seria estranho se eu dissesse que achei isso fofo?

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- Sério? Eu também tenho um Shih Tzu!

E esse é o início da minha desgraça, pessoal. Eu achei que estávamos sem assunto, sem coisas em comum, então acabei de falar que tenho um cachorro que é da mesma raça que o que ela tem. Mas a verdade é que eu não tenho a droga de um Shih Tzu. Mas, tudo bem, esse assunto não vai para frente e logo ambos esquecemos disso.

- Poderíamos ir passear no parque com eles algum dia desses, o que você acha? - Sina pergunta. Não acredito que ela se animou com essa idéia.

Droga!

- Claro, claro! - sorrio pra ser simpático. Por dentro, estou nervoso como se eu fosse o responsável por não deixar uma guerra mundial acontecer.

O papo está legal. Ela é super gentil e engraçada. Até me contou piadas sobre as pessoas que estudam no Now United School. Mas, não sei explicar o motivo exato, sinto que há algo faltando. Sinto que não estou dando meu melhor. E as dicas que Josh me deu sobre sorrir de tudo, elogiá-la e tentar achar algo em comum, me parecem meio vagas agora. Eu não sei o que fazer. Santo Kim Matthew, isso é um pedido de ajuda.

- Eu vi você no dia que levaram os alunos daquela escola pública pra visitar a nossa - ela diz, do nada, após ter sugado um pouco do milk shake que trouxeram alguns minutos atrás. Nós estamos dividindo-o. - Você vai concorrer à bolsa de estudos?

Se eu falar para ela que só estamos aqui porque eu quero essa bolsa de estudos mais que tudo na vida, ela acreditaria? Eu sempre rio disso. Sei que não devia, mas acho graça quando alguém pergunta sobre essa bolsa e eu não posso falar desse grande plano que eu, o branquelo e Any armamos.

- Eu ainda estou pensando sobre esse assunto - minha atuação está ficando tão boa que eu estou quase acreditando no que eu mesmo digo, ou melhor, minto.

- Não tem o que pensar, é uma oportunidade única! - Sina diz, cheia de animação.

Me pergunto se ela é assim todo tempo. Extrovertida, simpática, atenciosa. Não passei tanto tempo com ela mas pude notar essas qualidades que parecem ser predominantes em sua personalidade. Sério mesmo que ela está solteira?

- Eu estou enfrentando um problema quanto a minha mãe. - vou enrolando. - Ela não quer deixar eu participar desse programa... Mas eu quero ir... um dia ainda vamos chegar num acordo.

- Ela tem algum motivo para não deixar você ir? - me surpreende com a pergunta.

Eu também queria uma resposta para isso, senhorita Deinert.

- Anjo, minha mãe não precisa de outro motivo pra fazer da minha vida um inferno, ela já tem um plausível: foi ela quem me pôs no mundo.

- Ela é tão má assim? - as sobrancelhas da garota se juntam.

- Uma vez ela disse que bateria na minha bunda até ela ficar vermelha como um tomate - conto. Esse dia foi definitivamente marcante na minha vida.

Sina sorri. Põe a mão frente a boca e tenta esconder seus dentinhos do mundo. Ela é muito fofa e linda. Ela é... Espera, se juntar as duas primeiras letras do primeiro elogio e as duas últimas do segundo, sai um palavrão. Eu iria fazer uma junção, mas desisti.

- Seria estranho se eu dissesse que achei isso fofo? - Sina pergunta.

Ela deve ser masoquista.

- Sério? - pergunto de volta, sorrindo. Ela concorda com a cabeça. - Uma vez minha mãe disse que, se eu me desse mal num teste de geografia porque deixei de estudar para ir na casa da Shivani, ela me deixaria pra fora de casa por uns três dias. O que você acha?

- E você teve que ficar? - Sina faz um biquinho com a boca antes de falar. Aposto que, como qualquer pessoa normal, ela sentiu pena de mim. Até eu sinto pena de mim mesmo.

- Só um dia e meio. Ela não aguentou me ver sofrer.

- Sério? - a loira-sensacão arregala os olhos. Mas, assim que eu digo que era apenas brincadeira, ela põe a mão no peito e fingi suspirar aliviada. Ela é uma gracinha. - Minha mãe também tem esse problema em querer controlar minhas notas.

- Ah, Josh me disse que você é filha da diretora. Deve ser difícil viver com essa pressão - comento.

- Você nem imagina... - Sina tira os olhos de mim e os põe sobre o nosso Milk Shake. Nosso.

- Mas não é assunto para um primeiro encontro, certo? - quero mudar o rumo dessa história porque está ficando bem triste.

- Tem razão, me desculpe - ela repousa sua mão sobre a minha, que estava em cima da mesa, por alguns segundos e depois tira. Que mão macia, igual a do Josh. - Me fale um pouco sobre você?! Eu passei a noite toda falando sobre mim e quase não deixei você falar. Eu sou mesmo um desastre em encontros.

Mal ela sabe que está se saindo bem melhor que eu. Mas, sério, Josh não me preparou para falar da minha vida mixuruca e sem graça, ele só disse pra perguntar sobre ela. Argh, é tão chato se sentir inseguro.

- Bom, não tem muita coisa interessante sobre mim - aviso de antemão. - Eu apenas leio, estudo, desenho vez ou outra e saio com minha amiga de infância, a Shivani. Como eu disse, não há muito o que falar.

- E onde entra o Josh e a Any nessa história? Eu percebi que vocês são bem próximos - Sina e suas perguntas difíceis de inventar uma resposta na mesma hora.

Estou virando um fanfiqueiro de primeira com tantas histórias que tive que inventar nesse encontro. Basicamente, tudo que envolve esses dois é por causa da Sina, por causa dos nossos planos diabólicos. Não há como falar uma parte verdadeira sequer.

- Eu os conheci nessa lanchonete - começo a mentira que invente tão rápido que até mesmo eu me surpreendi. - No dia, estava muito lotado por aqui, então tive que dividir a mesa com eles. Nos damos bem e nos tornamos amigos desde então.

Eu preferi falar isso porque literalmente nos falamos pela primeira vez lá - claro, se tirar aquele diz estranho da escola. Mas prefiro pensar que não vale. Assim eu não vou me confundir depois.

- Quem sabe um dia nós marcamos de sair, os quatro -  Sina propõe.

- Seria incrível! - concordo. - Talvez assim você não ache tão chato estar comigo, não é?

Meu esporte preferido é a auto-sabotagem hehe.

- É natural que não tenhamos tantos assuntos ainda. Só estamos no primeiro encontro, anjinho. - sua voz doce me acalenta.

Isso quer dizer que não estamos tão ruim assim, não é? Se ela disse que só estamos no primeiro encontro. Quer dizer que vai ter outros, certo? Meio que me animei agora...

- E eu prometo não te deixar morrer de tédio nos próximos, ok? - sorrio e sugo um pouco do meu milk shake com o canudinho de metal.

- Acho que, se levarmos nossos cães, teremos um assunto a mais, não acha? - lá vem ela com essa história de novo. - Aliás, qual o nome do seu?

Qual seria um bom nome para dar a um cachorro? Spike? Não, é muito genérico. Pipoca? Argh, nome de comida também não é legal. Que tal Jason? Eu acho estranho dar nome de gente aos animais, mas ao menos eu posso dizer que é por causa do filme daquele cara do filme de terror. Isso é bem másculo.

- É... Jason - respondo enfim. - E o do seu?

- O nome dela é Natasha - Sina responde, sorridente. Ela deve gostar mesmo dessa cachorra.

- Eu tenho certeza que eles se darão muito bem - afirmo.

Santo Kim Matthew, sou eu de novo. Faça eu parar de mentir porque isso ainda vai me fazer muito mal... Mas, enquanto isso não acontece, mando mensagem pro branquelo perguntando se ele pode sair comigo amanhã para adotar um cachorro. Ele me manda três pontos de interrogação e eu digo que vou explicar tudo depois.

O que eu não faço por essa merda de vaga?

For Fancy Days  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora