparo com outra pessoa. Na verdade é a Any, mas não a garota que conheci. Ela não está arrumada, cheia de si ou coisas do tipo que normalmente é o que pensariam dela. Vejo uma garota com semblante triste, cabelo preso de qualquer jeito, lágrimas nos olhos. Ela está chorando, o que faço? Devo ir embora?

- Hm... Aconteceu alguma coisa? - pergunto, relutante por estar me intrometendo na sua vida pessoal.

- Nada que eu já não esteja acostumada - é o que tenho como resposta. Claro que ela não iria baixar a guarda pra mim.

- Eu só vim pra te falar uma coisa... Mas o Josh pode te contar depois - acabo por desistir de falar uma coisa tão banal enquanto ela está nesse estado.

- Não, não. Se você veio até aqui foi por algum motivo - ela força um sorriso e passa a mão no rosto para tentar enxugar as lágrimas. - Entra e me conta, estou precisando me distrair mesmo.

Any afasta pro lado, fazendo com que eu tenha um espaço pra passar e faz um sinal com a mão para que eu entre, assim faço. Deixo minha bicicleta jogada no canto - pois sei que ninguém por aqui vai roubar uma bicicleta velha - e adentro a casa que parece estar sem mais ninguém. Tem cheirinho de lavanda aqui e, assim como na casa do branquelo, é tudo sofisticado e as cores estão em harmonia. Tenho até medo de poluir o ar cem por cento limpo que circula por aqui.

- Pode sentar aí - ela aponta para o sofá. - Eu vou buscar algo pra você beber.

Até tento dizer pra ela que não precisa, mas quando vejo ela já está indo em direção do que suponho ser a cozinha. Não sei se devo perguntar para ela o que aconteceu, cheguei agora no parquinho e já estou querendo me intrometer em tudo, não parece certo. Por outro lado, numa hora dessas precisamos de um amigo, certo? É só sentar e escutar, não tem nada demais nisso...

For Fancy Days  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora