Traição

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Lily precisava escrever, precisava desesperadamente escrever. Seu peito estava rasgado, seus pensamentos em um só lugar. Não tinha conversado com Anne ainda, não sabia se os dois tinham se acertado, se tinham de fato se beijado, se estavam namorando, não sabia se sua melhor amiga iria querer continuar com aquela história de cartas escritas por ela. Mas ela precisava escrever.

Precisava traduzir em palavras camufladas o que sentia ao se lembrar do beijo dele, do seu cheiro, da sua mão se enroscando em seu cabelo, da correntinha que descobriu em seu peito.

Precisava escrever:

“Querido Dave...

Você está em mim, mesmo longe em meu quarto, você está aqui. Sinto seu cheiro, suas mãos em meu cabelo, sua doce boca grudada em mim.

Sinto seu abraço não me deixando cair, sinto sua respiração dividindo a minha.

Queria parar o tempo, naquele momento, tenho ainda tanto para descobrir, tanto que não aprendi.

Em minha mente tenho fragmentos de sua vida entrelaçando com a minha. Imaginando talvez, mas tão real para mim.

Espero que o tempo pare, mas que corra rápido, para que possa te sentir de novo, te descobrir de novo.

Sua...”

Não conseguiu colocar o nome de Anne, essa carta era dela. Somente dela. Queria que mesmo sem saber e perceber estivesse contando a ele como se sentia com o beijo errado.

xx

― Preciso conversar com você – Anne disse no outro dia no café da manhã para ela.

Lily se sentia melhor, escrever a fazia se sentir melhor, estava pronta para vestir sua máscara de melhor amiga.

― Eu já sei, vejo no seu olhar. Vocês se acertaram não é? – perguntou já sabendo a resposta.

― Aí Lily – ela suspirou com os olhos brilhantes – Não consigo te descrever. Ele é tão...

― Apaixonante. Perfeito em todos seus atos, olhares jeitos... – completou os pensamentos da amiga.

― Exatamente. O beijo dele é tão...

― Embriagante que faz você se perder em seu cheiro, suas mãos no seu cabelo e sua doce boca dançando tão perfeitamente com a sua...

― Como você sabe de tudo isso? – perguntou à amiga. Estava acostumada com a amiga sabendo seus sentimentos, mas não tão profundamente assim.

― Assisto filmes românticos demais – Lily se limitou a explicar – Escrevi uma carta para você mandar para ele.

Entregou a ela o pedaço de pergaminho.

Anne passou os olhos rapidamente para as palavras escritas e olhou para amiga com certo receio.

― Você não escreveu meu nome embaixo.

― É... – ela gaguejou – Você vai passar para a sua letra mesmo. Então me conte, estão namorando?

― Não sei – confessou a amiga guardando o papel em seu bolso da calça – A gente não conversa muito, se é que me entende. Tenho medo de falar alguma besteira para ele e Dave prefere me beijar.

A rosa indomávelOnde histórias criam vida. Descubra agora