Todos os meus clichês (FINALIZADO)

DOZE

Sexta-feira. 10 dias para o fim do prazo

*Aurora

Nós chegamos ao apartamento de Daniel antes das duas. Ele morava num bairro próximo ao meu, eu já havia passado por aquele prédio algumas vezes, mas não imaginava que sua casa pudesse ser ali.

Sua casa era simples e tinha muitos detalhes que faziam lembrar ele. Os banners de bebida nas paredes, o mini bar improvisado em um canto da sala e a cozinha exageradamente cheia de itens diziam claramente que era ele quem morava ali. Eu reparei no sofá, na TV, mas o que achei interessante mesmo foi a estante cheia de carrinhos decorando a sala. Eu pude entender porque ele não julgou minha casa da Barbie como boba e achei aquilo muito interessante.

-Antes de você cozinhar alguma coisa pra mim, eu preciso muito usar o seu banheiro. Olha, eu adorei a noite, mas acho que nunca estive tão suada e estou com nojo de mim. – fiz careta. Meu vestido já estava pinicando minha pele e os meus pés na bota então, depois de ter dançado horrores com os pés descalços...

Eu estava um caco.

Daniel me observou e quando parou nos meus pés fez uma careta. Eu o soquei, segurando o riso e vendo ele fazer a mesma coisa.

-É única porta nesse primeiro corredor. – indicou – Vou ver se tem alguma roupa pra você. Enquanto o seu vestido lava e seca a gente come alguma coisa.

Eu assenti, porque realmente qualquer opção era melhor do que o meu vestido encharcado de suor. Agradeci baixinho pela sua proposta.

Daniel demorou um tempo para voltar, mas separou uma toalha limpa e um conjunto de roupa pra mim.

Ok, aquele era um clichê. Tive vontade de rir quando entrei no banheiro, mas balancei a cabeça e deixei o pensamento pra lá.

Finalmente respirei aliviada ao sair do chuveiro. Meus pés estavam limpos de novo e apesar de não estarem quentinhos com as minhas meias, era o melhor que eles poderiam ter no momento.

Daniel havia separado pra mim uma bermuda e uma camisa de algodão. Depois de tomar banho e colocar uma roupa limpa, tudo que eu queria era deitar e dormir. Encontrei Daniel saindo de outro cômodo, também com cheiro de sabonete, enquanto eu andava pelo corredor, segurando meu vestido pela ponta a procura da lavanderia. Ele pegou a peça da minha mão para lavar, rindo do meu nojinho, e voltou rapidamente.

Eu o acompanhei até a cozinha e quando estava prestes a falar ele se sobressaltou, como se tivesse lembrado de algo extremamente importante.

-Quase esqueço! Tenho uma coisa pra você!

Franzi o cenho, mas fiquei curiosa e animada.

-Que coisa?

Daniel correu de volta para o quarto e voltou em um pulo com uma caixinha retangular embalada. Ele me entregou e esperou, todo sorridente.

Recolhi o embrulho, interessada, e assim que desfiz o papel e vi o primeiro desenho eu o olhei sem acreditar.

-É sério? – dei risada, completamente empolgada. Ele assentiu.

-É, eu passei em frente a loja e lembrei de você. Espero que essas você ainda não tenha.

Terminei de tirar o papel e balancei a cabeça, me sentindo momentaneamente emocionada. Era uma caixinha cheia de pares de meias coloridas e com desenhos, iguais às que eu sempre usava. Eu olhei para Daniel e soltei um suspiro, o abraçando com força. Era estranho perceber como uma coisa que eu sempre havia gostado, por tanto tempo havia sido limitada por uma pessoa e, de repente, eu conhecia alguém que investia nos meus detalhes.