como assim "você lembra"?

739 130 184
                                    

Não quero criar expectativas para hoje - é isso e pronto.

"...Sim, sim. Ele ainda está aqui"."Ele dorme como um anjinho". "Sim, minha noite foi muito boa". "Não, meu deus, é claro que nós não fizemos isso". "Eu sei o que eu disse". "Só porque eu quero fazer, não significa que ele quer também". "Nós não estamos nesse nível ainda". "Yoon, eu não...". "Para de drama e me deixa falar". "Sim, eu realmente quero um relacionamento de verdade dessa vez". "Meu deus, só porque você não encontrou a pessoa certa pra você ainda, não quer dizer que eu seja bobo". "Quer saber, eu vou desligar". "Vou sim... Eu vou desligar". "Bye, bye, bye, bye, bye. Te amo".

Eu sei que é errado, mas escutei isso logo que acordei. Josh estava sentado na beira da cama, falando com alguém no telefone. Eu não sei quem é, e nem sobre o que estavam falando. Mas, definitivamente, foi estranho. Encolhido debaixo dos lençóis da cama, fiquei imóvel, escutando o fim da conversa. Mais uma vez, eu já sei que é errado então não me julguem.

Estive tentando entender meus sentimentos. Achei que, se eu juntasse certas sensações e comparar com o que sinto por uma certa pessoa, encontraria uma resposta plausível para o que realmente é sentir o amor. Porém, isso me fez questionar se eu já amei alguém de verdade. Sou novo. Eu sei realmente o que é o amor? Está na cara que não posso ter um raciocínio com base nos filmes de romance adolescentes pois são todos uma farsa. São fáceis demais, objetivos, supérfluos. E eu queria que fosse assim. Que olhar suas bochechas coradas e seu sorriso escancarado logo pela manhã fosse o suficiente para me trazer total felicidade.

- Como foi o banho? - me perguntou, sorridente, quando nos encontra-mos na cozinha. Algumas pessoas dizem que a Aurora Boreal é o fenômeno mais bonito que ocorre na Terra... Isso porque nem todo mundo viu ainda a forma como ele sorri.

- Foi ótimo - respondi. - A água estava quentinha.

Se há algo que os filmes não mostram é que o mundo não para porque você está apaixonado. Ele continua girando, te traz novidades, medos. Então, definitivamente não, não posso parar toda a minha vida porque de repente eu encontro alguém que pela primeira vez agrada minhas necessidades, tanto físicas quanto psicológicas. Eu sei, pode até parecer que eu estou maltratando a mim mesmo, porém não vejo assim. Estou apenas adiando minha felicidade.

- Você ficou ótimo nessa roupa - eu disse como quem não quer nada. Teu jeito despojado e elegante ao mesmo tempo me encanta.

- Isso é mais que um elogio pra mim, se vem de você - segredou-me. Ainda ganho um beijo na bochecha como quem recebe um prêmio por ter dito ou feito algo bom.

Ele disse que gostava de mim duas vezes ontem. Eu queria não ter gostado disso, queria mesmo. Porém gostei. Mas isso não será o suficiente para tirar meu foco do meu real objetivo. Quero conseguir a bolsa naquela escola a qualquer custo. Eu entro na Now United School e meu maior problema sumirá. Daí, claro, eu posso dar um jeito nos meus sentimentos. Quem sabe eu até queira ficar com alguém. Pode não ser com Josh, se ele não estiver disposto a esperar, porém existe mais de sete bilhões de pessoas na Terra.

- Noah, mais cuidado ao atravessar a rua - me pede.

- Esse carro não é doido de me atropelar - grito, propositadamente, para que o motorista do Jeep cor de merda de cavalo escute. - Eu estou na faixa!

- Você é louco - Beauchamp vem correndo atrás de mim.

Eu não quero passar o meu dia esperando mensagem de alguém, não quero ficar triste por não ter a atenção que desejava. Por isso eu tô cuidando da minha mente e do meu corpo, aprendendo a gostar de estar só, para nunca ter de mendigar afeto. Não tenho tempo para isso. Mas, sei lá, Beauchamp tem algo... Que me faz questionar tudo isso.

- Fazia tanto tempo que eu não vinha aqui - Josh fala quando dobramos na rua da padaria. O lugar fica, basicamente, no caminho entre a minha casa e a dele.

- Eu costumava comprar aqui também - demoro um pouco pra falar.

- É, eu lembro - ele comenta.

O engraçado é que eu não me recordo de ter contado isso a ele. Estreito os olhos e vou atrás de Beauchamp.

- Como assim "você lembra"? - questiono, no intuito de tirar essa história a limpo

- Eu via você algumas vezes - me diz ao entrar no local. - Você até me desejou bom dia uma vez. Lembra disso?

- Acho que sim.

É mentira. Definitivamente, não lembro de nada disso.

- E por que você parou de vir? - pergunta como quem não quer nada.

Josh para em frente a sessão de bolos, cada um mais bonito que o outro. Parece até os integrantes da One Direction. Sim, sim. Aquele é o Harry, aquele é o Louis...

- Porque Sofya passou a ter idade o suficiente para poder vir sem companhia - afirmo. - Eu sempre acordo tarde e ela sempre acorda cedo. Meio que juntamos o útil ao agradável.

- Hm - Beauchamp resmunga sem tirar os olhos da vitrine.

Assisto ele pedir a atendente que separe uma fatia do bolo Red Velvet para levar pra casa. Josh parece estar de bom humor. Digo isso a julgar pelos seus beijinhos frequentes em meu rosto, pelos seus sorrisos distribuídos aos sete ventos como eu nunca vi. Isso me faz sorrir também. Quando Josh me abraçou por trás, quando andamos de mãos dadas de uma esquina até a outra numa rua vazia, eu fiquei surtando... Não por qualquer outro motivo, mas porque é inusitado. O que poderia acontecer de tão bom para deixar o branquelo chato todo sorridente assim?

- Você vai querer o quê, meu bem? - ele se vira para mim de repente.

- Ahn... E-Eu não sei - gaguejo. Talvez pelo susto.

- Eu recomendo esse de chocolate com amendoim encima - Josh aponta para um dos bolos.

- Então pode ser - falo, praticamente com ele e a atendente ao mesmo tempo. Irra, vou ganhar o Zayn.

- E, quanto a bebida, você vai querer o que? - me pergunta.

- Você já está pensando em beber a essa hora? - questiono.

Ele me olha por uns dez segundos antes de falar:

- Tem chá lá em casa, se você quiser.

Sorrio por entender do que Beauchamp estava falando agora.

- Eu não gosto de chá - afirmo.

- Quem é que não gosta de chá? Chá é vida - mostra sua indignação.

- Vida? - repito. - Chá é só uma sopa de folhas.

Ele revira os olhos.

- Então escolhe alguma coisa aí - me empurra o cardápio que estava encima do balcão.

- Hm... - resmungo enquanto passeio com o olhar pelo cardápio. - Posso pedir um cappuccino?

- Depende de quanto vai custar - me diz. Essa frase é estranha vindo dele então desisto do pedido.

- É caro, deixa pra lá...

- Ai, meu deus, Noah. Eu estava brincando - Josh bate em meu ombro. Queria dizer que foi fraco mas acho que deslocou. Santo Kim Matthew, tá doendo aqui, oh.

Passo a mão em meu ombro para aliviar a dor, assisto a moça separar minha fatia de bolo - que parece tão gostosa quanto a bundinha do Beauchamp que eu ousei apertar ontem a noite quando ele dormiu primeiro - e saímos assim que pagamos a conta no balcão. Estou sem expectativas para hoje pois criei várias ontem e algumas foram supridas, outras não, outras superaram a expectativa... Enfim, o importante é que vou apenas deixar rolar hoje.

E sabe por quê? Porque sempre quero fazer algo novo quando estou com Josh. Ele é minha caixinha de surpresas.

For Fancy Days  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora