PRÓLOGO

679 49 17
                                    

Quinta-feira. 60 dias para o fim do prazo

*Daniel

O movimento no clube estava fraco para uma quinta feira. Geralmente próximo ao fim da semana o bar enchia dos mais variados tipos de pessoas. Desde os adolescentes que podiam esbanjar dinheiro, passando pelas mulheres da alta classe que se reuniam ali, até aqueles que decidiam pelo happy hour depois do expediente. Sem contar, claro, aqueles que vinham pelas lutas no subsolo do prédio. Excepcionalmente aquela semana não havia tido disputa, o que contribuía para a falta de gente presente.

Aproveitei o pouco movimento para conferir se as notas já haviam sido lançadas no sistema. Não me surpreendi quando vi que não havia nenhuma atualização.

Conferi o WhatsApp para ver se havia alguma mensagem de Alice. Nenhuma também.

Julian me cutucou apontando uma mesa próxima a janela.

-É a mulher que chamou a gente pra festa no fim de semana. Vai lá levar uma bebida pra ela. – ele me entregou um drink de melancia. Heloísa era cliente assídua do bar e já era fácil decorar o que ela pedia.

Também era fácil reconhece-la pelo seu jeito falante, sempre agitada e grudada no celular resmungando ordens para todo mundo. Naquele dia, no entanto, ela estava diferente. Seu celular estava com a tela virada para a mesa e ela estava quieta.

-Dia difícil? – me aproximei deixando a sua frente o drink. Ela me encarou e franziu o cenho, parecia tentar se lembrar de ter pedido alguma coisa – Por conta da casa. – avisei.

Ela me sorriu e bebeu quase tudo de uma só vez, em seguida ergueu a taça meio vazia no ar em minha direção.

-Dia difícil. Ano difícil. Vida difícil. – bufou apoiando o queixo em uma das mãos.

Dei uma olhada pelo salão e quando constatei que provavelmente ninguém mais chegaria durante um tempo, puxei uma cadeira e me sentei a sua frente. Heloísa suspirou me encarando com os olhos cheios de lágrimas. Aquela postura não combinava em nada com ela. Era um contraste drástico o choro com aquele terninho que parecia valer mais do que dois meses do meu salário no bar.

Ela era uma das clientes favoritas de todos nós. Não que fossemos amigos, mas ela sempre nos dava boas gorjetas e tinha conversas interessantes, além de sempre nos chamar para servir em suas festas caras. Antes que eu pudesse me oferecer para ouvi-la falar sobre o que quer que fosse, ela aceitou o convite.

-Uma das minhas melhores escritoras não quer fechar o contrato da vida dela. – contou de imediato. Ela secou o canto dos olhos com raiva e suspirou – Tudo porque aquele garoto esquisito com cabelo de rabinho terminou com ela. Da pior forma possível. – resmungou com raiva – Eu sabia que ele não valia nada! Eu tentei avisá-la. Mas quem escuta alguma coisa quando está apaixonado? Ninguém. E agora minha sobrinha está desolada e prestes a perder a melhor oportunidade que já teve com uma editora. – suspirou.

-Sua sobrinha não quer aceitar uma proposta porque um cara terminou com ela? – tentei me encaixar na situação. Heloísa deu risada.

-Se fosse isso seria tão mais fácil. Aurora não quer aceitar a oportunidade porque não se sente capaz de fazer o que precisa depois que aquela porcaria de garoto destroçou o coração dela. E eu não a culpo por dizer não. Mas é desolador chegar tão longe e ter que voltar à estaca zero.

Escutei cada palavra, tentando pensar em algo que pudesse confortá-la. Pensei em sugerir uma terapia para as duas, mas achei que poderia soar um pouco ofensivo.

-Vai ver ela precisa começar de novo. Sabe, viver essa coisa toda dos livros pra lembrar que não é porque um final foi ruim que todos os outros também serão. Não é assim que as garotas se sentem quando leem histórias? Que também podem ter seus finais felizes? Vai ver ela só precisa ler um bom livro para lembrar disso. – sugeri – Ou você pode arrumar um cara dos livros pra ela. – brinquei.

Todos os meus clichês (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora