Fazer terapia era um negócio complicado. Muito bom, mas extremamente difícil, ainda mais no início. Terapia em grupo, então... Era outro nível. Harley mal havia começado e já estava arrependida. Dividir seus pensamentos, suas emoções, sua história com várias pessoas estranhas não a agradava, mas seu psiquiatra insistiu tanto que ela acabou cedendo e lá estava, sentada no meio de uma dúzia de cretinos e uma gostosa que era sua vizinha. A gostosa era cretina também, ou pelo menos foi ao evitá-la nos últimos dias, mas agora Harley estava certa de que isso havia ficado para trás.
Harley passava a maior parte da sessão revirando os olhos, pensando em coisas aleatórias, mexendo no cabelo, as vezes até mesmo mascando chiclete, o que era desrespeitoso em muitos níveis, mas ela simplesmente não se dava conta.
— Harley? — Tonia chamou de repente, tirando-a de seus devaneios.
A loira a olhou com um sorriso instruído.
— Quer falar agora da sua semana?
— Minha semana foi sem graça — disse simplesmente, porque não estava afim de falar. E ao dizer isso, viu uma expressão que a deixou intrigada. Pamela pareceu decepcionada com sua afirmação. — Quer dizer, teve um evento especial... Fora ele, o resto foi sem graça.
— Evento especia? Agora deixou todos nós curiosos.
Vaca de terapeuta!
Pamela não parava de encarar Harley, embora tentasse fazer isso da maneira mais sutil possível. Seu coração simplesmente disparou com a declaração dela, embora não achasse possível que a loira estivesse se referindo ao beijo delas.
I don't wanna talk about it - Fernanda Takai ♪
— Eu beijei uma pessoa e foi especial, quer dizer, pra mim foi especial, não sei pra ela — Harley disse, erguendo os olhos corajosamente em direção aos verdes. — Foi a primeira vez em muito tempo que beijar alguém significou algo.
Tania ficou empolgada com a declaração da paciente. E ela não foi a única.
— Você está saindo com essa pessoa, Harley?
— Oh — a loira ficou sem jeito. — Não, foi algo mais... Só aconteceu. Estávamos lá, ao mesmo tempo, e simplesmente aconteceu. Não acho que vai acontecer novamente, provavelmente não tenha significado nada para ela, mas pra mim... Eu não sei, é meio ridículo. Eu devo parecer ridícula falando sobre isso.
Dra. Isley mal conseguia respirar ou disfarçar as emoções tomando seu corpo. Ela tentava a todo custo se manter "inteira", não desmanchar na cadeira...
Harley não sabia de onde diabos estava vindo tudo aquilo. Talvez tenha reprimido suas emoções em relação ao beijo por ter ficado com raiva por ser "rejeitada" posteriormente, mas agora, ali na terapia, veio à tona e ela não ia segurar.
— Acho que faz tempo que eu venho numa espiral de só me relacionar com gente merda e depois disso decidi ficar sozinha, só que obviamente de vez em quando eu saio com uns caras e umas garotas pra me divertir... Nada especial, nada diferente, entende? Então eu beijei essa... Essa pessoa e foi diferente. Fez eu me sentir diferente. É isso. Só isso.
Depois de todo seu discurso cheio de verdade, todos ficaram em um silêncio contemplativo. "Só isso"? Isso era muita coisa.
A própria Harley estava assustada, porque não imaginava que o beijo tinha significado tanto para ela. Agora também estava constrangida após assumir isso em público, mais especificamente na frente da pessoa que lhe causou tudo isso: Pamela Isley.
Saia correndo daqui!
Quando acharam que a sessão terminaria, Pamela decidiu falar. Como já estava no grupo há algum tempo e tinha feito grandes progressos, a terapeuta não cobrava que ela se manifestasse sempre. Na verdade não cobrava ninguém, mas "incentivava" alguns a falarem.
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Meant to be
FanfictionOnde Pamela e Harley são vizinhas de apartamento, sabem muito uma da outra, mas nenhuma tem coragem de tentar uma aproximação. Acham que suas vidas são ferradas demais para isso, que não há espaço para novos relacionamentos até que a mão do destino...