por que está me seguindo?

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Minha nossa senhora do playground, minha cabeça nunca doeu tanto na vida - alguém devia ter me avisado que bebidas alcoólicas me fariam ter coragem pra tomar grandes decisões mas que, no dia seguinte, me mataria aos poucos.

Minha boca está seca mas tenho quase certeza que não posso ir ao bebedouro pois já pedi umas duas vezes ao professor e nessas duas vezes ele me olhou com cara feia. Afinal, que mal tem em disponibilizar a um ser humano desprovido de juízo um pouco de esperança para continuar o dia?

- Noah Urrea? - alguém cutuca minha cabeça que, até então estava deitada sobre meu braço estirado mesa, mas eu apenas uso uma de minhas mãos para afastar a da outra pessoa. Os moleques chatos dessa sala não me deixam em paz. - Noah Urrea?

- O que é? Ninguém pode dormir em p... - comecei a frase gritando mas logo abaixei o tom quando vi que era ninguém mais e ninguém menos do que meu querido professor substituto de biologia. Oh, droga!

- Escuta aqui, garoto, não me importa o que você faz fora daqui mas, quando estiver dentro dos muros dessa escola, eu tenho total direito de chamar sua atenção e você vai assistir a aula - ele já foi tacando a bomba em cima de mim, mas eu não estou afim de ouvir gritos hoje.

- Ok, querido quase professor, eu vou assistir sua aula chata de sabe-deus-o-quê mas, por favor, para de encher meu saco! - me exaltei e até ousei ficar de pé perante ele.

Agora está todo mundo olhando pra mim e, pela cara que Shivani está na carteira ao lado, eu devo estar completamente fudido. O universo poderia ter pena de mim ao menos umas vez na vida...

- Já sabe pra onde tem que ir, né? - o professor apenas apontou para porta e qualquer pessoa que estuda nessa escola por mais de um dia já deve saber que tenho que ir pra sala da Bella.

Soltei uma lufada pelo nariz, peguei minhas coisas, coloquei na mochila e saí de cabeça baixa. Eu até iria para diretoria sem reclamar, mas não é pra lá que vamos quando acontece algo por aqui. Nessa escola, o ser mais predominante, repugnante e incondicionalmente arrogante é a psicóloga que o governo enfiou aqui dentro logo depois que encontraram uma menina tentando se matar no banheiro. Desde esse dia infernal, não temos mais que ir para diretoria pois alegam que a diretora não tem tempo pra isso - cai entre nós, como se ela fizesse algo por aqui -, e sim fazer uma visitinha para uma mulher de meio metro de altura que metade dos alunos dessa escola tem vontade de esmagar com o próprio tênis.

Os corredores estão cheios de gente, até parece que não está tendo aula, mas eu sei que está. A desorganização desse local é mais um motivo para eu querer ganhar essa bolsa de estudos e sair correndo daqui. Então vou cambaleando em direção à porta do inferno mas passo no bebedouro antes de chegar lá - hashtag: só porque eu posso.

Hoje há uma fila de gente frente a sala... E eu fico feliz. Se Kim Matthew estiver rezando por mim, terei sorte de que o sinal que indica o término das aulas bata antes de ser minha vez de entrar ali. Encosto-me na parede, fecho os olhos e solto um resmungo zangado, mesmo que sem querer.

- Poderiam ao menos colocar uns banquinhos pra gente sentar, não acha? - uma voz feminina faz uma brincadeira.

- Seria ótimo se ela mesma fosse nos atender na nossa sala e não o contrário - brinco. Nem me dou ao trabalho de abrir os olhos mas consigo ouvir sua pequena risada nasal.

Se eu ligar pro branquelo e perguntar se ele tem uma receita pra curar ressaca, será que ele me indica algo? Provavelmente não, né? Já que ele se divertiria me vendo sofrer. Aquele garoto tem uma cara de marrento que dá vontade de meter um tapa.

- Deixa eu adivinhar, está apaixonado ou matou alguém? - a mesma voz de antes ousa me incomodar mais uma vez.

- Do que você está falando? - dessa vez abro meus olhos e encontro uma garota de cabelos castanhos e pele clara. Seu estereótipo físico me lembra a raça ariana e, a julgar pelo jeito que está vestida, parece que ela veio de uma dessas série que há patricinhas ou algo do tipo. O que diabos ela está fazendo por aqui?

- Do seu sorriso - ela conta.

- Que sorriso? Tá vendo algum sorriso aqui? - aponto para meu próprio rosto.

- Calma aí, estressadinho - a ariana-girl levanta as mãos em falso sinal de rendição. - Não sabia que você era mais um hetero top que se sente vulnerável diante de uma pequena observação que as pessoas fazem sobre você.

Seu sorriso cínico me incomoda.

- Vem cá, eu te conheço? - tento ser amigável com a pergunta, mas se saiu levemente arrogante não é culpa minha.

- Ainda não, mas tenho certeza que vai querer ter conhecido muito tempo atrás... - é o que infelizmente tenho como resposta.

Talvez sua afirmativa tenha me dado um pouquinho de medo, aliás, tudo está me dando medo ultimamente. Coisas estranhas estão acontecendo. Gente, essa parte de Los Angeles era mais calma que um asilo para velhinhos e agora estou conhecendo uma pessoa nova por dia, alguém me explica o que aconteceu?

- Garota, você é daqui? - decido perguntar desta maneira, já que minha atitude calma não funcionou.

- Por que a pergunta? Está interessado em mim? - ela pergunta ao se movimentar na fila de gente que vai levar uma bronca. Eu também sou um passo a frente.

Parece que eu estou numa fila de posto de saúde público com uma pessoa egocêntrica que não para de me encher o saco, onde é que o mundo vai parar?

- Eu tenho cara de quem está interessado? - indago, sincero. Aliás, só vejo perguntas sendo feitas e nenhuma respondida. Tô de saco cheio, eu já disse isso?

- O que foi? Dia difícil? - sua pergunta me faz revirar o olho. Será que ela está me escutando?

- Como adivinhou? - ironizo.

- Sou mestre em perceber atitudes passivo-agressivas - a ariana-girl faz um biquinho com a boca e arqueia as sobrancelhas enquanto balança a cabeça pra reforçar a afirmação.

Definitivamente, ou ela fingi muito bem ou realmente não dá a mínima para minha falta de interesse. Talvez, só talvez, eu estivesse disposto a sair no tapa com ela para que ela calasse a boca de vez mas, graças à Kim Matthew - que eu sei que ora por mim -, o sinal toca e todos que estão do lado de fora da sala entendem como um sinal de que nos livramos ao menos da briga de hoje com a psicóloga de baixa estatura. Então me me apresso em sair dali o mais rápido possível mas percebo um ser vivo me seguindo, então paro por um instante.

- Por que está me seguindo?

- Eu não estou te seguindo, estamos indo em direção à saída - a mesma garota que me infernizou na fila agora está aqui. Ela não para de andar então eu continuo também. - Ou você quer que eu espere vossa majestade ir em bora para eu poder sair também?

- Você não tem mais o que fazer, né? - a impaciência tomou conta do meu cérebro, corpo e alma.

- Claro que tenho... Ir pra casa, e é isso que estou fazendo - ela força um sorriso que sai mais falso que os seios da Nicky Minaj.

- Qual seu nome mesmo? - é melhor saber caso eu tenha que mandar alguém exterminar ela da face da terra.

Estou brincando mas talvez tem uma pitada de verdade nisso.

- Quer meu nome ou meu número de telefone?

- Eu por acaso perguntei seu número de telefone? - eu vou acabar explodindo.

Ela me fita, com olhos muito bem delineados, de uma maneira tão horripilante que pelos do meu corpo que eu nem sabia que poderiam arrepiar fizeram tal façanha.

- Pode me chamar de Savannah... Savannah Clark.

For Fancy Days  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora