1 - Grace

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Rafaella Kalliman fez a curva fechada do retorno e pegou o caminho que levava à pequena cabana na montanha, praguejando por cair em todos os buracos da estrada. Seu sangue fervilhava de raiva e impaciência, mas a expectativa de finalmente encontrar Bianca Andrade, depois de uma busca exaustiva para localizá-la, impedia que seu humor azedasse por completo. Bianca era a única esperança para a irmã dela, Manu. Se isso fosse possível. É claro.

Assim que soube que Manu havia sido sequestrada, Rafa começou a procurar por Bianca. Certamente, ela não era alguém a quem a maioria das pessoas recorria primeiro quando estava desesperada procurando um ente querido, mas Bia era sensitiva e já tinha ajudado a encontrar vítimas de sequestro no passado. Embora muitos fossem céticos, Rafa acreditava totalmente nessas habilidades, porque, na verdade, sua irmã também era sensitiva.

Ela sempre foi muito protetora com Manu, mas por uma boa razão. Rafa era a herdeira de um império e a segurança da sua família sempre viria em primeiro lugar, mas nem em seus piores pesadelos, a família iria vivenciar algo assim. Nunca houve pedido de resgate, apenas um vídeo que mostrava Manu amarrada pelos pés e pelas mãos e, ao fundo, a risada louca do sequestrador, ao dizer para Rafa mandar um último beijo de despedida para a irmã. Ela apenas pedia a Deus: "Não deixe que seja tarde demais para minha pequena".

A loira estava enfurecida por Bianca simplesmente ter desaparecido do mapa havia três meses. Não existia nenhum sinal dela, nenhum endereço para contato. Aliás, não havia nenhuma prova de que ela ao menos existia.

Como alguém podia sumir daquele jeito quando representava uma ajuda tão valiosa para encontrar vítimas de sequestro e pessoas desaparecidas? Não seria egoísmo da parte dela simplesmente se recusar a ajudar os outros ao ficar incomunicável daquela maneira?

Rafaella estava em um estado de fúria inimaginável quando finalmente parou o carro em frente à pequena cabana, que parecia não ter condições de resistir a um simples vento. Ela nem tinha certeza se lá havia eletricidade. Somente uma pessoa que desejasse muito não ser encontrada, decidiria morar em um lugar daqueles. Ela saiu do carro e caminhou rapidamente até a porta da frente, que estava caindo aos pedaços. Começou a bater com o punho fechado na madeira, que rangia e estalava com a força das batidas. Em resposta, somente o silêncio, o que começava a fazer sua pressão sanguínea ir às alturas.

— Senhorita Andrade, abra esta porta agora! — Ela disse exasperada, deixando a educação que recebeu de lado.

Ela bateu de novo, gritando para que a outra respondesse. A mais velha provavelmente estava se parecendo com o louco que tinha capturado sua irmã, mas àquela altura ela não se importava, já havia ultrapassado o desespero. Tinha usado todos os recursos disponíveis para conseguir localizar Manoela e não havia a menor chance de ela sair dali sem a informação que estava procurando. Nem que para isso tivesse que arrastar a outra pelos cabelos. Ela não era adepta a agressão, seja ela qual for, mas o caos que se instalou na sua casa estava ultrapassando níveis que ela nunca imaginou.

Então, a porta se abriu, e ela foi recebida por uma mulher decidida, com olhos castanhos e desconfiados. Por um momento, ficou desconcertada, e permaneceu em silêncio enquanto olhava para a mulher a sua frente, pessoalmente, pela primeira vez. As fotos que havia visto dela não lhe faziam justiça. Ela tinha um ar sensível, como se estivesse se recuperando de uma doença, mas isso de forma alguma diminuía sua beleza. Ela parecia... frágil. Por um breve instante, ela se sentiu culpada pelo que iria pedir, mas deu de ombros. Nenhum preço era alto demais quando se tratava da vida da irmã. Nada valeria mais do que achar sua irmã.

— Eu não posso ajudar você. Vá embora, por favor.

Aquelas palavras foram pronunciadas com tal suavidade que soaram delicadas aos ouvidos da mais alta, mas contrastaram com a enorme raiva que ela sentiu pela recusa da moça. Ela ainda nem tinha feito o pedido, e a outra já estava se negando a ajudar e a expulsando. Uma grande audácia.

Modern Fairytale | RabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora