SETE

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Terça-feira. 34 dias para o fim do prazo

*Daniel

Alice passou pela segunda vez no meu apartamento e buscou o restante das suas coisas, não deixando nada para trás dessa vez.

Dessa vez ela ficou mais tempo. Ela deu risada quando devolveu uma das minhas inúmeras camisas que inexplicavelmente haviam ido parar na sua casa, disse que havia se mudado para o andar de cima o prédio onde morava com algumas amigas e agora que finalmente podia realizar o sonho de andar de elevador todos os dias, estava cansada de sempre demorar mais tempo para chegar em casa.

Alice costumava ser assim e eu já a conhecia para saber disso. Sempre que acostumava com algo, resolvia mudar e quando a mudança se tornava o normal, ela decidia que queria de voltar a antiga rotina.

Nós conversamos, mas não por muito tempo. Depois dos primeiros cinco minutos de dialogo sobre a vida e sobre coisas do dia a dia, ela decidiu que era hora de ir embora e se foi.

Eu tentei não me afetar. Tinha uma luta em poucas horas e precisava ganhar para levar uma boa grana para casa e também para não levar uma surra na frente de Aurora. A segunda parte definitivamente não estava nos meus planos.

As aulas daquele dia passaram rápido. Tentei controlar a ansiedade que sempre atacava antes das lutas e estava quase conseguindo quando uma mensagem de Heloísa desregulou tudo novamente. Na mensagem ela me mandou o comprovante de pagamento da minha mensalidade.

Soltei um assovio baixo quando percebi o valor quitado. Acho que foi só naquele momento que eu percebi realmente o que estávamos fazendo. Talvez eu ainda tivesse duvida se a minha ajuda realmente valia aquele valor e ela havia acabado de me provar que valia, sim.

Como estão as coisas com a Aurora?

Heloísa tentou me ligar em seguida, mas eu recusei. Porém, respondi sua mensagem. Eu ficava cada vez menos a vontade de passar pra ela o que acontecia e é claro que ela detestava isso. Insistia até perceber que eu não diria nada e então desistia, com muita raiva. No entanto, mesmo sem nenhuma prova concreta de que Aurora estava produzindo algo, ela acreditava que aquilo daria certo porque Aurora estava diferente.

E ela estava mesmo. E também havia voltado a escrever, mas me pediu para não contar nada a Heloísa porque claramente ela iria querer dar uma olhada e, segundo Aurora, ela ainda não queria para mostrar para ninguém porque não estava muito bom. Claro que eu respeitava aquilo, mas duvidava muito que estivesse menos que perfeito.

Mesmo sem saber que eu sabia, Heloísa reclamou comigo sobre isso. Eu dei risada.

Não estava no nosso acordo que eu deveria te passar tudo que sei.

Heloísa ficou com raiva.

Claro que estava!

Então você deveria ter deixado mais claro.

Ela ficou com raiva de novo.

Você me garante que ela não está mentindo pra mim?

Ela realmente está conseguindo voltar a produzir?

Me lembrei da foto de Aurora ao lado do seu notebook, animada com o primeiro texto que conseguiu fazer em tanto tempo. Busquei pela foto que estava salva no meu celular e não pude deixar de sorrir de novo quando olhei pra ela.

Garanto. Tudo certo.

Heloísa não gostou da resposta limitada e da falta de informação, mas não reclamou porque, como ela mesma disse, aquilo era melhor do que nada.

Todos os meus clichês (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora