Capítulo 1

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Benjamin Organa-Solo. Príncipe de Alderaan.

Um título. Somente.

Alderaan transmitia seus cargos de modo matriarcal. Um príncipe, mas sem direito nenhum ao trono

Um título, ao qual ele já estava bem mais que conformado, inclusive. Mesmo assim escolheu estudar Ciências Políticas – mais para ajudar sua irmã, Kaydel, a verdadeira herdeira do trono do que qualquer outra coisa –, se debruçar em todas as teorias e leis de direito político que pode por a mão em seus 27 anos de vida. Graduado e mestre em Ciências Políticas pela Escola Superior de Hosnian Prime, ele pensou que literalmente tinha feito de tudo – principalmente depois de passar seis meses servindo nas forças militares de Alderaan –. Mas não.

Ele tinha que virar babá.

Conversaria seriamente com Leia Organa mais tarde, na sua ligação diária a mãe.

Após a morte de Qui-Gon e todo os preceitos de luto pelos quais a família real de Exegol se submeteu, Leia havia deixado a sugestão de que seria boa uma companhia a Sheev nesse momento. Não era estranho a Ben (como ele preferia ser chamado) ficar algumas temporadas em Exegol. Depois de um desentendimento derradeiro com seu antigo conselheiro, Anthony Snoke e o afastamento definitivo deles, acompanhado de Armitage Hux, seu amigo de longa data, colega de quarto, de farda e de quase tudo que fazia. Armitage agora é o secretário pessoal de Sheev, controlava a agenda e os interesses pessoais dele e era uma posição confortável para o ruivo, que não era de esconder nada para Ben.

Ele até sabia da existência da princesa de Exegol, não era algo novo a ele, mas nunca passou pela cabeça dele que havia toda uma confusão envolvida. Céus, ela era a única herdeira! Se bem que era claro e sólido que Qui-Gon assumiria a corte em pouco tempo. Sheev já havia confidenciado a ele que o filho queria que a filha tivesse escolhas, sem toda essa carga que a coroa exigia (e ele sabia bem, mesmo sem ser herdeiro). Reyline fazia Engenharia Aeronáutica, um curso que tradicionalmente formava poucas mulheres. Segundo o arquivo que tinha tido acesso era uma das melhores alunas da turma, mas extremamente introvertida. Falava além do Básico, algumas outras línguas, era o suficiente por hora. Mas necessitava ser polida, isso sem dúvidas. Seguia deitado em seu quarto na embaixada de Exegol, quando viu que seus pensamentos não deixariam descansar como pretendia. Tinha dormido muito pouco pela noite e sabia que não teria dias fáceis pela frente. Han Solo estava a poucos dias de chegar em Coruscant. Ele amava seu pai, sim, amava. Praticamente um conto de fadas. Morador de um estado pobre, dominado por sindicatos do crime, saiu basicamente pela tremenda lábia de Corellia, constrói a Falcon Enterprises (seu tio Lando que o diga), conhece a então princesa de Alderaan, se casa e tem dois príncipes. Han, além de consorte, um CEO exemplar. Mas um pai relapso, pelo o menos nos assuntos relacionados a Ben.

Levantou da cama e buscou o surrado mas extremamente necessário conjunto de caligrafia que o seguia onde que fosse. Tinha alguns, mais novos, com mais detalhes, mas aquele, dado por Leia quando tinha 13 – que Amilyn ajudou a escolher, inclusive –. Escrever sempre fora uma terapia para ele. As letras eram um padrão, uma forma a ser combinada e encarada de forma que passavam mensagens, códigos ou o que mais fosse possível. Logo veio na cabeça uma frase de um trecho da obra de Sheakespare, As You Like It.

O mundo é um palco, os homens e as mulheres são meros artistas que entram nele e saem.

Ben definitivamente concordava com as cruéis palavras de Sheakespare. As pessoas eram inconstantes, em sua imensa maioria. Se portavam do modo que queriam ser vistas, escondendo seu verdadeiro eu para obter sempre o melhor para si e seus interesses. Ele olhou para a frase recém escrita, em letras claras e bonitas. Eram anos de prática, então era um resultado esperado. Um toque estridente do aparelho celular cortou seus pensamentos. Kaydel, em algum momento aleatório (e ele não conseguira desfazer) configurou alguns toques diferenciados para ela e a mãe. O que tocava agora era o da mãe. Tirou do carregador e colocou no viva voz, enquanto voltava a escrever – o seu nome, dessa vez ­–.

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