{04 - Three of a kind}

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Lembranças.

Momentos que ficam sendo repassados na sua cabeça durante algum tempo, que surgem durante aquela aula chata, ou aquele fim de tarde em tons alaranjados de outono, repetidas vezes. Até serem esquecidos ou substituídos por novas lembranças.

É sempre cíclico, algo que não se demora, que não dura para sempre.

Efêmero.

Acontecimentos corriqueiros que não têm a mínima ligação afetiva conosco e por isso são tão passageiros.

Ao contrário das memórias. Essas sim contêm laços de afetividade fortes o suficiente com nosso inconsciente para serem então armazenadas em uma área do cérebro chamada de "memória de longo prazo".

Tal região é responsável por frases como "lembra daquela vez que...", quando um amigo puxa para conversa uma festa que vocês ficaram muito loucos, saíram do bar cambaleando e seguiram pelas ruas cantando alto com a voz enrolada.

Infelizmente, porém, essa área não só reserva memórias boas, como também as dolorosas, que ainda estão a caminho de se tornarem apenas uma saudade que aperta o coração, mas que nos faz sorrir.

E, como eu não conhecia nada além do seu rosto, apesar de um estranho sentimento de familiaridade se fazer presente, aquele homem que vi domingo à noite não passou de uma simples e passageira lembrança na minha mente.

Lembrança essa que me perseguiu em forma de ansiedade a semana inteira.

Naquele dia, desci as escadas sem sequer olhar para trás e procurei por Taehyung e Yoongi no salão do piso inferior, até encontrá-los em um canto próximo à entrada, apenas dançando um pouco e bebendo, com as atenções voltadas para a pista de dança movimentada.

- O que houve? Por que você já desceu? Está tudo bem com você? - fui bombardeado de perguntas assim que cheguei mais perto dos dois e minha presença foi notada.

- Você está pálido, parece até que viu uma alma penada. - acrescentou o ruivo, preocupado.

Gaguejei mais do que pretendia quando disse: - N-não estou me sentindo muito bem, acho q-que vou voltar para casa. A gente se vê amanhã. - e dei as costas, sem esperar um adeus, agoniado, como se aquele lugar estivesse sugando todo o ar de meus pulmões.

Ainda meio atordoado, embora mais calmo, abri a porta do meu quarto, dando de cara com Aimée esparramada preguiçosamente em minha cama, lendo um de seus milhares de livros revolucionários.

- Chegou cedo hoje, Monsieur. - e, sem tirar os olhos do livro, completou: - Por acaso você perdeu tudo?

- Por acaso no seu quarto não tem uma cama? - encarei-a incrédulo, ainda que estivesse aliviado por tê-la ali, como sempre. É inexplicável a conexão que temos desde que fui adotado, e esse sentimento fica cada vez mais intenso. Ela realmente tinha um sexto sentido para saber quando precisava dela, nem que fosse somente sua presença.

- Você sabe que a sua é mais confortável. - finalmente erguendo os olhos, ela dirige seu olhar astuto na minha direção e dá uma piscadela desajeitada que só me faz rir.

- A grama do vizinho é sempre mais verde, não é? Chega para lá. - fechando o livro e colocando na mesa de cabeceira, ela se ajeitou na cama, abrindo espaço para eu poder me esticar ao seu lado.

Demorou um bom tempo para que eu pudesse organizar minha cabeça e decidir por onde começar. Respirando fundo, lancei a pergunta de uma vez.

- Você alguma vez já sentiu que conhecia alguém, apesar de nunca o ter visto antes?

Ethereal • {jjk + pjm}Onde histórias criam vida. Descubra agora