Parte 14

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Alicia

_ Você sempre foi ruim de comunicação? - perguntei voltando a sentar onde eu estava - como você chegou a conquistar as garotas na faculdade?
_ Eu não precisei - deu um sorriso de lado encarando o chão e eu arqueei as sobrancelhas
_ Não imaginei que você era convencido assim.
_ Eu não estou sendo convencido, eu só não precisei conquistar ninguém na faculdade - eu ia soltar mais uma piada, mas ele me interrompeu - eu tinha um compromisso e eu já era pai.

Arqueei as sobrancelhas um pouco surpresa, nunca havia parado para fazer as contas de quantos anos ele tinha quando Luke nasceu, ou os gêmeos.

_ Nossa, desculpe! - fiz uma careta - nunca me preocupei em assossiar isso. Por quanto tempo você e a mãe das crianças ficaram juntos? - aquele assunto não era da minha conta, mas eu estava curiosa e iria proveitar nosso diálogo para perguntar.
_ Dez anos, quase onze.
_ Uau! Isso é admirável, ainda mais que vocês começaram um relacionamento quando eram novos. - abri um sorriso sincero - você deve sentir muita falta dela.
_ Quando ela... faleceu, nós não estavamos mais juntos, romanticamente. Só morávamos juntos por causa das crianças.
_ Serei muito intrometida se perguntar o porque? - encolhi os ombros e ele deu uma risada afirmando com a cabeça
_ Sim, mas eu não ligo - deu de ombros bebendo mais um pouco de seu vinho. - nós começamos a ficar assim que eu entrei no ensino médio, ela estava no ultimo ano. Antes de ela ir para a faculdade decidimos que estavamos namorando.
_ Vocês passaram dois anos separados, mas namorando? - franzi o cenho. Aquilo era muita maturidade, eu jamais conseguiria.
_ Por aí. Eu não gostava disso por que eu era novo e eu queria aproveitar um pouco mais, mas ignorei e não falei nada. Nós nos viamos uma vez no mês, por aí. Apliquei para estudar na mesma faculdade que ela e, no primeiro final de semana, ela me contou que estava grávida.
_ De você?
_ Claro! - me encarou com o cenho franzido - de quem mais seria?
_ Não sei... que bom que você confiava nela. Continue...
_ Por isso não aproveitei meus anos de faculdade. Além de tudo ela era muito ciumenta.
_ Dave e Ane são apenas dois anos mais novos que Luke, não é?
_ Eles foram o maior erro que cometi na minha vida - eu arqueei as sobrancelhas um tanto quanto assustada com aquela declaração - não eles, mas o ato. Eu jamais vou me arrepender de ser pai deles dois, mas só foi em um momento ruim.
_ Deve ter sido difícil ser pai de três enquanto estava na faculdade.
_ É. A mãe deles já havia terminado a faculdade, então ficava um pouco mais fácil, mas não é por isso que o momento foi ruim.
_ E por que foi?
_ Eu começei a gostar de outra pessoa na faculdade, não gostar de estar apaixonado, mas eu me atraí por uma menina que cursava direito e eu notei que, mesmo sem saber o nome dela, ela me dava mais sensações do que minha própria namorada. Quando cheguei de férias da faculdade eu estava disposto a terminar o namoro, mas ela mal me deixou falar algo e me disse que estava grávida.
_ E você desistiu de terminar?
_ O que eu podia fazer? - murmurou - ia a deixar sozinha com dois fillhos? Bem, três, mas não sabiamos disso ainda. Minha mãe acabou meio que me obrigando a pedir ela em casamento. Eu pedi e ela aceitou. Casamos um pouco antes dos gêmeos nascerem.
_ Você decidiu reaprender a amar ela ou apenas se conformou?
_ Eu tentei ter algum sentimento, mas cada dia que passava era como se eu fosse só dela...
_ Vocês eram casados, então não é errado.
_ Quando eu digo só dela, e por que era, literalmente, só dela. Ela era possessiva, não me deixava ver Ryan, sair sozinho e nem mesmo meus pais poderiam chegar perto de mim. Eu só tinha, sei lá, vinte e quatro anos e aquilo era o pior momento da minha vida. Nós brigamos por isso, ela pediu divorcio, eu aceitei, mas ela não assinava os papeis e isso caiu no esquecimento, eramos acostumados a morar juntos, dormiamos juntos, faziamos tudo o que um casal faz, mas não existia sentimento da minha parte. E acho que da dela não existia também.
_ Vocês passaram anos assim? Ben foi mais uma consequência também?
_ Sim, passamos uns cinco anos assim. E Ben não é meu filho - eu engasguei - ele é meu filho por que eu o amo como amo os outros, mas ele não tem meu DNA.
_ É a primeira vez que você fala que ama seus filhos - dei um sorriso fraco. Havia mudado de assunto por que eu não sabia o que falar.
_ Eu não sou o monstro de coração de pedra que você acha que sou. Claro que amo meus filhos!
_ Não acho você um monstro, Justin. E não duvido pelo seu amor por eles, só estou comentando isso por que nem todo mundo consegue amar e dizer isso. E eu não diria que você tem um coração de pedra, eu diria mais que é de gelo. - dei uma risada fraca
_ Você não poupa elogios quando é comigo - revirou os olhos - deve estar se vingando pelas crianças. - eu ri negando com a cabeça - posso só pedir para você não compartilhar o que eu disse? Nem mesmo com sua amiga...
_ Eu não falo da sua vida ou das crianças para ela. Jamais faria isso. Quando eu disse que o que ela sabe sobre você é futo de pesquisas dela, eu falei sério.
_ E você nunca pesquisou meu nome ou procurou saber o que eu faço?
_ Não me interessa - dei de ombros - para mim, você é a pessoa que eu convivo. Digo, sei que você tem uma empresa, quatro filhos, foi casado, teve um casamento conturbado e não é pai biológico do seu filho mais novo, mas tudo isso você quem me contou. E também sei que nunca foi para uma festa de faculdade, e isso é triste. São as melhores.
Ele riu me encarando
_ Você já foi para muitas?
_ Eu e Mariah sempre vamos, ao menos três vezes ao ano quando nossa agenda permite.
_ As fotos que ela me mostrou...
_ Esqueça essas fotos, por favor! Mas a que eu estava com um copo era em uma festa, a que eu estava na cama foi no dia seguinte e a outra foi quando eu estava me vestindo para sair com ela.
_ Ela é sua única amiga?
_ Ela é minha melhor amiga.
_ Ryan me pediu para procurar saber se ela é uma boa pessoa para se relacionar, não sei como ser discreto na pergunta.
_ Ela é completamente maluca no bom sentido. Ela, como amiga, é incrível. Não sei em relacionamentos romanticos por questões obvias, mas ela é do tipo que passa uma semana fazendo um presente à mão para dar ao companheiro por nenhuma razão. Ela é bem séria e exigente algumas poucas vezes, mas na maioria ela é romantica e gosta de fazer piadas. Se seu amigo achar que não conseguirá lidar com isso, acho melhor ele se afastar no início. Eu não quero minha amiga chorando pelos cantos por causa de homem.
_ Irei passar o recado - assentiu com um sorriso fraco - ela é mais nova que você?
_ Sim.
_ Quantos anos?
_ Um pouco mais de dois - franzi o cenho com a pergunta
_ E quantos anos ela tem? - puxou o canto da boca em um quase sorriso e eu entendi o motivo das perguntas.
_ Se você quer saber minha idade é só perguntar - ri percebendo o rosto dele ficar avermelhado
_ Não quero ser indelicado. É uma curiosidade.
_ Eu tenho vinte e sete - falei de uma vez, aquilo nunca foi problema para mim - e também tenho que ir para casa. Está ficando tarde.
_ Você veio de carro ou precisa de um taxi? Eu ofereceria carona caso...
_ Não precisa se preocupar, eu vim de carro. - levantei e ele me imitou - obrigada pelo convite, foi uma noite interessante. Prometo me resolver com Dave na segunda-feira.
_ Não precisa se incomodar com Dave, ele vai ser assim para sempre se sempre tiver tudo o que quer - eu ri negando com a cabeça
_ Eu não sou assim. Ele tem um pouco de razão, alem de tudo. Ele ainda é uma criança e, não quero ser ofensiva, mas você é o único exemplo de adulto que ele tem e isso não é o melhor cenário para se crescer...
_ Não sou capaz de discordar de você - deu uma risada curta - obrigado por ter vindo.

Justin me acompanhou até perto do carro - que era dele, mas eu estava usando - e eu dirigi de volta para casa. Tirei a maquiagem, tomei banho e logo dormi.

Continua...

Notas
O que foi essa conversa? Explica um pouco do porquê Justin ter esse jeitinho que ele tem, o que será que vai sair dessa conversa? Alguma ideia? 🤔

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