não se sinta pressionado, okay?

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A felicidade é só mais uma emoção ruim. Sim, é o que eu acho. Porque, quando estamos felizes, ficamos pensando que não durará para sempre e isso nos corroe. Nos traz raiva. Raiva por perceber que, quando a felicidade passa, é porque uma chuva de sentimentos ruins vem. As coisas são incertas nessa vida, mas essa é uma das poucas coisas que nunca falham e sempre se mostram presentes.

- E eu achando que você tinha ciúmes de mim porque sou sua irmã mais nova - ela solta uma gargalhada. Eu queria me jogar desse carro agora. - Eu estou chocada, não esperava isso de você. Ou sim... já que você nunca teve namorada.

Isso mesmo, é Sofya pensando alto. Bem alto. Feliz porque descobriu meu maior segredo - ou segundo maior, dependendo do seu ponto de vista. Eu ainda não sei quais são suas intenções, mas não devem ser as melhores. Senhor, se ela contar pra mamãe eu vou morrer. Ela vai me matar. Ai, acho que eu vou me jogar desse carro e adiantar o trabalho. Eu quero chorar. Posso, produção?

- Nossa isso é perfeito. Agora eu posso chantagiar vocês dois o quanto eu quiser - ela sonha acordada.

Sofya está meio aérea assim desde que viu eu e o branquelo nos beijando na sala de estar da casa dele. No começo, achei que fosse o choque e ela estivesse processando as informações, mas percebi que na verdade o pequeno menstro está é tramando algo. Por isso eu quis vir para casa o mais rápido possível, quero que ela não fique nem mais um segundo próximo ao Beauchamp. Agora não pelo motivo de antes, mas porque essa informação já basta por hoje e, se conheço bem o Josh, ele vai sair contando tudo da minha vida se ela perguntar.

Pelo retrovisor, assisto sua mão tentando tampar o sorriso enorme. E se eu pular no pescoço dela e a estrangular até a morte, Beauchamp me ajudaria a esconder o cadáver? Aliás, por que ele está tão calmo com essa situação? Ah, claro, não é o pescoço dele que está em jogo. Que ódio, eu vou pular do carro.

- Vou começar dizendo que quero uma maleta de maquiagem. Não, não. Livros. Não, a maquiagem é melhor... Argh, tem esmaltes também - vai falando como quem não quer nada. - Tá anotando, Josh?

Quê?

- Estou - ele responde.

Quê?

- Meu deus, você não vai extorquir ele com essa informação, Sofya. Eu te proíbo! - tento olhar pra ela quando grito isso, mas o sinto de segurança não deixa.

- Por falar em proibir, você nunca mais vai me proibir de ver ninguém - a escrota não dá a mínima importância ao que eu disse. - Eu até fiquei calada antes porque achava que você estava sendo protetor, mas agora que descobri que isso era por causa dele e não por mim, não ouse fazer novamente.

- Criatura, aceita, eu não vou ser chantageado por você - afirmo. - Josh, me ajuda aqui.

- Não há muito o que fazer - ele me olha por alguns poucos segundos e depois para estrada novamente. - Ou é isso, ou ela conta pra sua mãe. Você está pronto para isso?

O encaro. Parece que estou numa caixa. Estou cercados por todos os lados. Me faltam alternativas, me faltam saídas, me falta ar. Santo Kim Matthew, me falta ar. Acho que, se não tivéssemos acabado de chegar em casa, eu morreria sobre o banco de couro desse carro. Só quero me deitar e com sorte nunca mais acordar.

- Ei, espera aí vocês dois - Josh fala, chamando a minha atenção e a de Sofya pois já estávamos abrindo a porta do carro para ir embora. Ambos paramos instantaneamente. - Você! - ele aponta para minha irmã. - Está certa de que não vai contar nada, não é?

- Sim - confirma, balançando a cabeça.

- Sério que você vai acreditar na palavra dela? - questiono. Eu conheço a praga como ninguém.

- Se ela não cumprir sua parte do acordo, vai ficar sem os mimos e... - o branquelo faz uma pausa dramática. - E eu ainda vou passar por cima de você com meu carro quando você estiver indo para a escola.

- Credo, Beauchamp, ela ainda é minha irmã! - berro. Acho que acordei a vizinhança com o grito.

- Eu sei - me diz, com uma afeição séria. - Mas medidas duras precisam ser tomadas quando alguém é um x-9.

- Meu deus, pra quê tanto drama? Eu já disse que não vou dizer nada - Sofya dá um ponto final nisso tudo. - Minha boca é um túmulo.

- Um túmulo é pra onde você vai se não se manter calada.

Senhor, alguém para essa criatura.

- Okay, se tudo está resolvido, vamos indo... - vou me despedindo, antes que fique tudo mais estranho e assustador por aqui.

- E onde está meu beijo? - Josh pergunta. Ele levanta a mão para tocar o dedo indicador em sua bochecha várias vezes, determinando o lugar do beijo.

- Você não está merecendo - abro a porta do carro e vou saindo de uma vez.

- Espera! - ele segura meu braço e eu acabo batendo minha cabeça na parte de cima do carro por conta do susto.

- Você está doido?! - literalmente grito. Ai, senhor tomara que eu não leve tiro dos vizinhos por estar gritando na rua a essa hora.

- Eu preciso conversar com você a sós - Beauchamp fica olhando para mim, mas a indireta foi no peito da Sofya.

- Okay, entendi - ela, que estava apenas parada e nos olhando, fecha a porta de trás do carro e sai andando em direção à casa. Tomara que um meteoro caia em cima dela no meio do caminho.

- O que você quer? - pergunto, passando a mão na parte da cabeça que eu bati enquanto volto a sentar no banco do carona. Aqui cheira a dinheiro.

O branquelo me olha por algum tempo. Não vejo emoção alguma em seu rosto. Ele não parece estar triste por alguém ter descoberto nosso relacionamento que malmente começou, nem feliz como eu achei que possivelmente poderia ficar. Há apenas um Josh me fitando como se nunca tivesse me visto antes e logo de cara se apaixonou por minha fisionomia ainda que não seja bela. Perdido dentro dele próprio, eu diria.

- Você sabe que eu estou fazendo isso por você, não é? - pergunta. - Pra que você não fique preocupado.

- Como eu não vou ficar preocupado, sabendo que minha irmãzinha mais nova é uma vigarista - aponto para o meu próprio peito.

- O importante é que você vai ter tempo para criar coragem de contar para sua mãe ou resolver de alguma outra forma - diz, baixinho, se aproximando.

Eu não quero ter de falar sobre uma coisa que eu nem sei se existe. Isso me incomoda. Aliás, tudo está acontecendo rápido demais. Onde está meu período de "lua de mel"? Nem tive os bons momentos de um relacionamento e já estou na parte dos problemas, tudo já está se deteriorando.

- Eu vou tentar dar um jeito nisso - prometo, ainda que eu não tenha a mínima idéia de como.

- Não se sinta pressionado, okay? - Beauchamp se estica para dar-me um beijo rápido na bochecha. Mas não se afasta. Fica do meu ladinho, segurando meu ombro direito. E isso é bom. Sentir que tem alguém querendo cuidar de você, é uma sensação incrível. - Leve o tempo que quiser e eu ainda estarei aqui.

- Eu sei... E eu te amo por isso.

For Fancy Days  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora