lalisa

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  — seu semblante muda completamente quando fala de lisa. — comentou com um pequeno sorriso. — ela deve ser bastante especial.

  — então já é evidente assim... é sim. muito. mais do que gostaria, na verdade — desabafei por um momento.

  — os sentimentos não deixam de florescer simplesmente porque nos recusamos a vivenciá-los.

  — e o que te faz acreditar nisso? — perguntei em tom de provocação.

  — o fato de que o sente por ela transborda sem que você se dê conta. ou possa sequer tentar controlar. — replicou a outra rosé.

  — porra, lisa. — exclamei mais irritada do que realmente me sentia.

  — uau... — ela riu um pouco — lisa deve ser uma garota e tanto pra ter te deixado assim — disse ela com a malícia de quem sabe o que está fazendo.

  — ela é literalmente a única garota do mundo na minha cabeça. eu nunca vi mulheres da forma que vejo antes dela. e mesmo agora, sabendo que não tenho interesse por homens e enxergando minha real atração pelo feminino, tudo ainda é sobre lisa. seus grandes olhos me abduzem mesmo quando me miram despretenciosos. lalisa é assustadoramente magnética. eu tento correr de sua presença, me destrair dela com ocupações corriqueiras e esquecer que quero estar onde está, mas, antes que eu perceba, me encontro orbitando silenciosa à sua volta, num ritual de adoração contínuo, regido pela urgência de sentir até a menor partícula de sua existência. — respondi, aérea.

  — você é louca! — disse ela, rindo — e absurdamente boiola, cruzes!

  — temo que esteja certa... — ri, um pouco preocupada.

  — não tema! até que te cai bem... — ela disse, orgulhosa. — quando soube que gostava dela?

  — para ser sincera, não sei exatamente. foi tão de repente e tão devagar ao mesmo tempo, se é que isso faz sentido. acredito que tudo começou pouco depois que nos conhecemos, porque me lembro de estar com ela em algumas ocasiões durante essa época e estranhar a forma com que me sentia, já que definitivamente era diferente de quando estava com jisoo e jennie. mas por muito tempo achei que fosse coisa da minha cabeça.

  — porque tornava a convivência mais fácil... — replicou ela.

  — menos difícil, talvez. desde que percebi que as coisas não estavam exatamente normais nossa convivência se tornou mais trabalhosa para mim. agir como se nada estivesse acontecendo nunca foi o meu forte. — concluí, dando de ombros.

  — que coincidência... — ela riu de novo.

  por algum motivo, roseanne parecia bem mais relaxada e entusiasmada do que das primeiras vezes que nos falamos. isso me espantou um pouco, mas deduzi que fosse porque eu estava mais à vontade para falar abertamente e ela não precisava mais manter a postura de "detetive" para descobrir o que quer que fosse.

  — você sempre me faz perguntas e nunca me diz sobre você. o que realmente quer saber, afinal? — indaguei, bastante intrigada.

  — nada, porque já sei o que você vai me dizer. não teria algo para contar sobre mim. — respondeu, firme.

  — então porque insiste em me perguntar? — perguntei como se fosse um absurdo — e como não tem nada a contar?

  — porque preciso que você se ouça. caso contrário, não entenderia o propósito disso. o motivo para eu não ter o que contar é simples: eu nunca existi numa realidade concreta e nada acontece aqui. — ela replicou erguendo as sobrancelhas enquanto me encarava.

  o mistério acerca do lugar desconhecido e da minha passagem por ele parecia não ter fim, mas algo me dizia que estava chegando mais perto do que seria a resposta de tudo.

querida roseanne | chaelisaOnde histórias criam vida. Descubra agora