como destruir um casal

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Tsukishima tinha suas manias, suas defesas.

Tinha seu jeito de dizer que se importava sem, necessariamente, usufruir de palavras ensaiadas ou de um dicionário qualquer. Tinha seu modo de preocupar-se com Tadashi, embora muitas vezes não transparecesse. Ele, acima de tudo, tinha seu estilo de falar que jamais permitiria que a amizade deles acabasse.

Para Kei, não importava que Yamaguchi estivesse embolado em cobertas e se recusasse a vê-lo.

Não mesmo.

Não importava também, que seu coração estivesse irritado por conta da crise de ciúmes sem fundamentos que teve. A única coisa que realmente estava no seu alvo era a amizade que existia entre eles. E, se ela estivesse ameaçada, ele não se importaria de usar todas as suas armas.

— Isso é idiota, infantil e não tem lógica. Você não sabe o motivo de estar bravo comigo — o loiro alfinetou e se acomodou ao lado do bolinho de lençóis com recheio de Yamaguchi.

— Você quem começou! — replicou com a voz abafada.

— Ok, eu comecei o que? — ergueu uma de suas sobrancelhas e puxou delicadamente a parte do edredom que cobria a cabeça envolta em fios lisos acastanhados.

Tadashi soltou um muxoxo tristonho, bolou no colchão e rastejou de um jeito que sua cabeça encontrou o colo de Kei. Este, que se dispôs a acariciar os cabelos sedosos.

— Falou que eu não tinha atitude. — infantilmente baixou o tecido até abaixo do queixo. — E depois começou a me tratar muito, muito mal mesmo.

— Hm. — Kei calou-se de repente. Yamaguchi ergueu o campo de visão ao comparsa que veio a desviar os olhos e ajeitar os óculos que escorregavam pelo nariz fino. Yamaguchi vislumbrou o maxilar bem definido e a clavícula que aparecia graças a camisa gola V.

— Tá vendo, você nunca assume a culpa, sempre é eu isso, eu aquilo. Yamaguchi age por impulso e blá, blá, blá!

— Mas você age por impulso — calmamente tornou a mira-lo. Tadashi sentiu um instinto feroz de confrontá-lo e esfregar em sua cara todos os erros e vacilos já cometidos. Ah! Se ele começasse não terminaria tão cedo. — Mas eu assumo que agi errado — pigarreou o loiro. Yamaguchi bateu os cílios escuros numa expressividade surpresa, como quem perguntava o que estava acontecendo — Desta vez. — tornou a fugir dos olhos amendoados.

— Há! — comemorou e tornou a esconder-se em meio as cobertas gordinhas e calorentas. Kei deixou-se sorrir com tamanha infantilidade, mas logo viera a ficar sério. Com os dedos finos, puxou um pouco do tecido para baixo até que encontrou os orbes de Yamaguchi.

— Você é bobo, Yams. — deu uma longa pausa para poder observar as expressões contorcidas em desagrado — Mas eu gosto de você.

Saiu quase que sem querer. As palavras haviam escorregado como sabão. Pareciam que tinham vida própria e isso, significava perigo.

Perigo, pois, se Kei não conseguia manter em sigilo uma sensação, o que mais ele deixaria escapar?

Tsukishima apenas deu-se por conta de suas palavras segundos depois. Arregalou os olhos, abriu e fechou a boca, aflito. Como poderia ter cometido tamanha gafe?

Suas bochechas esfoguearam, seu rosto vestia um tremendo espanto. Amaldiçoou-se. Jurou que se torturaria das piores formas possíveis quando chegassem em casa.

— Eu preciso ir — uma subtaneidade de lucidez correu por seu corpo junto a um jorro de adrenalina. Tsukishima queria correr, mas suas pernas estavam fixas naquela cama. Tadashi fora veloz. Antes que Kei pudesse juntar forças para erguer-se, livrou-se das cobertas e se fixou rente ao loiro atônito.

Verdade ou DesafioOnde histórias criam vida. Descubra agora