Parte 4

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Justin

Perguntar como havia sido o dia era o que rodeava minha cabeça. Eu não sabia o que tinha acontecido ou por que ela me deu o conselho - ou me criticou, não tenho certeza -, mas eu havia acatado. Se aquilo tivesse a mínima chance de me ajudar com meus filhos eu faria.

Entrei na cozinha os vendo mais calados do que nunca e sentei na cadeira que eu sempre sentava.
_ Boa noite - saudei, algo que já era um pouco diferente, já que eu sempre ia direto aos assuntos, mas aquilo não os causou estranhamento
_ Bom dia, pai - responderam juntos
_ Bom dia, papai! - Ben falou depois de todos fazendo os irmãos darem um breve sorriso e eu fiz o mesmo.
_ Como foi o dia de vocês? - perguntei e vi três pares de olhos direcionados para mim. Ninguém respondeu de primeira, eles haviam estranhado demais a pergunta e eu me senti mal. Era uma pergunta tão simples. - Ninguém vai responder?
_ Foi normal. Fizemos exatamente o que tem na nossa programação - Luke falou e a expressão dele quase me chamava de idiota. Claro que eu sabia o que eles faziam diariamente. Eu quem lhes dava os horários.
_ Ane e eu fizemos a leitura e assistimos tv juntos - Dave murmurou me olhando como se já esperasse que eu reclamasse sobre aquilo
_ A senhorita Reev disse que você me liberou do castigo. Por isso eu não fiquei na sala estudando - Ane comentou e eu assenti confirmando que a informação era correta
_ Fizeram algo mais de diferente? - perguntei curioso, eu estava gostando daquela conversa.
Observei os três se olharem como se um estivesse pedindo ao outro para que falasse. Dave acabou falando.
_ Nós assistimos um filme e comemos pipoca... na sala... com senhorita Reev...

Eu pensei por alguns segundos se eu deveria falar algo. Não sabia se os lembrava do fato de que os filmes precisavam passar por minha permissão antes, ou se comentava sobre não comer em cima do carpete da sala, ou se perguntava se eles haviam gostado. Mas a última me faria parecer interessado demais.
Mas qual era o problema em eu ter interesse em algo relacionado aos meus filhos?
_ Legal - decidi pela resposta mais curta.
Eles demoraram um pouco antes de começarem a comer, pareciam estar me achando um ser de outro planeta.
E eu não os culpava.

Alicia
Encostei a testa no volante dando um suspiro cansado. Eu não acreditava que exatamente no dia que eu havia decidido sair mais cedo de casa alguém bateu no carro que não era meu.
Parecia piada.
Uma piada de muito mau gosto.
Ouvi duas batidas na janela e ajeitei minha postura vendo um policial me encarando.
Abri a porta saindo do carro com a pior expressão possível.
_ Senhorita, quer relatar o ocorrido?
_ Não sei exatamente o que aconteceu. Eu estava parada no sinal, o sinal verde abriu. Eu mal consegui tirar o pé do freio e senti alguém batendo em mim.
_ A senhorita é a proprietária do carro?
_ Não - fiz uma careta lembrando que eu deveria ter ligado para Justin - eu posso ligar para o dono agora. Estava nervosa e não lembrei de ligar antes.
_ Faça isso, senhorita - se afastou e eu abri a bolsa procurando por meu celular
Dois toques depois a ligação foi atendida.

- Senhorita Reev, aconteceu algo? - como adivinhou, querido?
- Sim - suspirei - eu estava a caminho de sua casa, mas uns quarteirões antes alguém bateu no seu carro, o que estou dirigindo, no caso.
- Ah - um único murmuro. Ah, o que? - o que você quer que eu faça?
- Não que eu queira, mas você precisa vim para resolver algumas coisas que não tem como ser resolvidas por mim.
- A batida foi feia? Alguém se machucou? O carro ainda funciona?
- Foi uma batida mediana. Não só amassou, mas não está destruído. Ninguém se machucou e o carro funciona sim.
- Você acha que consegue dirigir pra cá?
- Consigo. Estou a uns quatro minutos de distância - eu tinha meu cenho franzido em confusão.
- Eu não ligo sobre o carro. Posso chamar alguém para levar para consertar e você fica com outro, enquanto isso.
- Tem certeza?
- Sim. Se a culpa não foi sua, isso ainda será uma economia para a pessoa que causou. Eu me solidarizo com sua situação, mas eu preciso sair de casa em dez minutos e não consigo encontrar uma babá em cima da hora. Não que você seja uma babá - se corrigiu - eu sei que você é professora, não é babá, não foi isso que eu quis dizer
- Eu entendi. E eu sou quase uma babá sim, mas vamos deixar isso quieto por que como professora eu ganho mais.
- Ah é? - o ouvi rindo do outro lado da linha e eu abri um sorriso fraco com isso - talvez a gente precise falar sobre isso depois.
- Eu acho melhor fingirmos que não falei isso.
- Vou pensar - murmurou

_ Senhorita? O dono do veículo já está vindo? - o policial me assustou por ter chegado tão silenciosamente
_ Eu estou com ele na linha, existe possibilidade de apenas sermos liberados?
_ Posso falar com ele para saber exatamente o que ele deseja ser feito?
_ Claro - entreguei meu telefone ao policial que deu alguns passos se afastando enquanto falava com Justin.

Estacionei o carro no lugar de sempre e, assim que saí, vi Justin andando em minha direção enquanto segurava na mão de Ben que parecia extremamente feliz e satisfeito por estar fazendo aquela curta caminhada com o pai.
Ele foi direto para trás do carro para analisar o que tinha acontecido e fez uma careta descontente.

_ Não foi tão ruim. Já liguei para o seguro vim pegar aqui, eles vão ficar o final de semana com o carro e devolver na segunda. Você está bem?
_ Estou bem, só chateada pelo que aconteceu - murmurei e estendi o papel que eu tinha em mãos - essa é a declaração do policial afirmando que não foi minha culpa.
_ Certo - nenhum obrigado - agora eu preciso ir para o trabalho, Ben está manhoso, acho que está ficando doente...
_ Ou carente.
_ O que?
_ Não se preocupe, se eu notar alguma piora eu mando mensagem - dei um sorriso fraco e não muito sincero. Segurei na mão da criança que deu seus passos curtos até mim.
_ Okay, bom trabalho.
_ Você também - acenei vendo Ben fazer o mesmo e logo eu o puxava para entrarmos em casa.

Continua...

***
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