"Um homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao seu pai: 'Pai, quero a minha parte da herança'. Assim, ele repartiu sua propriedade entre eles."
Lucas 15:11-12A cada dia que passa, vivemos num mundo mais globalizado e capitalista, onde o interesse principal gira constantemente em torno do nosso bem-estar e lazer. As mídias nos bombardeiam com novidades o tempo inteiro e somos levados a gastar desenfreadamente com produtos cada vez mais temporários e perecíveis.
Parece que nada nunca é bom o bastante, e quando você alcança a aquisição tão sonhada, logo surge uma tecnologia maior – logicamente mais cara – e prontamente miramos um novo objetivo: um smartphone de última geração, aquele tênis legal de marca ou a paleta de maquiagem que está em alta e você "precisa ter". Somos facilmente seduzidos por uma cultura de consumo que sequer chegamos a questionar.
Já parou para pensar em como os seus gostos pessoais surgiram? Em que momento você se deu conta de que achava alguma coisa bonita ou feia? Muitos dizem que isso é algo inerente ao ser humano, nasce com a gente, junto com a nossa personalidade. Mas a grande verdade é que tudo é uma construção. Mesmo que você tenha particularidades no que diz respeito à estética e prefira chocolate à brócolis, por exemplo. Basicamente, tudo o que achamos acreditar a vida toda nos foi apresentado como certo ou errado pelo meio em que vivemos, e muitas dessas coisas ainda na primeira infância.
Trazendo isso novamente para o âmbito material, aprendemos desde sempre que o sucesso e a satisfação pessoal vêm acompanhados de uma condição: o famoso "ter algo a mais". E esse algo a mais, na maioria das vezes, está ligado à área financeira. O que você pode oferecer para a sociedade? Que locais é permitido frequentar? Quantas viagens já fez? Qual a marca do seu carro? Perguntas que sempre vêm acompanhadas de uma comparação com o que vemos ao redor, como se a felicidade dependesse exclusivamente deste fator.
A Palavra de Deus diz que feliz é o homem que teme ao Senhor e tem grande prazer em Seus mandamentos (Salmos 112:1), mas na maioria das vezes depositamos nossa felicidade e a intensidade desse sentimento nas coisas que são visíveis aos olhos. Buscamos o crescimento em nossos trabalhos, almejamos promoções e queremos cada vez mais subir de cargo. Sentar na cadeira de chefe então? Um sonho a ser conquistado! Estamos muito mais preocupados com o que podemos receber, ao invés de compartilhar ou agradecer pelo que já temos.
No versículo 12 de Lucas 15, aquele filho mais novo pede ao pai que lhe dê a sua parte na herança. A Bíblia não diz exatamente a quantia de dinheiro que estava em jogo ou quantas posses aquela família possuía, mas imagino que de acordo com o seu objetivo de sair de casa, aquilo era mais do que suficiente.
Sabemos que dinheiro gera status, que gera uma posição de destaque. E, se partirmos dessa premissa, talvez fosse exatamente o que aquele filho andava procurando.
Se coloque nessa posição. Quantas vezes você já olhou ao redor e quis se destacar? E não falo sobre estar em evidência, de fato, mas sobre mostrar que tinha algo a oferecer. Quantas vezes se viu cercado de pessoas abençoadas com dons maravilhosos, grandes pregadores da Palavra, ministros cheios da unção e evangelistas que arrastam multidões e pensou: E eu? O que eu tenho de diferente?
Aquele filho estava acostumado a viver sob a vontade do seu pai, afinal, ainda morava debaixo do seu teto. Mas a partir daquele momento, baseado pela sedução de uma vida farta e sem limites, um elo é quebrado dentro do lar. O pai é desonrado através do pedido, pois a herança só é recebida quando há morte. E ainda que contra os valores e princípios da época, e do contexto em que se encontravam, aquele pai acata sua petição, demonstrando um amor que se estende além dos seus próprios ressentimentos. Parece familiar?
Retomando os questionamentos do filho, imagino o que ele deve ter pensado no momento em que conquistou o que queria: "Agora sim posso estar no lugar que mereço". E quem de nós nunca pediu nada a Deus alegando nosso duro trabalho no Reino ou nossas firmes e constantes orações como se, através disso, nos tornássemos dignos de méritos e reconhecimentos?
Talvez a sua herança requerida precocemente não seja dinheiro, mas um cargo ministerial. Ou, quem sabe, uma carreira como um grande ministro ou palestrante? Isso não quer dizer que qualquer uma dessas coisas não possa acontecer a você. Entretanto, tudo o que é almejado às pressas tem grandes e severos riscos de fracassar.
Deus tem, sim, o melhor para você, e isso é uma promessa estabelecida muito antes do seu nascimento (Jeremias 1:5; Isaías 44:2). Mas devemos nos lembrar de que as coisas nem sempre acontecem quando queremos, pois tudo tem o seu tempo determinado e um propósito debaixo dos céus (Eclesiastes 3:1).
Antes de focarmos no que podemos ganhar, ainda que sejam almas, precisamos manter o foco no Pai e em nosso relacionamento com Ele, afinal, como falar para outros de alguém com quem não tenho intimidade? Certamente será uma explicação superficial e baseada apenas naquilo que lemos e ouvimos, e não naquilo que, de fato, vivemos.
Meu conselho é: viva na casa do Pai, mas não deixe de viver para Ele. Desempenhe seu papel de filho, desenvolva uma relação de amor e cumplicidade, ouça Sua voz e obedeça aos Seus mandamentos. Aplique os ensinamentos do Senhor para que a casa (seu coração) esteja sempre em paz e não haja luto por algo que ainda não morreu.
A herança é somente uma consequência de uma vida inteira de submissão à vontade de um Deus que abriu mão de tudo para ter você. E, se eu puder me aprofundar nessa questão de modo mais formal, judicialmente a herança não é apenas um conjunto de bens e direitos, mas também comporta obrigações em seus termos. Ou seja, toda vez que recebemos algo, precisamos estar dispostos a entregar alguma coisa em troca. E quem sabe essa coisa não seja abrir mão das nossas expectativas para viver as Dele?
Te convido a fazer um pequeno exercício. A partir de hoje, pare de olhar para as oportunidades que aparecem, se questionando: "O que eu ganho com isso?", e comece a se perguntar: "Do que eu posso abrir mão?". Acredite, é melhor dar do que receber (Atos 20:35). E se ainda não conseguimos concordar com essa afirmação do próprio Jesus, está na hora de começar a fazer o caminho de volta.
Do que eu realmente preciso abrir mão hoje para viver a plenitude de Deus?
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O caminho dos filhos
EspiritualPara onde nós estamos caminhando? Será que nossas escolhas coincidem com a as escolhas do Pai para nós, ou estamos fazendo como aquele filho pródigo, caminhando em direção às nossas "riquezas" passageiras? Meu desejo com estas mensagens sobre essa p...