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"Good friends, good books, and a sleepy conscience: this is the ideal life."
- Mark Twain

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Algum tempo se havia passado. Cerca de uma semana.

Jimin tinha estabelecido um laço estranho e repentino de amizade com a outra ómega.

Marjorie pediu-lhe, insistentemente, que não comentasse o seu género com absolutamente mais ninguém. O desespero da jovem enterneceu o loiro, que assentiu.

Antes de acabarem toda a visita ao laboratório, o ómega pediu à bióloga que trocassem números, para que pudessem manter o contacto. Ela viu o acto como um gesto de pena e sentiu-se ligeiramente ofendida. No entanto, tinha-lhe revelado coisas que não devia, e achou por bem manter aqueles com informações sensíveis sobre ela por perto.

E, de qualquer das maneiras, ele não era uma pessoa desagradável. Era muito simpático, extrovertido, e possuía uma atitude meia adolescente perante a vida. Por causa desta última característica, tinham iniciado uma relação de pseudo-amizade por sms.

E era muito engraçado.

A rapariga encontrava-se agora sentada no seu sofá. Alguma coisa estava a dar na televisão, mas ela não assimilava o que era; apenas a tinha ligado para ter barulho de fundo. Viver sozinha dava cabo do seu espírito, mas ela estava a aguentar-se bastante bem no último ano e meio.

Os efeitos da sua lua começavam a fazer-se sentir: calores rápidos e súbitos que a faziam suar, seguidos de períodos gélidos, onde a jovem batia ao dente e sentia que poderia entrar em hipotermia. Apesar de não soar agradável, ela sabia que isto era a amostra suave do que estava por vir.

Já havia pedido a semana para trabalhar em casa. Ela fazia sempre isso. O chefe não se importava muito; ela era a arma secreta da empresa e nunca desiludiu, nem só uma vez. Podia dar-lhe a liberdade de trabalhar em casa de vez em quando.

Marjorie sobressaltou-se com o barulho irritante do seu telemóvel. Tlim!

Outra mensagem.

Jimin: Esta semana podíamos ir almoçar, queres?

Marjorie: Não vou conseguir. Vou trabalhar de casa esta semana.

Ela carregou no enviar e, quase imediatamente a seguir, sentiu um arrepio subir-lhe pela espinha.

Levantou-se e foi andando pelas divisões da casa, ligando um vaporizador com aromatizantes em cada uma.

Durante o período da lua, a ómega não conseguia controlar o seu próprio cheiro e a maneira como era libertado. Apesar de viver num prédio alto, perto do último andar, o medo de algum alpha sentir o seu aroma gelava-lhe a alma. Faria de tudo para mascarar o odor.

Tlim!

O telefone de novo.

Jimin: Porquê?

A rapariga debateu-se sobre se devia ou não contar a verdade. Decidiu não o fazer diretamente. Se ele chegasse à conclusão sozinho, tudo bem. Mas ela não o diria com todas as palavras.

Marjorie: Porque esta semana não vou mesmo conseguir ir à empresa.

Enviar.

A rapariga pensou um pouco; achou engraçada a ideia de mandar um emoji como dica.

Marjorie: 🌙 (lua)

Enviar.

Agora começava a sentir-se afobada. O calor a subir-lhe pelo corpo, as bochechas a corar e a roupa a fazer-se sentir mais pesada a cada segundo. Foi à cozinha buscar um copo de água fria. Bebeu-o de um gole.

kadaici wolfOnde histórias criam vida. Descubra agora