o retorno - 𝒈𝒂𝒃𝒓𝒊𝒆𝒍 𝒈𝒐𝒖𝒍𝒂𝒓𝒕𝒆 [ 1° Parte COMPLETA ]

🍪 3.1

🍪Gabriel.

Era hoje que saia a matéria da Anne, todo mundo tinha combinado de ir até a casa da Anne as 18 horas. Me arrumei, e fui pra lá.

Chegando no apartamento dela, toquei a campainha e depois de uns minutos ela atende.

- Oi! Entra. - Ela falou me dando passagem.

- Oi. - Cumprimentei ela. - Fui o primeiro a chegar? - Perguntei o óbvio, visto que não tinha ninguém ali.

- Sim. - Ela soltou uma risadinha. - Quer alguma coisa?

- Um copo de água, por favor. - Pedi

Ela assentiu e foi até a cozinha.

- Aqui. - Ela me deu o copo e eu agradeci com um sorriso.

- Eu vou terminar de me arrumar, você se importa em esperar um pouquinho?

Parando pra reparar ela estava com um blusão branco, um short preto de pijama e seu cabelo bagunçado em um coque mal feito.

- Não, sem problemas. - Respondi e me sentei no sofá.

Ela foi pro cômodo que provavelmente era o quarto dela e ficou lá por uns 30 minutos.

- Pronto. - Ela se sentou do meu lado.

- Anne, posso conversar com você? - Perguntei e ela me olhou meio preocupada.

- Claro, aconteceu alguma coisa?

Contei da minha conturbada relação com a Júlia, ela ouvia atentamente a todo momento.

- Gou, acho que você tem que conversar com ela, sabe? Se decidirem se essa relação está sendo boa pra vocês dois. Acho que independente da pessoa, a felicidade deveria ser pra todos, percebi que ela é meio... cabeça quente, mas se vocês se gostam, tem como fazer isso funcionar, e se decidirem que isso que vocês tem não está bom, vocês tem que se deixarem ir. - Ela falou olhando em meus olhos o tempo todo.

Anne sempre trabalhou bem com as palavras, sabia o modo certo de falar com alguém, sabia que podia contar com ela pra conversar sobre isso.

- Obrigado, Anne. - Puxei ela pra um abraço e senti o cheiro de seu perfume forte e intenso.

A campainha toca e Anne se levanta pra atender. Eram Pietro, Lis, Camila e Nathalia.

- Oi oi galerinha. - Lis brincou.

- Fala ai gente. - Cumprimentei a todos que tinham acabado de chegar.

O resto do pessoal não demorou muito e chegou logo depois.

- Anne, que horas a matéria sai? Tô ansiosa. - Nath falou e riu depois.

- Sai as 19 horas, Lucas me avisou. - Anne esclareceu.

Quem diabos era Lucas?

- Quem é esse? - Camila perguntou como se tivesse lido minha mente, porém seu tom era malicioso.

- Meu chefe, sua louca. - Anne riu e jogou uma almofada na amiga, fazendo a gente rir com a cena.

O relógio marcava 18:54 e nós queríamos que a hora passasse mais rápido, Anne não tinha comentado nada sobre o que escrevera.

A hora passou arrastada, atualizamos o site do jornal e lá estava a última notícia publicada.

O computador estava conectado a televisão e assim Lis começou a ler em voz alta.

- "Não é nenhuma novidade que várias mulheres são estupradas e assediadas, e quantas vezes isso não vem a luz? Bom, eu resolvi jogar um pouco de luz na minha história e é ela que eu vou contar agora..."

Camila continuou. - "...Todos conhecem o famoso jogador de futebol, Gustavo Paes, o homem perfeito, de acordo com muitas pessoas, algo engraçado, já que ninguém conhece a verdadeira face desse homem, mas hoje tudo muda..."

Estávamos todos surpresos, era sobre aquele desgraçado que ela escreveu.

- "...Conheci Gustavo Paes através de amigos em uma festa, a princípio parecia ser um cara super tranquilo e calmo, então deduzi que me tornaria amiga dele com grande facilidade..." - Nath, que estava lendo, parou. Sua voz estava fanha ela estava com os olhos marejados.

- "...Me mudei de volta pro Rio de Janeiro a pouquíssimo tempo, e pra comemorar, decidi fazer uma festa e convidei os meus amigos e alguns conhecidos. Gustavo estava nessa lista. As pessoas foram chegando, a festa estava boa para todos..." - Lari parou e Bernardo continuou.

- "...Eu estava pegando uma bebida para mim, e Gustavo chega perto de mim, e tenta me beijar, sem sucesso já que um dos meus amigos me ajuda a escapar daquela situação desconfortável que eu me encontrava..." - A melancolia era perceptível na voz de todos, olhei para a escritora daquilo e seus olhos brilhavam com as lágrimas que ela segurava para não deixá-las cair.

Dessa vez Pietro leu. - "...O resto da festa pra mim, depois do acontecimento anterior, foi desconfortável, eu me senti reprimida e ameaçada. Resolvi me servir de mais um copo daquela bebida para ver se aquilo me distraía um pouco..."

-"... Até ver aquele jogador se aproximar novamente perto de mim, eu estava tão desesperada pra ficar longe do mesmo, que acabei esquecendo meu copo em cima da bancada, Gustavo me sinaliza que esqueci meu copo..." - Lorenzo foi incapaz de continuar também.

Era minha vez de continuar. - "Bebi um gole do conteúdo e no mesmo momento minha cabeça tinha ficado pesada... - Parei, minha voz tinha ficado entalada na garganta, como quando seguramos o choro e aquele nó se forma. - ... Ele me puxou pro banheiro e na minha mente aquilo tudo é meio borrado, mas ele me beijava e eu implorava para ele parar, mas minhas súplicas não serviam de nada, aquela noite foi o meu pior pesadelo, ele rasgou a blusa que eu usava e me deu um tapa no rosto, nunca tinha me sentido tão exposta ao perigo. Meus amigos notaram minha ausência e foram a minha procura, e se não fosse por eles, a situação que já era ruim poderia ter ficado pior. Eles cuidaram de mim, e o Gustavo Paes foi preso. Porém o que mais me deixou com raiva foi nada disso ter saído em nenhuma plataforma de comunicação, isso tem que ser mostrado ao público, será que teve mais mulheres que passaram pelo mesmo? Não sabemos já que encobriram tudo. Eu fui a única que veio a público expor o caso, a única que teve coragem, já que muitas tem medo de acontecer algo com sua vida ou com alguém que se importam. Por isso faço um único pedido, não se calem, quando sentirem medo lembre-se, outras passaram pelo mesmo, e quantas mais tem que ser abusadas para que alguém faça algo?... - Eu já chorava naquele momento, isso foi o que a Anne sentia, e transmitia tanta coisa ao mesmo tempo, tudo tão intenso. - ... as mulheres tem que se protejer, por isso fiz essa matéria com um único intuito: Justiça.

- Anne Schumacher.

Depois do fim da leitura eu corri pro lado da Anne e a abracei como nunca antes, logo depois o pessoal nos abraçou também e fizemos um abraço coletivo. Lágrimas, elogios foram trocados ali, Anne tinha muita coragem de fazer o que muitas não fazem e eu tinha orgulho dela. Ela é uma mulher forte.