"Depois de ter gasto tudo, houve uma grande fome em toda aquela região, e ele começou a passar necessidade."
Lucas 15:14
Você tem noção de quanto gastou com despesas no último mês? Não falo daquelas que já fazem parte do dia a dia da maioria de nós, como aluguel, luz, comida e água. Falo daqueles pequenos gastos inofensivos que muitas vezes deixamos passar por serem apenas "uma coisinha à toa", tão baratinho que a gente nem vai sentir: um lanche despretensioso no meio da semana, uma blusinha em promoção e aquele jogo no celular que só custa 3,99 para desbloquear a próxima fase. Pequenas coisas que, se não prestarmos atenção, consomem nosso dinheiro num curto espaço de tempo.
O mais engraçado é que o homem sempre alimenta a sensação de estar na direção de tudo. Vamos mentindo para nós mesmos, ainda que a gente não admita, nos forçando a acreditar que temos o controle da situação e nada pode dar errado enquanto seguirmos nosso plano infalível. O que esquecemos é que, na vida, estar no controle é uma experiência unicamente temporária. As situações adversas vêm, e precisamos ter um plano B, C e até Z se for necessário.
Aquele filho tinha uma herança nas mãos, e pela pequena descrição de sua situação financeira de acordo com a Palavra, podemos imaginar que não era tão pouco assim, afinal, ele viajou para uma terra distante e foi curtir a vida com bem entendesse.
Imagine então, nos dias de hoje, um jovem com uma herança nas mãos e longe de sua antiga vida e família. Ele poderia fazer o que quisesse: ir a festas, viajar, comer nos melhores restaurantes e comprar todos os eletrônicos imagináveis. Uma vida sem limites e preocupações, longe de todas as regras impostas pelo pai e da responsabilidade de obedecer a alguém que estivesse acima dele. Seria dono de si e de suas escolhas, sejam elas quais fossem.
Mas, continuando a história, chegamos ao momento em que o filho percebe – tarde demais – que a vida é uma caixinha de surpresas. No versículo 14 de Lucas 15, ele já não é mais um jovem rico e promissor, mas alguém falido, e o pior, vivendo numa região onde se instalou uma grande fome. Com certeza isso não estava em seus planos, talvez nunca tivesse passado pela sua cabeça. É o que acontece quando, por alguma condição, nos colocamos acima de tudo e todos, como se nada nunca pudesse dar errado.
A fome que alcançou aquela região provavelmente foi um baque para muitos, que certamente tiveram prejuízos em seus negócios e até dificuldade para manterem seus lares. Só que para esse jovem foi ainda mais difícil. Ele não tinha um lar, trabalho, uma renda ou mesmo poupou um pouco da sua herança. Despreocupadamente, foi gastando sem medir consequências, como se não houvesse amanhã. O que ele esqueceu é que sempre há um amanhã, e o único que sabe exatamente como ele será é Deus.
Trazendo para a área espiritual: quanto nós temos gastado daquilo que o Senhor nos confiou sem ao menos refletir nas consequências futuras? Desperdiçamos dons e talentos, usando-os de qualquer maneira ou mesmo deixando de devolver os seus frutos para Deus (como falamos anteriormente).
Se cantamos, menosprezamos as nossas vozes em comparação às de grandes cantores, ou deixamos de exercitar as pregas vocais. Se tocamos, ficamos no básico e não procuramos nos aperfeiçoar nos instrumentos, ou então queremos tocar de tudo um pouco, com a desculpa de que "precisamos conhecer a nossa área". Se dançamos, esquecemos dos alongamentos e das horas que os grandes bailarinos dedicam para própria melhoria. Se pregamos, passamos a dar mais crédito ao que ouvimos do que o que lemos de fato, ou deixamos o "trabalho" para o Espírito Santo. E por aí vai...
O desperdício nunca é uma opção viável, principalmente quando falamos de algo que nos foi confiado pelo próprio Deus. É como a parábola dos talentos (Mateus 25:14). Cada servo tinha a missão de zelar por uma quantia recebida de seu senhor, segundo a sua capacidade. Os dois primeiros servos aplicaram seus bens e receberam em dobro. Porém, o que recebera apenas um talento decidiu enterrá-lo e foi duramente repreendido pelo senhor, ficando sem nada e sendo lançado fora.
Assim também acontece quando enterramos ou desperdiçamos o que Deus colocou em nossas mãos: até o que temos é tirado, pois não aproveitamos com sabedoria. E a sabedoria é o que nos impulsionará para a direção certa, pois ela nos ajuda a discernir se os nossos planos seguem o caminho do Senhor (Provérbios 14:8).
Se aquele filho tivesse escolhido tomar conselhos com o pai, provavelmente saberia que usar seus bens com sabedoria o pouparia da miséria naquela época de escassez. Certamente as dificuldades viriam, mas com preparo e direcionamento ele poderia multiplicar aquilo que tinha em mãos e viver com tranquilidade quando a tempestade se aproximasse.
Em épocas de fome, precisamos de alimento em estoque, e só existe um que nunca perece ou acaba: a Palavra de Deus. Sem ela, podemos até nos alimentar de outros celeiros e beber de outras fontes, mas sempre vamos nos encontrar insaciáveis.
As Escrituras nos garantem satisfação em dias bons e maus, tempos de fartura ou de seca. Elas nos ensinam que mais vale o amor de Deus do que ouro, prata e riquezas. Por isso, faça hoje uma reflexão daquilo que tem em mãos, seja um dom ou um chamado iminente do Senhor, e não desperdice nem gaste seus bens contando com a sorte. Aprenda a confiar nos planos do Pai e tenha sempre algo pronto para oferecer a Ele. Não precisa ser muito. Apenas um coração contrito e disposto a aguentar firme nos dias em que a fome chegar, e sabedoria para armazenar o necessário antes que as coisas saiam do controle.
Pessoas descontroladas não medem as consequências de seus atos, mas aquele que entende a vontade do Pai pode dizer com alegria: "O Senhor é meu pastor e nada me faltará" (Salmos 23:1).
Em quais áreas da minha vida preciso deixar Deus retomar o controle?
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O caminho dos filhos
SpiritualPara onde nós estamos caminhando? Será que nossas escolhas coincidem com a as escolhas do Pai para nós, ou estamos fazendo como aquele filho pródigo, caminhando em direção às nossas "riquezas" passageiras? Meu desejo com estas mensagens sobre essa p...