Capítulo 3 - Um Passo mais Perto

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Não sabia se era só por causa de sua "condição", ou se realmente era uma característica própria, mas Pamela Isley sempre foi bastante introspectiva e quase uma antissocial completa se não fosse as obrigações do dia a dia que a faziam sair de casa. Nunca gostou de fazer amigos, nem na época da escola. E quando milagrosamente acontecia, não levava adiante por simples falta de talento ou vontade. Parecia mais fácil e mais cômodo viver sozinha entre quatro paredes, afinal, sempre foi assim desde criança. Os pais nunca estavam lá, nunca se importaram o bastante então por que ela deveria?

Inesperadamente conheceu Selina ainda no colegial e deram início a amizade do século. Elas eram inseparáveis, mesmo com todas as ausências de Pamela, que tinha épocas em que simplesmente desaparecia e mal respondia às mensagens. Ainda assim, Selina nunca desistiu dela, nunca a deixou de lado. Estava sempre lá para todos os momentos e assim que Pamela colocava a cabeça no lugar, elas voltavam a sair para cima e para baixo. A maioria dos passeios envolviam álcool pois eram duas beberronas. A amiga, ao contrário de Isley, gostava e muito de se envolver com as pessoas, de fazer amizades, de colecionar homens. Era uma amizade interessante, porque as duas eram como dois opostos.

— Então quer dizer que a vizinha gostosa te defendeu na reunião de condomínio e ainda apareceu no seu grupo de terapia? Puta merda, Pam. Você está com tudo esses dias! — Selina provocou toda sorridente, dando uma golada em seu vinho tinto.

— Não seja idiota... São só coincidências que não significam nada.

— Pode até ser coincidência estarem no mesmo grupo, mas ela ter te defendido na reunião não é, não. Harley estava tentando aparecer pra você de alguma maneira — insinuou e a ideia fez Pamela corar. Não havia pensado por esse lado.

— Não faz sentido, somos vizinhas há mais de um ano e nunca sequer havíamos conversado — argumentou, quase virando toda sua taça. Estavam em um restaurante no centro que ambas adoravam. — De qualquer maneira, vai ser muito constrangedor seguir naquele grupo de terapia. Como vou falar das minhas particularidades?

— Com a boca?! — a morena gargalhou, mas parou ao ver o olhar crítico da melhor amiga. — Não seja tola, Pam. Ela também vai se expor, certo? Aliás já começou. Disse na sua frente que é bipolar... Por que você não disse que também era?

— Por que você fala como se tudo fosse simples ou como se estivéssemos em um filme? Deus, Selina! É minha vida pessoal sendo revelada para a minha vizinha de porta. E se... — começou a procurar desculpas para justificar seu medo irracional. — Se ela contar aos outros vizinhos dos meus problemas? Se disser que eu sou louca?

— Por favor — fez um gesto com a mão — Isso é ridículo. Você mesma disse que soube que ela é PhD em Psicologia! Ela jamais faria algo parecido, Pamela. Pare de ser maluca. Esse seu medo aí está me parecendo outra coisa... — disse com ligeira desconfiança, porque conhecia muito bem sua amiga. Conhecia há exatos quinze anos. — Você está mesmo com tesão por essa loira.

— O quê? — Pamela quase gritou, ficando toda vermelha. — Por favor, Selina, não seja ridícula! — riu de nervoso e bebeu outro gole do vinho. — Isso nem faz sentido.

— Como não? Você é a maior sapatão que eu conheço e Harley é bissexual, além disso você me contou que trocaram altos olhares durante a sessão.

— Vamos mudar de assunto — decretou ao finalizar seu vinho. — Não quero mais falar sobre isso.

Naquela sexta, Pamela chegou em casa ligeiramente alcoolizada. Depois de entornar com Selina duas garrafas de vinho, mal conseguia andar sobre os saltos sem achar que ia cair. Resolveu tirá-los assim que desceu do elevador. Segurava-os em uma das mãos e com a outra revirava sua bolsa atrás das chaves. Era padrão ter dificuldade de achá-las quando estava bêbada.

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