see u later

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  se naquele mundo existissem dia e noite como no nosso, diria que era uma manhã de clima ameno, onde o sol brilha o suficiente para iluminar tudo sem arder. e por falar em arder, eu me sentia como há tempos não me sentia antes; branda, sem grandes preocupações rodando pela cabeça. respirar fundo já não me trazia um cansaço maior do que não fazê-lo.

  — é estranho o que vou dizer — começei, meio sem jeito — mas acho que nunca me senti tão despreocupada e solta antes.

  roseanne me encarou com o que seria o sorriso mais afetuoso e genuino que me direcionaria. não sei exatamente o que significava, mas imaginei que estivesse orgulhosa de mim. seus olhos pareciam me acarinhar à distância.

  — e por que isso seria estranho? — indagou arqueando a sobrancelha.

  — porque, aparentemente, estou aqui para aprender a viver e isso não deveria ser leve assim. — respondi sem olhá-la.

  — como é que é? — roseanne riu por um instante — eu não sou nenhuma coach! além do mais, como poderia te ensinar a viver se eu mesma nunca tive uma vida real? — disse, confusa.

  — tem razão... é que pensei que na verdade pudesse ser alguma criatura mágica ou mesmo um anjo. — concluí sorrindo de canto.

  — você me acha bonita assim?! — exclamou, provocante.

  — eu não disse isso! — respondi rindo mais alto do que esperava.

  — melhorou muito desde que chegou aqui, rosé. — ela afirmou, agora séria.

  — acha mesmo? não vejo tanta diferença, exceto pelo fato de que me sinto muito melhor. — disse sinceramente.

  — acho. jamais diria que sou um anjo de forma direta, mesmo que secretamente me ache incrível. — roseanne disparou orgulhosa.

  — ah, é? e o que te leva a pensar assim? — indaguei em tom desafiador.

  — o fato de que somos idênticas visualmente. me elogiar seria como elogiar a si mesma e você morria de cringe disso. sobre eu ser alvo da sua admiração, é evidente toda vez que digo algo que não espera ouvir, porque é como se estivesse vendo a si mesma com uma postura que gostaria de ter, mas não sabe como. bem, não sabia. — concluiu, dando de ombros.

  — caralho... eu realmente sou transparente! — exclamei entre risos.

  — pra mim, é sim. afinal, você é tudo o que conheço e tudo o que eu poderia ser. — respondeu encarando o chão.

  — nossa, como você é romântica... — disse, provocando-a.

  rimos juntas por um momento. e foi nesse meio tempo que percebi que aquilo se tratava de uma despedida. todos os risos que me confundiam nos últimos dias eram, na verdade, meios para tornar nosso 'grand finale' isento de melancolia.

  — ah, e para tirar sua dúvida de uma vez por todas; estou aqui para acender a luz que vai iluminar o caminho à sua frente. — disse ela, aliviada.

  — caminho esse que devo percorrer sozinha, eu suponho... — completei, cabisbaixa.

  — só se você não me quiser mais por perto. — respondeu fazendo bico.

  — contanto que a gente não precise dividir casa, acho que não me importo em te ter por perto. — disse, com falso descaso.

  — para o seu azar eu nunca vou precisar de uma casa porque não existo fisicamente — replicou cheia de astúcia.

  — é uma pena, porque queria poder te abraçar... — disse desapontada.

  — e o que está esperando? — roseanne indagou com os braços abertos em minha direção.

  — obrigada. obrigada por tudo. — disse tentando não chorar em seu abraço, que mais parecia o meu próprio.

  — você merece tudo o que quer proporcionar a quem ama. — respondeu ela, alisando minhas costas.

  abraçar-la ali foi tão impactante quanto vê-la pela primeira vez e definitivamente reconfortante, como se estivesse abraçando a minha versão mais frágil após sua sessão semanal de choro, embora toda a fragilidade continuasse em mim.

  — se cuide e me deixe bem! — disse a voz familiar que agora parecia se esvair aos poucos no espaço.

querida roseanne | chaelisaOnde histórias criam vida. Descubra agora