Capítulo 6 - DISCURSOS PRONTOS

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"Eu me porei a caminho e voltarei para meu pai, e lhe direi: pai, pequei contra o céu e contra ti. Não sou mais digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos seus empregados."

Lucas 15:18-19

Por mais que o coração daquele filho estivesse agora ardendo pelo pai outra vez, ele ainda achava não ser digno de encará-lo como antes. Por isso, planejou tudo o que diria ao pai, reconhecendo seu erro e se colocando numa posição inferior a que antes ocupava. Suas palavras planejadas eram (ou ao menos pareciam) o pedido de desculpas perfeito.

Muitas vezes, ainda que com boas intenções, somos esse filho em nossos relacionamentos. Entendendo nossas falhas e deslizes, assumimos uma posição de subordinação perante nossos algozes, buscando as melhores palavras e roteirizando toda a situação em nossa mente. Tudo é milimetricamente pensado para dar certo, e com os discursos prontos vamos em busca de redenção.

Esquecemos que, além da vida não ser um filme dirigido ou protagonizado por nós, nem sempre o que idealizamos é o que se torna, de fato, real. Principalmente com Deus.

O Senhor é onisciente, onipotente e onipresente: sabe, tem o controle e está em tudo. Inclusive, em nossos pensamentos. Não adianta medir palavras com Ele, pois sonda o interior de um coração, esteja ele brando, ansioso ou tomado em ira.

As Escrituras já nos alertavam: "E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" (João 8:32). E dizer a verdade vai muito além da superfície.

Aquele filho viveu períodos de dor e solidão que não podiam ser resumidos em apenas duas frases. Ele estava, sim, arrependido, mas o medo da rejeição o impedia de expressar tudo o que ardia em seu peito. Além de se ver como servo, em sua mente o pai também o via da mesma forma.

Quando erramos com Deus, temos a mania de achar que a intimidade que tínhamos com Ele se dissipou junto com as nossas convicções. Mas a verdade é que o Pai nos conhece e espera que nossas palavras sejam muito mais do que "palestras" de humilhação. Ele espera palavras de filhos.

Como é o relacionamento que você mantém com seus pais? Você se sente à vontade para conversar com eles? Para se expor? E com seus filhos? Dá a eles a liberdade de serem transparentes em suas emoções? E com Deus? Sem um diálogo franco, criamos pontes que separam um relacionamento de uma simples relação.

Relação é aquilo que você tem com alguns colegas de trabalho, seus vizinhos e pessoas que não vê ou convive com frequência. Mas relacionamento é ter um envolvimento íntimo e profundo com alguém. É escolher tanto ouvir, como falar; dar e receber em proporção. É conhecer pelo olhar, pelo toque, pelas sutilezas. É dizer a verdade, ainda que ninguém (nem você mesmo) queira ou escolha dizer.

Que nestes dias possamos aprofundar nossa relação com Deus, gerando um relacionamento de palavras sinceras e atitudes que as reflitam. Jogue os discursos prontos fora e viva a plenitude de se revelar ao Pai como Ele tem se revelado a nós.

Oque eu ainda não estou dizendo com sinceridade ao Pai?

O caminho dos filhosOnde histórias criam vida. Descubra agora