minha estadia no lugar misterioso parecia fazer mais sentido desde que minha outra versão começou a me estigar a pensar um pouco. a essa altura, já havia concluído que não estava ali para ser castigada.
— para alguém que provavelmente iria acabar no inferno por tentar contra a própria vida e ter tendências homossexuais, até que eu não me dei tão mal... — comentei, sorrindo de canto.
— talvez porque esse não seja o seu destino final — ela respondeu, me provocando
— é para eu fingir espanto? - ri um pouco — já me conformei com a ideia de não cantarolar eternamente aos ouvidos de jesus. — concluí, ainda risonha.
— você adora brincar com coisa séria. achei que tivesse mais medo. — disse minha outra versão, com falsa seriedade.
— foi a forma que encontrei de sobreviver ao mundo do entretenimento. se não tivesse agido assim desde o começo, certamente não teria chegado nem ao meio de tudo o que vivi. olhando para trás, não sei se fiz certo seguindo esse princípio. — respondi.
— ah, é? e o que te faz pensar dessa forma? — indagou me olhando atentamente.
— o fato de que, durante todo o tempo em que me mantive firme e focada em continuar a viver o meu sonho, eu me encontrava partida por dentro. a cada programa de variedade do qual eu e as meninas participávamos e éramos alvo de brincadeiras amargas que para o público pareceriam hilárias porque é assim que funciona o entretenimento, eu voltava para casa me sentindo mal, me perguntando se realmente era necessário que fizessem isso com artistas para que eles tivessem a chance de mostrar seu talento e esforços contínuos, mesmo sabendo que não era, e que nós não deveríamos rir de tudo como se não doesse. — respondi sentindo o velho nó crescer na garganta.
— e por que nunca falou nada?
— porque não era uma opção, a menos que eu estivesse disposta a prejudicar meu grupo, já que me manifestar significaria perder a nossa participação em programas importantes para nossas promoções. isso comprometeria tudo o que nos esforçamos para criar para os nossos fãs. — suspirei, frustrada.
— quando foi que percebeu que havia algo errado na maneira com que vocês são tratadas nesses programas? — ela indagou, imersa no assunto.
— desde que começamos a participar, pouco depois do debut, já havia percebido que não eram exatamente inofesivos, como a maioria os interpreta (sabe deus porquê). mas o que mais me revoltou foi ver um apresentador tratar lisa com descaso, simplesmente por não ser coreana. isso doeu mais que tudo em mim, porque vi de perto todo o processo que a fez se tornar a dançarina incrível que é. foram tantas as vezes em que tínhamos que acordar cedo para treinar e eu, com preguiça, dizia que queria dormir mais um pouco. mas então via lisa, que na época mal falava coreano e se quer tinha a família por perto para lhe oferecer um apoio maior, levantando sem reclamar e com satisfação, mesmo que, às vezes, estivesse ainda mais cansada do que eu, e dali vinha minha motivação para lutar mais um longo dia. — concluí a tempo de não chorar de novo.
nesse momento, tudo o que vivemos juntas passava por minha mente como uma fita sendo rebobinada. cada cena tão vívida, como se fosse possível ver os milésimos de segundo que precediam os tantos acontecimentos marcantes de nossa história.
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querida roseanne | chaelisa
Fanfictioncansada de ser constantemente julgada (inclusive por si mesma) e ter que se justificar por coisas sob as quais não tem controle, a jovem rosé decide pôr um fim a sua agoniante narrativa. o que ela não imaginava, era que o 'grand finale' que acredita...