vai precisar de uma respiração boca-a-boca?

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Eu não me sinto desconfortável - porém há algo estranho.

Não sei afirmar o que houve com exatidão. Eu apenas fiz aquela pergunta aleatória e Beauchamp fugiu como se eu tivesse o encurralado. "Do que você se arrependeria de não ter contado a alguém", eu perguntei e ele inventou uma desculpa para sair dali, trocou de assunto, ficou indiferente mas sempre simpático comigo. Sei que há algo... Mas não quero perguntar e correr o risco de ficar um clima estranho entre a gente. Não no nosso final de semana juntos.

- Você vai querer ir embora hoje ou quer passar a noite aqui? - me pergunta ao se aproximar.

Estamos na piscina. Ou, pelo menos, Josh está nela. Eu apenas estou sentado na beirada com um de seus shorts de malha fina - que eu peguei emprestado porque sim - enquanto brinco de fazer ondas na água com os pés.

- Eu não sei - repondo sincero.

Ele apóia seus braços na minha coxa e se enfia entre as minhas pernas. Reclamo de início mas sei que ele é teimoso e não vai sair, então desisto.

- Você não sabe se quer passar a noite sozinho ou com alguém incrível que pode te esquentar e te fazer carinho? - o convencido tem um tom irônico. - Não vou julgar, eu também teria dúvidas a questão tão difícil.

- Você é muito engraçadinho - digo. Estico minha mão para tirar o cabelo de seu rosto. - Mas isso não depende de mim.

- E de quem mais dependeria? - tomba a cabeça para o lado.

- Da minha mãe - afirmo, prontamente.

- Você sabe que isso não é verdade - Josh bate de leve na minha coxa. - Se pedir com jeitinho, ela deixa você passar o mês inteiro aqui.

- Eu não sabia que você conhecia minha mãe tão bem. Vocês estudaram juntos no colegial? - brinco.

- Estou dizendo isso porque é o que normalmente acontece - Josh está mexendo na ponta do meu short. - Normalmente, os filhos sabem como convencer suas mães a fazer qualquer coisa.

- De qualquer forma, eu não ficaria aqui por um mês nem se minha mãe deixasse - digo, apenas para provocá-lo.

- Tem medo de gostar e não querer mais ir embora? - o modo como levanta as sobrancelhas e fecha a boca bem devagar faz soar bem mais provocativo do que já é.

- Eu tenho medo de não me segurar e acabar te matando enquanto você dorme - dou um peteleco no meio de sua testa.

Beauchamp se afasta de mim e, em seguida, passa a sair da piscina.

- Já imaginei você acabando comigo na cama várias vezes, mas essa é novidade - ele comenta quando já está de pé na beirada.

- Josh??? - praticamente grito. Quando ele vai parar de ser assim? - Você tem que parar de ter esse pensamentos impróprios comigo.

- Vem me fazer parar - ele, afrontoso, pede.

- Não me faça ir até aí - ameaço.

E com o simples comentário "quero ver se você consegue me pegar", traçou-se uma corrida - uma guerra, na verdade - envolta da piscina. Eu correndo atrás desse corno com todo cuidado para não cair e ele fugindo para não apanhar. Talvez seja meio infantil da nossa parte, mas quem não ama uma civil war, não é mesmo?

Depois de umas cinco voltas, eu cansei de correr e quis fazer ele parar de outro jeito. Pensei em jogar a churrasqueira elétrica que tava ali no canto, mas seria pesada demais. Pensei em jogar uma cadeira, mas tive medo de quebrar a coitada. Então optei por um simples chinelo que encontrei no chão. Joguei e acertei, bem na costa do branquelo chato. A consequência? Bom, aí ele começou a correr atrás de mim. Isso é terrível porque Josh sempre ganha de mim nessas nossas corridas.

Minha motivação era saber que se ele me pegasse iria fazer cosquinhas, tenho quase cem por cento de certeza, e é tudo que eu menos quero. Então foquei o máximo que pude pra me manter com ar, principalmente, e com velocidade. E lá estávamos nós, envolta da piscina, fazendo um remake de velozes e furiosos numa versão sem carros caros e sem mulheres desprovidas de roupas quando, DO NADA, a Jason aparece na minha frente. Sem pensar duas vezes, parei no mesmo instante. Porém, todavia, entretanto, o Josh não. Então nos chocamos e caímos piscina a dentro.

Daí água e mais água. Meu completo desespero. Acompanhei o céu ser dominado pela textura, até se tornar turvo. Gritei de início, mas logo não tinha mais ar para isso. Surtei. Eu não sei nadar. Não é um treinamento. Eu definitivamente não sei nadar. Merda, não há nada que eu possa me apoiar. Eu quero sair. Alguém me tira. Não quero morrer. Eu tenho que viver pra ganhar a bolsa. Ainda tenho que beijar Beauchamp mais uma vez. Alô, Santo Kim Matthew, eu preciso de ajuda. Eu não quero morrer!

O ruim de quase morrer é pensar demais. Em tudo. O que fez e o que não fez. Os arrependimentos vêm à tona. Tudo parece uma perda de tempo. Não existe mais esperança. No meu caso, ela se afundou junto comigo. E eu me entregaria de vez se não sentisse um braço envolta da minha cintura e um impulso me levando pra cima. Amém, Beauchamp, nunca critiquei. Glória, glória, aleluia. Daí o rosto preocupado de Josh me encarando.

- Você está bem?

Eu tenho cara de quem tá bem? Eu tô sem ar! Eu não quero mais ficar aqui! Eu quero te beijar! Eu pareço bem? Você me salvou! Obrigado! Obrigado! Obrigado! É claro que não estou bem!

- Noah, fala alguma coisa?! - ele insisti.

Respiro fundo.

- Sim, sim - então jogo meus braços envolta de seu pescoço e o abraço forte. - Obrigado por me salvar.

- Eu nunca deixaria você afundar - diz contra o meu ouvido.

- Eu não sei o que seria de mim se você não estivesse aqui - me afasto para olhar em seus olhos.

- Você estaria muito bem - afirma, apertando mais a minha cintura contra seu corpo. - A culpa é minha por fazer você correr envolta da piscina.

- Não diga isso - peço. Não quero que ele se culpe por isso. - Eu já estava vendo uma luz vindo em minha direção e você me salvou da minha morte.

Ele sorri.

- Para de drama, Noah, você só ficou lá por uns dez segundos - Beauchamp tenta fazer com que eu fiquemos em uma posição confortável. Eu enrolei minhas pernas nele quando vi que estávamos no meio de toda essa água.

- Não me chama de dramático, eu acabei de ter uma experiência de quase morte - eu bateria nele se minha vida não estivesse dependendo dos seus cuidados no momento.

- Mesmo? E vai precisar de uma respiração boca-a-boca? - ele vem com mais uma de suas propostas indecentes.

Até que não é má idéia.

- É, talvez eu precise de um tratamento especial... - falo, manhoso.

- Mesmo? - Josh aproxima sua boca da minha.

- Uhum.

E cá estamos nós de novo. Caindo em tentação, pecando. Seus lábios finos, sua língua quente, seu jeito despretensioso. Eu nem tinha percebido sua mão em minha bunda até sentir Beauchamp apertar sem dó. Paro para respirar um pouco, apesar de ficar sem ar ser por um motivo muito bom dessa vez. Eu gosto disso. Não deveria, mas acho incrível a capacidade que ele tem de reacender todo o sentimento que mantenho adormecido aqui dentro. Você chega e faz o meu coração vibrar, mesmo quando não posso senti-lo mais dentro de mim. Seguro seu maxilar para mais um beijo. E outro, depois outro e, em seguida, mais um. Eu queria que isso durasse para sempre.

- É incrível como você sempre faz minha espera valer à pena, Urrea - sussurra ofegante em certo momento quando separa sua boca da minha.

Isso é bom, não é, Beauchamp? Pra falar a verdade, nem eu entendo porque demoro tanto.

For Fancy Days  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora