eu sinto sua falta, sabia?

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Eu queria entender as pessoas - alguém pode me ajudar?

Eu odeio o fato de Beauchamp me chatear a maior parte do tempo mas, na primeira oportunidade, eu abandonar todos os pensamentos ruins que tenho sobre ele. Estou citando isso porque ele fez eu ter medo dele a tarde inteira por causa daqueles papos e olhares estranhos mas, quando chegamos na casa onde moro ele me abraçou apertado como despedida. Eu odeio admitir que ele tem o melhor abraço do mundo porém é a verdade. Por um instante, quando ele envolve os braços em minha cintura e eu fico tão próximo dele ao ponto de sentir seu cheirinho doce, me permito esquecer tudo o que sei de ruim sobre ele - apesar de não saber muita coisa.

A noite está tão linda que eu queria ficar lá fora com ele por mais alguns longos minutos. Facilmente, eu me encostaria no seu carro e admiraria as estrelas. Seria legal se Josh ficasse calado e não me deixasse com raiva ao menos uma vez. Eu me permitiria esquecer da Any, da Sina ou de qualquer pessoa que tenha ou venha se envolver no nosso plano maluco. Eu daria tudo por esses minutinhos de paz... Mas seria estranho.

- Toc Toc - alguém faz esse barulho com a boca ao mesmo tempo que bate na porta do meu quarto. Eu sei que é Sofya.

- Pode entrar - afirmo.

Ela faz o que eu digo. Sorrio porque ela está carregando meu bebê nas mãos.

- O que está fazendo aí? - a pequena pergunta. Ela se refere ao cantinho do lado da cama que me enfiei, logo depois de chegar e apresentar o mais novo cachorro da família para ela e minha mãe.

- Estou tirando um tempo do meu dia para meditar - não deixa de ser verdade, uma vez que eu queria ler um pouco mas meus pensamentos só estavam concentrados em saber como Sina, Any e Josh se tornaram os melhores exemplos quando se trata de ser interessante.

- Desde quando você faz isso? - Sofya pergunta.

- Desde que eu comecei a fazer -respondo, fazendo birra.

- E quando você começou a fazer? - ela entra na "brincadeira".

- No exato momento que comecei!

- Eu posso fazer isso a noite toda... - ela comenta. O pior é que eu sei disso, então desisto. Sofya sentou em minha cama e está brincando com a cachorra.

- Fala logo o que você quer - peço.

- Eu só passei pra encher sua paciência. É isso que os irmãos mais novos fazem, esqueceu? - os olhos dela se posicionam em mim. Eu também olho no fundo dos seus.

- Você quer que nossa mãe seja presa? - pergunto, sério.

- Quê? Por quê? - ela berra. Fazendo careta. Não acredito que Sofya já esqueceu disso.

- Porque se você falar mais alguma coisa eu vou te bater. E, se eu te bater, nossa mãe me mata. E, se ela me matar, ela vai presa. Você quer que nossa mãe seja presa? - isso nunca vai perder a graça enquanto ela fizer essa afeições estranhas enquanto eu falo.

- Você é ridículo e me dá medo! - Sofya levanta da cama num pulo delicado. - Mamãe está chamando para o jantar.

A noite está tão linda que só consigo sorrir e dizer que já estou indo. Me levanto com dificuldade - adeus vida saudável, olá sedentarismo - e ajeito minha roupa no corpo antes de sair do quarto. Forçado a dar um fim nos pensamentos sobre a escola e os alunos da Now United School que estive tendo, desço as escadas e vou direto para a cozinha.

- Boa noite, mulheres da minha vida - falo. Eu gosto de falar isso todas as vezes que desço para o jantar, mas ultimamente eu não tenho ficado em casa o suficiente para fazer isso com frequência.

- Olha quem resolveu jantar conosco esta noite... - minha mãe comenta.

- Você fala como se eu não morasse aqui - resmungo, indo na pia lavar as mãos. Em seguida, me sento junto a elas em volta da mesa.

- É que ultimamente você tem saído todas as noites e chegado tarde. Eu sinto sua falta, sabia? - mamãe vem com seu drama. Eu já estou acostumado.

- Sei que estive ausente nos últimos... - só falo alguma coisa porque não quero deixar de responder e fazer com que o clima fique estranho. - Eu andei estudando bastante com alguns amigos por causa da bolsa de estudos.

- Ah, você ainda pensa nessa bolsa... - Dona Wendy resmunga ao dar uma garfada no que está no prato e pôr na boca.

E foi assim, pessoal, que o assunto morreu. Não foi culpa minha, não foi culpa da coitada da Sofya... A culpa foi da senhora desprovida de bom senso e esperança para um futuro melhor, que está do outro lado da mesa. Eu não entendo o porquê desse assunto incomodar tanto ela. Nunca mais tivemos uma conversa decente desde que eu contei sobre essa bolsa. Horas atrás todos estavam felizes por causa da chegada do novo membro da família. Minha mãe estava feliz. Por que tudo não pode ser como horas atrás?

Eu queria sair dali nesse exato momento mas, fiquei até o fim do jantar, peguei meu bebê e só então pude voltar para meu quarto.

A noite está tão linda que consigo sentir a paz no vento que surrupia ao entrar pela janela e se choca contra meu corpo. Tento evitar mas, toda vez que chego em casa, tudo que fiz durante o dia surge em minha mente como uma breve retrospectiva. Eu sei que falo constantemente o quanto detesto passar todo esse tempo com o branquelo ou com a Any ou com a Sina, mas quando chego em casa é nisso que penso. Porque assim que fico sozinho comigo mesmo, normalmente à noite e nesse mesmo quarto, percebo o quanto eles são interessantes e legais - dependendo do ponto de vista. Eles são as formas físicas de como eu queria ser.

Me sinto criança. Sim, criança. Um ser inocente e desprovido de habilidades incomuns ou personalidade inigualável, querendo urgentemente uma maneira de se destacar. Me sinto alguém que ainda não se encontrou, que não aprendeu a ser original. Eu queria ser original. Queria ter um traço marcante, uma personalidade forte - ainda que ela não fosse tão legal, como é o caso de Josh. E aquele grupinho do Now United School é assim. Eu não estive incontáveis vezes com eles para ter total certeza, mas já fui espancado por cada traço marcante vindo deles com o pouco contato que tive. Não posso evitar ter esse sentimento que reconheço como inveja.

Mais cedo, Josh veio me deixar em casa depois da tarde estranhamente agradável que tive com ele. Estranhamente. Estranha. Estranho. Hehe. É, essa é a palavra. Tudo é estranho quando se trata de Josh. Eu nunca sei o que esperar. Queria entendê-lo realmente. Tudo que sei sobre Beauchamp são várias informações que vieram de maneira que não se mesclam umas com as outras. Juntas elas não fazem sentido. Eu sei que ele é esnobe, sei que ele já foi punido na escola por fazer alguma coisa que não me contaram, sei que ele conta pra sua irmã as merdas que você fez só porque sabe que ela vai ferrar com sua vida; mas sei também que ele gosta de ajudar. Ele fez isso na primeira vez que dormi na casa dele, quando chegou o dia do encontro, quando precisei adotar um cachorro. Eu queria que fôssemos amigos porque tenho certeza que Josh não é tão frio com os seus amigos quanto é comigo.

A noite está tão linda que, quando volto pro lado da cama no chão do quarto, fico brincando com a cachorra enquanto sinto a brisa leve do vento entrar pela janela. Josh me disse, quando estávamos voltando para casa, que compraria o remédio contra alergia e que eu poderia deixar ela na casa dele por alguns dias, caso eu precisasse. É estranho pensar que eu e ele temos meio que algo que nos une agora. Adotamos um animalzinho juntos, querendo ou não, nós dois temos responsabilidades sobre ela. E quando abandono a cachorra num canto cheio de lençóis e uma caixa de areia e depois deito em minha cama - que ela ainda não pode subir porque só darei banho nela amanhã por causa do frio -, fico pensando: eu e Josh temos um bebê, é isso?!

For Fancy Days  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora