Parte 22

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Alicia

_ Bom dia - cumprimentei Justin que deu um sorriso fraco - como foi o final de semana?
_ Normal... Ane tirou o gesso do braço.
_ Que ótimo! Estou pensando em dar uma aula de matemática prática, o que você acha?
_ Desde quando você me pede permissão? - perguntou rindo e eu ri sem graça.

Realmente, desde quando eu peço permissão? Talvez eu estivesse só querendo alguma interação.

Ele havia saído com um amigo na sexta e no sábado tinha um compromisso do trabalho. No domingo não tinha como fugir das crianças então não ficamos juntos.

Não que eu quisesse que ficássemos juntos, mas era estranho. Como eu saberia que estava tudo bem e que ele simplesmente não queria mais?

A decisão se não nos beijarmos foi minha, eu ainda achava que era uma decisão inteligente e não iria voltar atrás. Mas agora as sensações eram outras.
Por algum motivo desconhecido - ou que eu arduamente fingia não conhecer - eu queria que ele me beijasse.

E isso praticamente acabava com todo meu discurso para Mariah sobre estar sendo um ótimo passatempo e que eu jamais, isso mesmo, jamais, iria me envolver de verdade com um homem que tem quatro filhos. E ele não iria se envolver com uma adulta que finge ser jovem universitária em festas de fraternidade, como Ryan falava. Talvez ele quisesse alguém mais madura e mais séria.

_ Você poderia dormir aqui hoje - sugeriu e meu estômago deu um nó - janta com a gente e provavelmente as crianças vão pedir para você ficar aqui até elas irem dormir.

Eu era uma hipocrita. Peguei todos os meus pensamentos e joguei fora, no mar do esquecimento.

_ Claro. Acho que tenho roupas extras no carro. - dei um sorriso fraco - agora preciso ir, já estou atrasada.
_ Bom trabalho.
_ Você também.

Justin

Era estranha a sensação. Eu estava trocando mensagens com uma mulher enquanto tinha outra dormindo do meu lado.
Eu me sentia estranho, sentia que era errado. Parecia que eu estava traindo alguém, mas quem? Eu não tinha um relacionamento com ninguém.

Eu me sentia um hipócrita, eu odiaria se Alicia estivesse fazendo aquilo comigo, mas eu não via muitas razões para não fazer.

Talvez eu devesse falar com ela sobre isso, mas e se ela quisesse terminar seja lá o que tínhamos? Eu não queria que acabasse.

Eu estava me sentindo um adolescente de dezesseis anos.

"Você está livre no domingo? Poderíamos almoçar juntos com as crianças"

Fiz uma careta não gostando da proposta, mas logo lembrei que no mesmo dia seria aniversário de Ben. Como eu poderia ter esquecido? Ele iria fazer quatro anos!

"Domingo é aniversário do meu filho mais novo. Podemos nos ver no sábado."

Não recebi nenhuma resposta imediata, mas não iria me preocupar com aquilo, precisava levantar para me preparar para o dia que teria pela frente.

...

_ Justin, você tem um recado da sua namorada na caixa postal - Ryan falou entrando na minha sala e fechou a porta atrás de si.
_ Eu não tenho namorada - murmurei deixando os papéis que eu lia de lado e apertei para ouvir o recado

- Oi, querido! Eu e as meninas estamos animadas para domingo. - encarei Ryan que mantinha seus olhos no telefone - já até compramos o presente. Te vejo lá!

Silêncio.
Um minuto de silêncio.
Talvez dois. Ou cinco.

_ Eu espero muito que você já tenha acabado seja lá o que você tem com a Reev - Ryan murmurou e eu passei a mão no rosto
_ É complicado...
_ Você está com Alicia há quase um mês, a Conner você conheceu há duas semanas. Você não pode ficar com as duas, precisa decidir.
_ Não é fácil assim, Ryan - reclamei - eu e a Reev nem nos beijamos, ela não gosta de mim e não tem a mínima chance de termos um futuro juntos. A Helena parece estar disposta a ter um relacionamento de verdade comigo, com ela seria mais fácil.
_ E de onde você tirou que Reev jamais teria um futuro com você? Ou que ela não gosta de você? Ela te disse?
_ Mesmo se ela gostasse de mim, não teríamos um futuro juntos.
_ Me cite um motivo. - cruzou os braços.
_ Vou dizer quatro: Luke, Ben, Dave e Ane. - ele me encarava como se eu fosse um bicho - se a Reev não tem nenhum relacionamento até hoje é por que ela não quer.
_ Cara, eu entendo todo seu histórico e blablabla, mas... nossa! Você só pode ser burro!
_ Do que você está falando?
_ Fale à Reev que você achou alguém melhor, que você gosta e irá te dar um futuro. Não deixe ela descobrir sozinha.

Eu não consegui responder. Eu estava tão confuso. Era uma decisão muito simples: A mulher que amava meus filhos, mas era nova, sem filhos, provavelmente teria opções melhores do que eu e, se tivéssemos um relacionamento, dificilmente teríamos mais que um namoro. Ela não iria querer ser mãe dos meus filhos, ela estava muito confortável em ama-los de longe, por algumas horas no dia sabendo que dormiria sozinha e sem preocupações no dia seguinte.
Ou a mulher que já tinha um histórico como o meu: Foi casada, é mais velha - apesar de eu não ser tão mais velho assim comparado à Alicia -, tem filhos, provavelmente não me cobraria mais, e já sabia ser mãe. Não teria argumentos para jogar na minha cara que eu ja tenho filhos e ela não.

Eu estava tão confuso. Eu sabia que não deveria estar confuso. Algo dentro de mim gritava que eu sabia qual a resposta certa e deveria insistir nela.

Continua...

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