Capítulo 6

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O elevador para a cobertura de Tyler, diferente da velharia de seu apartamento, não parecia gritar prestes a despencar enquanto subia pelos 30 andares do edifício.

Aquele prédio realmente não tinha nada a ver com o seu velho kitnet, este era novo, moderno e parecia saído de um catálogo de uma revista de arquitetura ou design. Ela esperou incomodada até o painel brilhante dizer que havia chegado.

Não foi nenhuma surpresa quando as portas já abriram quase dentro sala do rapaz. A área gigantesca tinha móveis sofisticados e um visual clean, além de contar com uma fabulosa vidraça que ia do teto ao chão e mostrava ao longe o verde vibrante do central park. Puta merda, ela estava no paraíso.

-Ellora?

-Tyler?

-Aqui em cima! Sobe as escadas!- respondeu e ela foi seguindo sua voz. Claro que aquilo tinha dois andares e claro que tudo tinha que esbanjar luxuria, não podia esquecer do poder aquisitivo do seu cliente.

Quando chegou no piso superior ela achou a situação engraçada. O espaço tinha uma sala de tv com um sofá absurdamente grande e no lado oposto um corredor com algumas portas. No final parecia ter uma escada, mas ela não foi até lá pra conferir, já que achou Tyler na segunda porta aberta.

Ele tinha um paninho de girafas no ombro e tentava controlar as pernas de uma bebê rebelde enquanto equilibrava um tubo de pomada em uma das mãos. Se ela não o conhecesse, acharia a cena uma gracinha. Mas era só lembrar de com quem estava lidando e o sorrisinho deixou seu rosto.

-Quer ajuda aí, campeão?

-Porra, que susto, Ellora!- falou se virando com a mão da pomada no coração e ela riu.

Nunca teve irmãos, mas tinha 4 primos e era a mais velha, tendo cuidado de cada um deles desde sempre. Era quase uma super Nanny.

Chegou perto dos dois e o empurrou com o quadril, tomando a pomada da mão dele. A bebê sorria e jogava as perninhas pra cima tentando tocar os dedos dos próprios pés. Tinha as bochechas rosadinhas e cabelinhos finos loiros, os olhos eram claros como o do irmão e o tamanho pequeno anunciava que ela devia ter pouco menos de um ano.

Em uma bolsinha aberta no colchão ela pegou talco, a fralda e a trocou. Tyler a olhava calado, como se ela estivesse resolvendo uma equação matemática há séculos sem solução. Ela teve vontade de rir, mas se segurou. Atacou o body amarelo da bebê e a pegou nos braços enquanto ela ainda mostrava o sorriso banguela, se divertindo com toda a situação.

Agora que tinha terminado que percebeu que aquele provavelmente era o quarto do loiro. A decoração não o entregava, era minimalista e tons de cinza e preto se faziam presentes, mas as portas escancaradas do enorme quarta roupa que ia de uma ponta a outra da parede deixava escapar camisetas coloridas e calças jeans demais para que aquilo fosse do senhor Hunt.

-Meu Deus, Els, você me salvou!- falou agradecendo e estendendo os braços pra que a irmã pudesse ir até ele, o que pra surpresa dos dois ela não quis fazer. Apenas afundou a cabecinha no pescoço da morena e fechou as mãozinhas sobre a pele de seu braço.

-Acho que ela gosta mais de mim agora, foi mal...- disse rindo.

-Essa pivetinha sempre me trai! Mas tudo bem, vem, vamos descer que eu preciso esquentar a mamadeira dela!

Ela o acompanhou em silêncio. Ele usava uma calça de moletom preta e estava sem camisa. As costas largas trouxeram flashs de memória onde suas unhas o arranhavam e ela tentou jogar as lembranças de volta pra onde vieram o mais rápido que pôde.

A cozinha era sofisticada como toda a casa, os eletrodomésticos novos e brilhantes pareciam nunca ter sido usados e as cores metálicas combinavam com a ilha de mármore branco que ficava no meio. A pequena já dormia em seus braços, mas Tyler parecia tão empenhado em esquentar o leite que ela não falou nada.

-Desculpa não ter te enviado as respostas antes, a minha madrasta adoeceu e meu pai foi com ela no hospital. A Lizzie teve que ficar comigo, já que a babá dela estava de folga...- falou enquanto procurava uma colherzinha pra mexer a gororoba que fazia.

-Tá tudo bem, imprevistos acontecem...

Ele levantou o olhar até encontrar o dela e sorriu, como se agradecesse a compreensão, mas o sorriso murchou quando viu os olhinhos fechados da irmã que estava muito bem acomodada no colo da brasileira.

-Por que você não me disse que ela dormiu, Ellora?

-Ah, eu meio que gostei quando me chamou de Els, achei que agora nós nos tratavamos por apelidos...- falou rindo e ele lhe mandou o dedo do meio.

A campainha tocou alta e Tyler interrompeu a brincadeirinha dos dois pra ir receber o senhor Hunt, elegante como sempre, que estava a porta.

-Então além de advogada você também é babá, Ellora? Realmente uma mulher de muitos talentos!- falou rindo e pegando com cuidado o pequeno corpinho de Lizzie. Ela tinha o sono pesado e nem pareceu se incomodar com a movimentação.

-Digamos que sou multitarefas!

-É esse tipo de pessoa que eu gosto!- falou rindo e Tyler foi até eles com a bolsa da bebê que tinha ido pegar no quarto.

-Bom, Ellora, foi um prazer. Espero lhe ver em breve com boas notícias sobre o caso do meu filho...

-O prazer foi meu, senhor Hunt e pode ficar tranquilo, estou trabalhando pra isso!

O homem apenas lhe direcionou um aceno rápido e o filho foi o levar até a porta. Então o apartamento inteiro ela de Tyler? Tudo bem, aquilo era impressionante.

-Ok, vamos responder às suas perguntas chatas agora que eu tenho uma pool party pra dar em algumas horas.

-Típico de playboy... -resmungou revirando os olhos e o seguiu até o andar de cima, onde se acomodaram no sofá.

As perguntas eram simples, queria entender as circunstâncias da noite do delito e ficou surpresa ao saber que, na verdade, Tyler estava indo levar um ursinho que a irmã tinha esquecido em seu apartamento e chorava na casa do pai enquanto não o encontrava. Ele tinha ido a uma festa pela tarde e o álcool ainda estava no organismo, por isso a infração. Claro que ela ainda o achava um convencido e mimado, mas mesmo sem sua vontade, o coração começava a amolecer um pouco enquanto o conhecia mais.

Ele pareceu bem a vontade com o questionário, já que perguntas que facilmente poderiam ter sido respondidas com sim ou não eram mais elaboradas e terminaram nem vendo a hora passar, só quando a campainha tocou novamente eles se deram conta que já conversavam a tempo demais.

-Droga, acho que o Mike chegou!

-Tudo bem, acho que já tenho o necessário... Se eu precisar de mais alguma coisa te mando uma mensagem. -falou se levantando e guardando o celular que gravava a conversa no bolso.

-Por que você não fica pra festa?- perguntou se aproximando dela e tocando em seu braço, um pequeno gesto que mostrava uma intimidade que dias atrás ela acharia normal, mas que agora parecia trazer sensações estranhas.

-Minha amiga está me esperando lá em casa e eu não estou com a roupa adequada pra uma festa na piscina- riu enquanto se afastava delicadamente do seu toque. Pensou que decepção passou pelos seus olhos, mas tão rápido como chegou Tyler a disfarçou e deu um sorriso conformado.

Novamente o toque alto soou pela casa e os dois desceram pra que ele pudesse finalmente abrir a porta.

Por um segundo a vista de Ellora escureceu e ela teve que se perguntar se não estava delirando. Aquilo não podia estar acontecendo.

-Calma aí, você não é a vadia do supermercado que.me bateu?- falou o babaca que ela tinha estapeado mais cedo assim que entrou e a viu ali.

É, ela não estava imaginando coisas. As pernas se moveram quase que involuntariamente quando ela foi até ele e o empurrou pelo peito com raiva.

-Vai se fuder, seu cretino! Vadia é a sua mãe!- falou e o empurrou novamente, só que com mais força agora. Ele ria como se aquilo não o afetasse ou incomodasse, o que fez o sangue subir pela sua cabeça e ela fechar o punho pra lhe dar o soco que tanto queria.

No entanto quando levantou a mão pra acertar seu rosto convencido sentiu alguém segurar seu braço e a puxar pra trás.

Tyler agora a olhava confuso e assustado.

-Mas que merda tá acontecendo aqui?

Defendendo um idiotaOnde histórias criam vida. Descubra agora