DOIS

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Domingo. 57 dias para o fim do prazo

*Aurora

Eu não admitiria em voz alta, mas havia sentido muita falta da minha casa. Dos meus lençóis de algodão, da minha geladeira sempre gelada, do meu sofá com a marca do meu bumbum no estofado. Meu retiro espiritual foi bom o bastante para que eu pudesse sofrer sozinha, mas meu lar era ali e eu já estava pronta para voltar para ele logo no primeiro dia.

Arth saiu para trabalhar pela manhã e deixou café pra mim. Enquanto acordava, encontrei uma solicitação de mensagem. Também havia uma solicitação de amizade e ambas eram de Daniel.

Não demorei para me lembrar dele da noite passada e minha cabeça deu uma pequena latejada. Me senti culpada mesmo sem me lembrar de todas as besteiras que havia dito, mas sabia que deveria me sentir porque provavelmente elas existiram.

Cliquei na sua mensagem e vi que ela havia sido enviada a poucos minutos.

Sei que números de telefone não surgem do nada, mas pelo visto solicitações de amizade sim. Foi o jeito que eu encontrei.

Antes de responder, aceitei a sua solicitação de amizade. Não havia muito em seu perfil, apenas umas duas ou três publicações. Não revelava muito sobre ele.

Você é o cara da festa, não é? Pelo amor de Deus, me diz que eu não falei nenhuma besteira pra você...

Reli a mensagem algumas vezes até decidir enviar. Daniel se pôs a digitar uma resposta no mesmo instante.

Nada demais. Disse que não me daria seu número e também alguma coisa sobre o seu ex. Mas, essa parte eu vou esquecer pra você não ficar constrangida.

Esfreguei a testa, corando violentamente. Me odiei pela língua frouxa e por sair contando a minha vida logo de cara pra qualquer pessoa.

Dessa parte eu me lembro.

Terminei minha primeira xicara de café e coloquei pão na torradeira. Quando voltei a encarar o celular, havia mais uma mensagem sua.

Sabe qual parte eu acho que você não se lembra? De quando aceitou sair comigo.

Não contive o riso, mas meu rosto corou. Agora que eu estava livre de álcool, ver que ele estava flertando comigo me deixava sem graça.

Com certeza isso não aconteceu.

Ah, mas poderia. Com certeza você precisa de um café depois de ter tomado... o que, duas taças de champagne? Achei você bem fraquinha.

Apertei os olhos para o seu deboche. Me concentrei e digitei a resposta, tentando garantir a integridade do meu fígado. Pra um estranho. Eu podia só deixar pra lá, mas achei graça da sua forma de falar..

Você ficaria surpreso de saber que antes daquela festa ruim meu amigo e eu dividimos três cervejas.

Logo acrescentei.

E não foram duas taças de champagne. Eu parei de contar na sétima.

Daniel demorou um pouco, mas logo sua resposta veio em partes.

Então você precisa de dois cafés.

Podemos ir a um Starbucks. Pelo centro tem vários.

Recebi a mensagem e olhei algumas vezes, considerando. Eu não estava no clima para cafés com estranhos.

Não acho que é uma boa ideia.

Ah, vamos lá. Prometo que não vamos demorar. Só um café.

A torradeira apitou e eu catei meu pão. Li sua mensagem mais algumas vezes, tentando não soar interessada, mas falhei. Meu orgulho estava ferido, eu estava magoada, triste e sensível, mas seria mentira dizer que não havia alimentado meu ego receber um flerte como aquele.

Todos os meus clichês (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora