está animado pra hoje?

826 139 139
                                    

Não sei o que esperar de hoje - humor: vontade de cruzar a fronteira com o México só pra fugir do provável constrangimento de hoje.

Apesar de que acordei com alguém lambendo meu rosto, tive mais uma recaída em relação a Josh e caí no banheiro de novo porque estava testando uns passos de dança que vi na Internet; é, estou até bem-humorado.

Beauchamp ficou para tomar café da manhã comigo, a Sofya e minha mãe - que estranhou muito a presença dele por aqui -, mas teve que ir embora em torno das dez horas. Minha irmã e eu começamos a preparar o almoço pois nossa mãe trabalha a semana inteira e só quer descansar nos finais da mesma. Faço o melhor para que o almoço saia bom, única e exclusivamente para que minha mãe elogie - o que deu certo. E quando ela faz o que imaginei que fosse fazer, eu aproveito pra avisar que vou sair mais tarde com alguns amigos. Dona Wendy apenas diz que "tudo bem".

De tarde, jogado no chão do quarto com a Jason, aproveitei pra organizar alguns pensamentos - ou sentimentos - que andei tendo. Sim, isso é sobre Josh. Sobre o porquê de eu ter beijado ele não só uma porém duas vezes. Foi meio difícil pensar nisso enquanto ele estava aqui, mas agora não tenho pra onde fugir.

A verdade é que eu nunca tinha beijado um garoto antes. Eu nem sequer pensei em fazer isso ultimamente, pra ser sincero. Não era algo que eu pensava ou cogitava. Simplesmente aconteceu e é isso que me assusta. Me deixa com medo só de pensar que minha própria mente esconde segredos de mim. Como isso é possível?

Está bem, eu nunca cheguei a ter uma conclusão sobre minha sexualidade - se é que posso usar esse termo. Não sou igual as outras pessoas que deixam a sociedade como um todo decidirem o que é certo e o que é errado por eles mesmos. Eu me mantinha como um livro aberto, disposto a experimentar. Mas, putz, eu não imaginava que isso iria acontecer realmente. E, muito pior, com o Beauchamp. Logo o branquelo. Que me faz raiva, que faz brincadeira de mal gosto o tempo todo, que se acha melhor do que eu só porque tem mais dinheiro. Eu simplesmente não entendo.

Não entendo porque, ontem à noite, eu via seus lábios se movimentarem enquanto ele falava e ficava imaginando qual era o gosto deles. Não entendo de onde eu tirei coragem para finalmente prová-los e descobrir que são macios e - por incrível que pareça - tinham um gostinho de cranberry. E não entendo como eu gostei tanto ao ponto de querer mais na manhã seguinte.

Ah, a manhã seguinte... Quando eu estava com vergonha por causa da minha ereção matinal mas, mesmo assim, fui brincar de provocá-lo e que, além de mais um beijo para nossa coleção, eu pude sentir que ele também acordou com o mesmo probleminha. Um probleminha grande, eu diria. Não foi algo planejado, sabe? Quando vimos, minha mão já estava envolta da sua cintura e seu amiguinho de baixo roçando na parte de trás da minha coxa.

Todas às vezes que a Jason latiu hoje, meu cérebro automaticamente fazia meu pensamento me teletransportar para o que aconteceu hoje de manhã. Ela latiu quando eu e Josh estávamos nos beijamos e foi isso que nos tirou do nosso transe. O Beauchamp tirou os lábios do meu, desceu um pouco, sorriu contra meu pescoço e fez eu me arrepiar todinho. Meu bebê assistiu tudinho do começo do meu fim.

E é engraçado pensar que eu adotei a Jason por causa da Sina mas ela sempre me lembrar o branquelo hehe. E por falar na loira-sensação, o que vai ser daqui pra frente? Do nosso plano? Será que muda alguma coisa? Isso não estava nos meus planejamentos. É claro que eu não vou sair falando pra todo mundo sobre isso mas, retardado do jeito que sou, já tô imaginando eu falando o nome do Josh ao invés do dela num momento íntimo nosso. Estou prevendo merda já.

Fecho os olhos e só consigo respirar fundo três vezes antes do meu celular tocar. É o alarme sinalizando que já são quatro da tarde e tenho que me arrumar porque o Beauchamp passa aqui às cinco - já com a Sina e a Any no carro. E o destino? Vamos fazer uma mini viajem até o Píer de Santa Mônica. Fica mais ou menos uma hora daqui de Los Angeles mas eu não vou lá desde criança, então fiquei super animado por poder ir de novo.

Aproveitando que peguei no meu celular - o que raramente acontece -, abro a câmera para tirar uma selfie com a Jason pra postar nos stories do Instagram. Tenho feito muito isso ultimamente, ou pelo menos mais do que antes. Atualizo minhas redes sociais com fotos minhas ou memes sempre que posso ou lembro. Não tenho muitos seguidores, como eu vi que o Josh tem, mas não me importo. Gosto de ver os rostinhos conhecidos interagindo comigo quando posto algo.

Largo o celular, tiro a roupa, enrolo uma toalha na cintura e enfio-me no banheiro. Dessa vez eu não tento fazer passo de dança algum porque sempre dá merda e tudo que eu menos preciso é aparecer no passeio de hoje mancando ou com rosto inchado por ter caído no banheiro. Assim que termino tudo por lá, volto para o quarto e começa minha luta diária pra ficar apresentável para as pessoas do mundo lá fora. Separei meu jeans de cor desbotada - pois amo esse estilo meio vintage - e uma camisa azul com listras pretas - ou preta com listras azuis, vocês decidem - mais cedo, então me visto sem nenhuma pressa.

Está tudo muito silencioso, então pego meu celular para pôr uma música dançante. Contudo, no meio do processo, recebo uma notificação. Uma mensagem. Uma mensagem de Josh. Abro o Direct do Instagram e encontro sua resposta ao storie que postei agora a pouco. "Meus dois bebês" foi o que ele disse. Eu sorrio involuntariamente. Odeio tanto que amo esse jeito do branquelo de ser o garoto mais chato do mundo em certos momentos mas, em outros, é fofo e gentil. Esse garoto é um verdadeiro enigma.

"Seus? Kkkkk nem em sonho" é o que respondo ao Beauchamp. Em seguida, vejo o horário e me dou conta de que não dá tempo para música alguma. Já são quase cinco horas, o que significa que tenho que ir lá pra fora esperar pelo branquelo, a mulher maravilha e a loira-sensação. Dou uma última arrumada no cabelo e na roupa, passo bastante perfume e calço meu All Star velho assim que chego na sala.

- Se eu fosse outra pessoa, iria dizer que você está lindo... Mas não sou esse tipo de irmã - o comentário de Sofya me faz sorrir.

- Você quer que nossa mãe seja presa, Sofya? - pergunto, calmo, contendo o sorriso desde já.

- Ai, meus deus, o que foi dessa vez? - ela resmunga ao tirar sua atenção da TV e concentrá-la toda em mim.

- É que você está sendo muito fofa e, quando você faz isso, eu sinto vontade de te encher de beijinhos. E, se eu te encher de beijinhos, você vai me bater. E, se você me bater, eu vou te bater de volta...

- Aí nossa mãe te mata, vai presa e eu fico sem ninguém. Tá, tá. Eu lembro disso aí - Sofya revira os olhos mas não consegue conter o sorriso.

Não digo "tchau" pois não curto despedidas, apenas saio como quem vai ali e já volta. Um vento frio bate contra meus braços nus, me causando arrepios, e é estranho, já que está calor. Respiro fundo, sinto cheirinho de lar, o ar fresco enche meu pulmão, me traz vida. O céu de início do fim de tarde é o melhor de todos aqui em Los Angeles pois sempre começa numa coloração alaranjada, aos poucos vai se tornando roxo e logo chega no tom azul escuro tão desejado pelas estrelas que, por sua vez, surgem magníficas pra abrilhantar tudo e todos.

Não sei ao certo quantos minutos depois eles chegaram, só sei que chegaram e chegaram com tudo. Fazendo meu peito disparar. Dentro do carro espaçoso há a garota que briguei, a que devo conquistar e o cara que beijei essa manhã. Sinceramente, nem sei o que esperar disso.

- Está animado pra hoje? - é Beauchamp quem pergunta, todo sorridente.

- Eu estou mais que animado - respondo, tirando meus olhos dos lábios rosados do branquelo e posicionando nos olhos verdes e cativantes da Sina.

Eu definitivamente não estou. Porém prefiro me enganar ao dizer que sim. Mas estou com medo. Porém quero ir do mesmo jeito. Mas tenho medo de tudo dar errado. Mas não paro de querer cair na tentação.

Quer saber, vou só me jogar e ver no que dá.

For Fancy Days  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora