Há alguns anos, cursei a faculdade de Jornalismo na FPG do Catete, que fica do outro lado da cidade do Rio de Janeiro, bem afastada de onde eu morava. Com isso, logo nos primeiros períodos acabei conseguindo um estágio bem no Centro, próximo de uma das áreas mais movimentadas do Rio.
A experiência era incrível, uma pontinha de liberdade para mim, que sempre tive uma criação superprotetora. Pegava o metrô sozinha e voltava bem tarde para casa, por volta das 22h. Aqueles eram meus momentos de me sentir "adulta", mais responsável. Quase dona de mim.
Como estava num bairro mais movimentado, minhas amigas e eu tínhamos o costume de andar por ali depois do expediente e antes das aulas, descobrindo lojinhas, lanchonetes e lugares novos. Eu amava encontrar sebos de livros, gastava horas (e grande parte do meu salário) naqueles lugares e sempre voltava com alguma "coisinha especial", um presente para mim mesma pela minha independência financeira – mesmo que meu salário não fosse lá grandes coisas.
Até que um dia resolvi fazer isso sozinha, afinal, havia saído mais cedo e a aula só começaria no segundo tempo. Além disso, eu era adulta e sabia o que estava fazendo. Andava sempre naqueles mesmos locais. Nada poderia dar errado, não é mesmo? Pois bem, foi aí que me enganei completamente. Por mais que fizesse aquele mesmo caminho todo santo dia, as ruas, antes convidativas, agora começavam a se embolar na minha mente.
Comecei a andar confiante, tentando convencer a mim mesma de que eu realmente sabia exatamente o que estava fazendo. Só que, em determinado momento, percebi que estava apenas andando em círculos. Eu havia me perdido.
Você pode imaginar o nó que se formou em minha garganta quando me dei conta de que já tinha passado no mesmo lugar pela terceira vez e ainda não sabia onde estava? Uma sensação sufocante foi vindo à tona, uma onda de desespero e medo do que poderia encontrar. Eu estava sozinha e podia sentir meus pés se movendo cada vez mais rapidamente, a mente borbulhando com a ânsia de querer sair dali o mais rápido possível.
Já esteve numa situação assim? Algo tão desesperador que te leva a imaginar um milhão de desfechos – e nenhum deles parece um final feliz. A sensação de se perder mexe com as nossas convicções e certezas, como a que eu tinha de estar fazendo o caminho certo. Faz a emoção se colocar acima da razão e a lógica deixar de fazer sentido.
Na pressa de resolver o conflito, tomamos a primeira medida desesperada que aparece pela frente. E nenhuma decisão sem planejamento pode acabar bem.
Pense em quantas vezes o Senhor confirmou uma promessa ao seu coração. Aquela realização que você tanto anseia, um emprego novo, um relacionamento amoroso sério ou a cura de alguma enfermidade. Quando as palavras de bênção são liberadas da boca de Deus, nossa natureza humana, extremamente impulsiva e cheia de expectativas irreais, logo começa a querer fazer o relógio correr mais rápido.
Esquecemos de que o tempo de Deus não é o nosso, e quando nossos desejos não vêm no momento em que estamos esperando, tentamos dar a eles uma ajudinha (antes de desistirmos e acreditarmos que Deus não olha para nós). Investimos no que parece bom aos olhos, aceitamos propostas e calculamos despesas. Consultamos amigos, financiadores, até líderes de nossas congregações, mas nos esquecemos de conversar com quem liberou a palavra.
É nesse momento em que nos perdemos. Ou melhor, que nos reconhecemos como perdidos, porque as nossas ações exteriores são apenas reflexos do que já habita o interior. Para quem está perdido, qualquer atalho serve. E, às vezes, o atalho mais fácil é simplesmente abrir a porta e sair correndo, sem realizar o que estamos deixando para trás.
Existe uma história bem familiar a essa, contada por Jesus através de uma parábola no evangelho de Lucas: a do filho pródigo. E é sobre ela que quero tratar durante as próximas páginas. Não quero recontar a você aquilo que o Senhor já ensinou, mas pedir sua atenção para alguns detalhes que muitas vezes passam despercebidos quando, mesmo andando por um caminho conhecido, vamos nos distraindo com as belezas que este mundo oferece.
Talvez você esteja como esse filho que pediu suas coisas ao pai e foi embora, ou quem sabe esteja a ponto de fazê-lo. Não posso te dizer exatamente o que fazer ou que palavras usar, mas posso te dar um spoiler nessa história: o Pai sempre vai te esperar de braços abertos.
Meu desejo é que Ele te leve a meditar em cada página deste livro, enquanto você dá meia volta e faz o caminho inverso. E não se preocupe se ainda estiver parado no batente da porta, ou mesmo se é o filho que ficou, mas que ainda não se sente bem-vindo: há um banquete preparado para todos os membros dessa grande e valiosa família de Cristo!
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O caminho dos filhos
SpiritualPara onde nós estamos caminhando? Será que nossas escolhas coincidem com a as escolhas do Pai para nós, ou estamos fazendo como aquele filho pródigo, caminhando em direção às nossas "riquezas" passageiras? Meu desejo com estas mensagens sobre essa p...