Quarta-feira. 5 dias para o fim do prazo
*Daniel
Já fazia cinco dias que Aurora ignorava minhas mensagens e todas as minhas tentativas de explicar o que havia acontecido.
No início as coisas estavam confusas e tudo que eu queria era que ela ouvisse o que eu tinha a dizer. No dia seguinte, quando a situação começou a tomar forma de verdade, eu percebi que não tinha o que dizer a ela. Eu a havia deixado ir embora exatamente porque não sabia o que dizer e, pensando melhor, era até uma pequena sorte que ela viesse me ignorando porque se eu tivesse a chance de me desculpar eu foderia tudo de novo naquele momento.
Também fazia cinco dias que Alice me mandava algumas mensagens. Eu sabia que a nossa conversa – que havia sido mais uma enervação de ânimos – não havia deixado nada claro.
Aquela semana começou uma merda. Recebi nota baixa na última prova de uma matéria optativa, derrubei uma taça de bebida no serviço e quase fui assaltado voltando pra casa. Tudo estava dando errado e eu nem mesmo podia dividir minha vida fracassada e fodida com a Aurora, porque, é claro, eu também já havia fodido essa parte.
Já era mais de duas da manhã e eu não conseguia dormir. Havia uma mensagem de Alice sem resposta e Aurora estava online, ainda sem responder a todas as minhas tentativas.
A gente pode conversar? As coisas estão confusas... eu quero entender o que aconteceu com a gente.
Eu não queria conversar com Alice, mas sabia que aquilo realmente era necessário.
Podemos. Eu passo na sua casa antes do almoço.
Alice mandou um simples ok.
Ok.
Eu achei que ao menos dar o primeiro passo para resolver a situação com ela me ajudaria a dormir, mas não facilitou nada. Quando vi que já eram quatro da manhã, desisti de tentar e me levantei. Catei um dos meus cadernos, uma caneta e me lembrei de como aquilo havia começado a dar errado. De Aurora indo embora porque eu não havia pensado em um motivo para estar com ela.
Enquanto me lembrava daqueles dois meses, foi fácil listar todos os motivos que eu não havia conseguido dizer antes.
***
Alice já estava me esperando quando cheguei a sua casa. Seu elevador não era muito rápido e eu entendi porque andar nele havia perdido a graça logo nos primeiros dias, como ela mesma me dissera.
Alice também não estava feliz. Eu sabia que aquela não seria uma conversa nada agradável e queria poder empurrá-la para o futuro, mas facilitaria se resolvêssemos tudo de uma vez.
Achei que ela não me deixaria entrar depois que o primeiro minuto passou e eu ainda estava do lado de fora. Porém, depois de pensar um pouco ela me deixou passar.
Suas outras duas amigas, que dividiam o apartamento, me olharam com raiva e ficou bem claro que elas já sabiam de toda a história. Alice me chamou para conversarmos em seu quarto e eu fui, antes que elas resolvessem partir pra uma reação mais agressiva.
Alice esperou. Eu havia ensaiado aquilo na minha cabeça um monte de vezes, mas naquele momento parecia que nada mais fazia sentido.
-Pode falar. – incentivou.
Cocei o pescoço, tentando reformular tudo que eu queria dizer a ela.
-Sinto muito ter te magoado. – decidi começar de forma clara – Sinto muito que as coisas entre nós não tenham sido postas de forma clara. E sinto muito que você tenha se machucado.
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Todos os meus clichês (FINALIZADO)
RomanceAurora é uma autora de romances que sempre sonhou em conseguir um contrato efetivo com uma boa editora. No melhor momento de sua carreira ela sofre de um forte bloqueio criativo ao descobrir a traição do namorado. Desacreditada do amor, ela se sente...