Muitos têm medo da morte. Mas a morte é egocêntrica e detesta sair durante a luz do dia.
Vivendo entre humanos durante séculos, o anjo responsável pela morte deseja o fim do mundo e de todo o sistema solar após ser aprisionado na Terra como punição...
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Day 04
É estranho me sentir a vontade em um lugar que certamente será o local da minha morte se eu falhar, é ainda mais estranho estar olhando o pôr do sol ao lado do anjo que terei que matar.
Eu confesso que tinha um certo preconceito ao escutar a palavra "ilha". Na minha cabeça, não passava de um pedaço de terra cercado pelo mar; não tenho nada a oferecer a não ser desespero e instinto de sobrevivência.
Eu estava errada.
Creta é o lugar mais bonito em que já estive em toda a minha vida. Faz apenas uma hora desde que chegamos nesta ilha da Grécia Antiga, e para a minha alegria, pude ver o pôr do sol no alto da colina. O rapaz de cabelos negros não disse uma palavra desde que chegamos e, estranhamente, ele me seguiu conforme andei em uma terra desconhecida por mim.
Querendo desesperadamente sobreviver, andei estudando meu adversário e espero reconhecer suas fraquezas com tempo de sobra para conseguir viver ao final de tudo isso.
Icarus morreu em Creta e culpa o sol por isso. Ele odeia aquela bola fumegante e enorme com todas as suas forças, e é perceptível já que ele encara a luz dourada com um semblante carregado de ódio e os nós dos dedos se mostram esbranquiçados por estarem tencionados por tamanha força. Possivelmente ele jamais diga meu nome em alto e bom tom, porque Aruna significa sol da manhã, esperança e o começo.
Obviamente ele quer acabar com isso tudo.
— Eu morri bem aqui.
Sua voz parece distante. Mal percebo que estava sorrindo até virar o rosto em sua direção, suavizando a expressão antes de o encarar com seriedade. Não é uma supresa para mim, já que sua história é conhecida por muitos.
— Essa ilha é famosa por isso. – respondo, passando os dedos pelo rosto quando o vento bagunça meus cabelos. — Podemos tirar um bom dinheiro enquanto estivermos aqui. A grande atração: – me viro para frente do mar e me levanto, esticando a palma da mão para o céu. — O pequeno grande Ícaro.
— Já falei para não me chamar assim.
Ele se levanta também, balançando a barra do sobretudo para que os fiapos de grama se desprenda de sua roupa escura, o que me faz lembra que provavelmente tenha grama na minha calça jeans.
— Mas eu quero te chamar assim.
— Posso te chamar de Ruína? – ele rebate.
Franzo o cenho, sem entender o real motivo dele ter me chamado assim.
— Me chame como quiser. – dou as costas para o maior e começo a andar.