{02 - One pair}

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Diversão.

Práticas com a finalidade de entreter um indivíduo ou um grupo sempre se modificam com o passar dos anos.

Atualmente, há várias maneiras de se divertir em Paris. Para alguns, simplesmente passar algumas horas do Verão na beira do Rio Sena tomando sol como se estivesse no litoral basta; para outros, ocupar um lugar em um dos milhares cafés espalhados por toda cidade e passar a tarde debatendo sobre filosofia e ideias revolucionárias é satisfatório.

Para minha mãe, organizar brunchs, chás da tarde e jantares, e participar de eventos sociais eram seus passatempos favoritos, além de jogar canastra e nos fazer sobremesas. Já minha irmã preferia a vida noturna da Cidade-Luz: frequentar bares e festas nos quais ela pudesse tomar uns bons drinks e dançar a noite inteira com sua fiel companheira, Emma, como também amava ir a teatros e eventos de moda.

Como nunca fui lá uma pessoa muito sociável, antes de conhecer Renoir e Voltaire, eu só saía de casa quando meus pais me obrigavam a comparecer em bailes ou eventos da alta sociedade burguesa, sempre exalando orgulho ao apresentar seu filho exemplar para os demais.

Apesar de ter sido acolhido por essa família, sempre senti como se estivesse nascido ali - jamais esquecendo minhas verdadeiras raízes, que foram devidamente respeitadas. Cresci cercado de amor e carinho por todo lado, mas também com rédeas curtas e disciplina, o que ajudou a formar meu caráter, ao contrário de algumas pessoas da minha idade que também eram ricos herdeiros.

Lidar com os jovens dessa classe não era uma tarefa muito fácil. Minha mãe sempre nos incentivou a fazer amizades no nosso meio, pois isso poderia trazer uma boa influência e importantes alianças no futuro, talvez até um casamento próspero. Eu e Aimée até tínhamos alguns conhecidos, mas nada passava da simples casualidade.

Até que, quando completei 21 anos, meu pai me levou pela primeira vez para conhecer o seu verdadeiro divertimento: o Casino-de-Charlevoix.

Em Paris, há alguns anos, tinham terminantemente proibido a existência de cassinos na região. Porém, como quem ditava as regras eram os ricos, sempre existiam lugares assim clandestinamente, afastados do centro da cidade, no qual apenas indivíduos específicos tinham acesso, sempre portando um convite restrito ou uma credencial, caso fosse um membro assíduo assim como meu pai.

O único cassino legalmente permitido ficava no principado de Mônaco, o luxuoso e mundialmente conhecido Monte Carlo, que atraía visitantes de todas as partes do planeta e gerava lucros para todo o país.

No interior do Casino-de-Charlevoix, tudo me chamou atenção na mesma medida em que me deixou um pouco assustado. O lugar era pequeno e meio subterrâneo, como um porão. Não sei se era de fato pequeno ou se a quantidade excessiva de pessoas o deixava assim. O ambiente era abafado e úmido, além de cheirar a cigarro e álcool. Homens e mulheres de todas as idades se amontoavam ao redor das mesas esperando sua vez de tentar a sorte pela décima vez só naquela noite.

Vários tipos de jogos de fortuna e azar eram oferecidos, assim como máquinas caça-níqueis, esperando por apostas seguras, desesperadas, calculadas ou aleatórias daquelas pessoas.

E, dentre tantas opções, uma se destacou.

Poker.

E não somente por ser uma das mesas mais movimentadas do lugar.

No começo, eu não entendia a finalidade do jogo. Era tudo muito silencioso, os jogadores só se olhavam, mantendo a desconfiança e a tensão pairando sobre eles, até que alguém fosse confiante ou cínico o suficiente para arriscar todas as suas fichas, fazendo os outros desistirem e ele conseguir levar o prêmio final sem ao menos ter boas cartas na mão.

Ethereal • {jjk + pjm}Onde histórias criam vida. Descubra agora