Parte 7

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Alicia

_ Amiga, como está seu novo emprego? - Mariah perguntou comendo mais um pedaço da pizza que havíamos comprado para dividir. Nós duas dividíamos o apartamento aos finais de semana, durante a semana ela trabalhava em outra cidade e ficava por lá.
_ O que eu não sei se ainda tenho? - ri atraindo o olhar dela - eu adoro aquelas crianças com todo meu coração, mas o pai delas é um pouco... difícil.
_ Como assim? Ele atrapalha a rotina? - se virou para mim curiosa
_ O contrário, as crianças tem uma rotina rígida e tanto eu quanto elas temos que pisar em ovos pra fazer qualquer coisa.
_ E o que você fez que te faz pensar que foi demitida?
_ Eu o chamei pelo primeiro nome e acho que ele não gostou - encolhi os ombros - depois ele me chamou de Alicia e eu acabei sendo um pouco grossa dizendo que era senhorita Reev.

Minha amiga me encarou como se eu fosse um bicho, a vi cruzar os braços me olhando com aquele olhar julgador que ela tinha e eu me encolhi mais no sofá.

_ Não era só você pedir desculpas e seguir a rotina? Está tudo bem se confundir vez ou outra e isso nem é nada demais. Que tipo de ego ferido alguém precisa ter para não aceitar ser chamado pelo próprio nome?
_ Ele não disse que não aceita, mas perguntou por que eu estava o chamando de "Justin" e eu fiquei super constrangida.
_ Eu teria dado em cima dele, dito que era para me sentir mais próxima e ainda teria dado aquele toque sensual no ombro, sabe?
_ Você não pode estar falando sério, Mari. Você é louca, ele é o pai dos meus alunos!
_ E daí? Também é solteiro e é um gato.
_ E desde quando você o conhece?
_ Não é difícil digitar o nome dele no Google e ver a cara dele estampada no site da empresa, junto com o sócio dele que é um outro gato - abriu um sorriso - por favor, amiga. Se aproxima e faz Ryan Butler me conhecer e se apaixonar por mim. Tudo o que eu preciso é de um homem rico para mim.
Revirei os olhos.
_ Amiga, a última coisa que precisamos é de um homem. E quem vê você falando assim nem parece que é uma nutricionista renomada e está usando uma blusa da Chanel para ficar em casa.
_ Mas eu não reclamaria de ter um relacionamento agora, já passou meu luto do término anterior.
_ Você supera rápido - dei uma risada da careta que ela fez dando de ombros dando mais uma abocanhada na pizza e voltando a prestar atenção no filme que assistíamos.

Justin

_ Luke, onde estão seus irmãos? - perguntei assim que entrei na cozinha para jantar. Eu só via Ben e ele
_ Dave está de castigo e acho que Ane está no quarto - murmurou
_ Você a avisou que estava descendo? - ele assentiu - okay.

Era a primeira vez que aquilo acontecia, eu sabia que ela estava chateada comigo por diversas razões e eu não queria piorar a situação agindo antes de pensar em algo. Se eu estava querendo mudar a relação com meus filhos, eu não deveria ter impulsivo. O problema é que eu não sabia fazer aquilo sozinho.

E aparentemente havia afastado a única pessoa que estava disposta a me ajudar. Eu sabia que ela conhecia meus filhos há anos, eu jamais a deixaria passar o dia em minha casa se eu não tivesse a certeza de que ela é uma boa pessoa. As crianças não sabiam disso, mas depois de ver algumas gravações em que a professora anterior apontava o dedo no rosto deles e era extremamente grosseira, eu quis que eles escolhessem a próxima e coloquei Alicia Reev dentre as opções.
Eles não sabiam disso, obviamente, achavam que me escondiam aquilo e acreditavam que a outra professora havia sido demitida por uma aula fora do cronograma - aquilo foi só um pretexto.
Eu me importava demais com meus filhos e jamais iria permitir que alguém os tratassem como ela os tratava, e ele nunca falaram sobre aquilo a mim.
Eles achavam que eu simplesmente não me importava. E eu queria mais do que tudo que eles soubessem que eu me importava sim. Eles eram meus filhos, eu só precisava aprender como.

_ Luke - chamei meu mais velho que quase engasgou com a comida na boca pelo susto de eu ter o chamado - por que seus irmãos gostam tanto da senhorita Reev?
Ele franziu o cenho se encolhendo nos ombros. Sempre tinham receio de falar qualquer coisa comigo e eu queria que isso mudasse, e eu precisava dar voz aos meus filhos, queria que eles conversassem comigo.
_ Ela... é legal - murmurou - ela gosta da gente e trata a gente bem.
Ouch. Eu ia perguntar se eu não fazia o mesmo, mas eu não queria ouvir aquela resposta.
_ O que vocês fizeram hoje?
_ Nós... Ahn... fizemos um picnic no quintal.
_ Vocês gostaram?
_ Sim. Foi diferente - deu um sorriso fraco - a gente teria ficado mais se Dave não tivesse se machucado - suspirou - foi por isso que você a demitiu? Por que Dave se machucou?
Franzi o cenho negando com a cabeça. Eles realmente acharam que eu tinha a demitido.
_ Eu não a demiti.
_ E por que ela não se despediu? Todo mundo que você demite vai embora na sexta, por isso que a gente preparou um presente para ela - suspirou parecendo cansado
_ Como assim?
_ A gente ficou com medo de ela não voltar e queríamos dar um presente...
_ Eu posso saber o que era o presente? - Eu não tinha visto o que tinha dentro da sacola, eu me sentia mal e culpado por aquilo.
_ Só umas coisas que a gente gosta... está dentro da sacola que Ane deu.
Assenti, preferi não falar nada mais. Queria ver um jeito de me retratar com Ane, sentia que também deveria falar com Dave, mas ele havia falado coisas muito pesadas  e deveria ser um exemplo para que os irmãos não repetissem.
E eu precisava descobrir como teríamos o momento em família se a metade dela estava querendo me evitar. Talvez fosse uma boa ideia só não forçar.

Alicia

_ Alicia, tem uma coisa para você - Vi minha amiga entrar segurando uma sacola de papel que tinha um laço a fechando. Franzi o cenho confusa estendendo o braço para pegar.
_ Quem mandou?
_ O porteiro disse que um rapaz deixou aqui uns minutos atrás e eu trouxe.
_ Obrigada - dei um sorriso fraco abrindo a sacola com muito cuidado e curiosidade

Tinha alguns envelopes dentro, o primeiro nome que eu vi foi o de Dave e dei um sorriso maior pegando o restante dos envelopes.

"Você é a melhor professora do mundo. Você é legal, inteligente e muito bonita. Obrigado! - Dave"
"Eu gosto muito de você! Você parece gostar de mim e dos meus irmãos e é muito legal. - Ane"
"Obrigado por me ajudar nos estudos. Você é muito gentil. Ben também gosta de você. - Luke"

Dentro da sacola tinha uma pulseira de miçangas rosas que com certeza eram de Ane, um carrinho que imitava uma Ferrari que deveria ser de Ben, um pingente em formato de controle de vídeo game que provavelmente era de Luke e um boneco pequeno do Batman que eu já havia visto no quarto de Dave.
Não entendi o por que eu recebi aquilo, eu havia adorado os bilhetes e desenhos que haviam sido feitos nos papéis, mas os objetos poderiam me dar uma dor de cabeça enorme mais para frente.

_ Foram das suas crianças?
_ Sim. Eles são uns amores, Mari.
_ Eu também faço acompanhamento nutricional infantil, caso queira me indicar - deu um gole no café como se não tivesse falado nada demais.
_ Você está passando por alguma crise financeira? - a encarei - fazem dois dias que você só fala em dinheiro
_ Não estou, mas se eu não tiver trabalho vou estar - revirou os olhos - e eu estava brincando, não precisa ficar com ciúmes dos seus bebezinhos.

Revirei os olhos a ignorando. Coloquei os objetos de volta na sacola pois precisaria conversar sobre aquilo assim que voltasse ao trabalho e guardei as cartas em minha cômoda, onde eu guardava boa parte das coisas que eu recebia de meus alunos.
Eu tinha que dar razão à Mariah quando ela dizia que o que eu tenho de alunos que me amam, falta de homens que me queiram.
Era uma brincadeira sem graça, mas era a verdade. Por alguma razão eu tinha muitos alunos de todas as idades que me adoram. Existiu até mesmo um ano que todos os dias meu aluno de seis anos levava alguma coisa para mim, seja chocolate, fruta, flor ou um chiclete, nunca deixava de faltar, mas eu tinha certeza que eram "presentes" mais do pai dele do que dele mesmo. Eu o ignorava de todas as formas possíveis, o fato de me envolver com um homem que tem um filho me apavorava.

Continua...

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