24 anos.
Pode não parecer, mas já passei por alguns momentos importantes em tão pouco tempo. Principalmente quando a expectativa de vida nessa década não passa dos 50 e poucos anos. Tomando isso como base, devo dizer que estou quase alcançando o auge da minha breve vida.
Meus pais vieram para a França em meados de 1894, quando eu ainda nem sonhava em ser concebido. As coisas não estavam fáceis na terra natal deles e, em meio à Primeira Guerra Sino-Japonesa, eles decidiram fugir no porão de um navio clandestino, vindo parar no continente europeu pelo Mar Mediterrâneo. Em algum momento da longa viagem, que durou provavelmente 7 ou 8 meses, eu surgi, ainda muito pequenino para ser notado na barriga de minha mãe, e talvez ela nem tivesse ideia do minúsculo grão de feijão crescendo em seu ventre, até sentir os primeiros sintomas característicos da gravidez. E então eu vim ao mundo na segunda metade do ano de 1895, em uma cidadezinha litorânea chamada Marselha, uma pequena porção da tão famosa Côte d'Azur. Todavia, o escasso suporte que tínhamos mal dava para manter meus pais, de modo que, ainda com poucos dias de vida, viemos para a cidade grande, que se encontrava no auge de sua Belle Époque: a rica e iluminada Paris.
Não foi tão fácil para os meus pais se estabelecerem: um casal de jovens estrangeiros, que não sabiam nada além de coreano e algumas palavras em francês, com um recém-nascido para criar. Não era preciso muito para me alimentar, já que eu vivia exclusivamente de leite materno, além de sempre usarem várias peças de suas roupas como camadas para me esquentar, porém estava cada vez mais difícil conseguir dinheiro para alimentar os dois ou alugar um quartinho dos fundos em algum lugar. Só então, depois de muitas noites dormindo sob o sereno do outono e se abrigando nos fundos das igrejas em estilo gótico quando o inverno castigou tão severamente a capital, meus pais perceberam que não tinham mais escolha. Eles precisavam tomar uma difícil decisão, antes que fosse tarde demais.
Ou os três pereciam de fome e frio em uma cidade desconhecida e tão distante de casa, ou deixavam seu pequeno e frágil primogênito em segurança e voltavam para a Coreia sob domínio japonês, uma vez que o bebê não tinha imunidade suficiente para sobreviver a uma viagem tão longa em um porão tão imundo, úmido e degenerado.
Em um raro entardecer com temperatura mais amena, meus pais me deixaram protegido do frio e recém-alimentado no alpendre de uma grande construção, que possuía uma placa de mármore ao lado da porta com o seguinte letreiro gravado: Enfants de la Terre.
Anos se passaram. Meu 4º aniversário chegou. Nunca fui uma criança tagarela ou de ficar conversando com alguém sem parar, assim como também não gostava de ter contato com as outras crianças por muito tempo. Não que eu fosse uma criança fresca ou algo do tipo, eu só era muito medroso, desconfiado de tudo e tinha muito receio por não entender o que acontecia ao meu redor. Então gastava boa parte do dia brincando sozinho em um canto sossegado, olhando para o teto ou apenas observando as pessoas passando pra lá e pra cá na rua, através da estreita janela do imenso quarto coletivo. Governantas, faxineiras, construtores, cozinheiros, pensadores, filósofos, freiras, choferes, jovens, casais, homens e mulheres, pessoas comuns saindo e chegando nos lugares. Nenhum deles sequer notando minha presença ou meu olhar curioso, enquanto seguiam o fluxo automático e corrido de suas respectivas vidas.
Talvez eu tenha me tornado mais sensível à percepção do tempo por ter vivido tantos anos nesse estado inerte de contemplação. Assistindo estação após estação chegar. Outono, inverno, primavera, verão. Só para tudo se repetir mais uma vez e nada mudar, além da paisagem. Sempre esperando algo. Ou alguém. Sempre agarrado àquela pequena caderneta abarrotada de símbolos estranhos para mim, já que ainda não sabia ler.
E os meses se seguiram, poucos colegas, poucas interações, sempre no meu pequeno mundo. O magnífico universo do incrível Park Jimin. Onde eu podia ser quem eu quisesse, de super-herói, que salvava a cidade do temido vilão, a apenas um simples garoto, aninhado aos braços aconchegantes dos seus pais.
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Ethereal • {jjk + pjm}
FanfictionPark Jimin, membro da alta burguesia francesa, sempre foi dedicado à família e aos bons costumes que regiam a década de 20, e, assim como os jovens da época, costumava sair à noite para divertir-se. Porém, um rosto desconhecido despertará o desejo d...