Muitos têm medo da morte. Mas a morte é egocêntrica e detesta sair durante a luz do dia.
Vivendo entre humanos durante séculos, o anjo responsável pela morte deseja o fim do mundo e de todo o sistema solar após ser aprisionado na Terra como punição...
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A noite sempre foi a minha parte favorita do dia. O som dos carros e da brisa do fim da tarde me davam esperanças, porque eu consegui aguentar um dia puxado e sobrevivi a ele. A minha melhor parte consegue dançar na escuridão sem se perder ou até mesmo tropeçar.
É a melhor parte do dia em que posso ser vista sozinha sem ser julgada por isso.
Olho para cima e sorrio ao ver o golfinho passar rapidamente, voltando vez ou outra. Ele parece sorrir, e isso me alegra.
É difícil ignorar a morte, principalmente quando ela está caminhando ao meu lado em absoluto silêncio. Vez ou outra, consigo ver de relance o maior parar a alguns metros de distância quando tartarugas passam ao seu lado dentro do imenso aquário.
Sinto certa gratidão.
Ele disse que tinha pressa e precisava me levar, e eu disse que ainda precisava ver uma coisa. Ele não concordou, mas também não me impediu, e isso aquece meu coração.
— Obrigada por me deixar vir aqui.
Ele acena com a cabeça, estendendo a mão para que eu a segure e possa partir com ele.
Consegui superar meu medo de água e tubarões ao me colocar diante deles. Pensei que caminhar com a morte me ajudaria a aceitar esse destino doloroso, e assim como eu ainda não havia visitado o aquário, tem muitas coisas das quais eu ainda quero fazer. De certa forma, me sinto arrependida por não ter aproveitado a vida e adiado muitas coisas.
— Não tenho todo o tempo do mundo. – ele se inclina em direção a minha mão.
Dessa vez consigo ser mais rápida e consigo me esquivar. Não é como se eu fosse conseguir fugir da morte, mas posso ao menos tentar atrasá-la.
— Eu tenho algumas perguntas.
Parece que o aquário não tem ninguém além de nós dois, e estar sozinha me apavora.
E se eu já tiver morrido?
— Está tentando me enrolar. – ele arqueia a sobrancelha e pende a cabeça para ao lado, avaliando minha expressão neutra antes de esboçar um sorriso. — Escute. Eu não sou bonzinho, nem de longe. Não pense que eu vou te ajudar ou que sinto empatia por você, até porque não tenho um coração. Não me faça ser perverso no meu último dia de trabalho.
Seguro as mãos atrás das costas, tentando não me afastar enquanto ele se aproxima. Não consigo olhar em seus olhos, mas consigo ver o quanto ele é alto em comparação a mim, e isso me intimida.
