O Clube Oculto Depois da Escola

Resgate

Chegando no clube, tínhamos que escoltar o menino para a sala 3, o local no qual eu tive que matar o homem. A criança ainda estava adormecida, ainda bem, pois se ele reagisse eu me sentiria muito mal.

Quando fechamos a porta e subimos, tinha um homem encapuzado e de máscara dentro do clube, ele direcionou a palavra a nós, falando que éramos para continuar lá em baixo. Provavelmente era algum dos adultos que trabalham para o pai de Mariana, ou era o próprio. Então ficamos lá na sala 2 onde o menino estava, ficamos sentados lá jogando no celular, até recebermos uma ligação de Larissa:

— Oi amor... Olha não saia daí por agora, vamos pedir o resgate aqui em cima, o dinheiro tem que vir até amanhã, então vocês vão ter que dormir aqui no clube, se ele não pagar hoje. Eu entendo que não vai ser cômodo isso, mas designaram vocês dois para essa missão. Avisem que estão dormindo na casa de amigos, que acabou ficando tarde para voltar, é isso tenho que desligar.

E foi isso que aconteceu, tivemos que dormir no local esperando o resgate. Foi a noite mais longa de minha vida, só consegui ter sono por volta de 3 e 30 da manhã. Dormimos na sala de estar do clube, e acordamos por volta de 11 da manhã com uma ligação:

— Oi aqui quem fala é a Mariana, vão ao mercado comprem pão e leite e deem ao menino, o dinheiro está em cima da mesa, não maltratem a criança, não há necessidade disso. O pai já foi informado, ele está desesperado... Disse que vai tentar entregar até a noite, foi pedir ajuda de parentes. Do mais é isso.

Desligou também não deixando eu falar nada, eu era só um comparsa daquilo tudo. Me tornei um criminoso e não recebia dinheiro algum, comecei a refletir sobre isso. Eu estava destinado depois que tudo aquilo acabasse, que Mariana me pagasse por cada atividade feita, isso de caçadores da adrenalina é coisa para bobo cair, quero dinheiro. No caso eu sou bobo então, pois após essa situação toda nem perguntei nada de dinheiro, vocês entenderão melhor mais para frente este ponto. Eu sou especial.

Eu e Jhon fomos a padaria e compramos o leite e o pão, alimentamos o menino, que estava muito calmo, nós falamos que o pai dele teve que deixar ele conosco, pois tinha que resolver assuntos. O menino nos contou que sentiu que dormiu enquanto jogava, e não lembra de ter vindo para cá, nós demos um jeito de amenizar o menino, pegamos os jogos de tabuleiro e ficamos jogando com o menino a tarde toda, no início da noite ligamos a tv e ficamos conversando, aquele menino era muito legal, ele tinha apenas 9 anos, mas no meio dessas atividades veio outra ligação, a terceira daquele app estranho que não salva nada:

— Leonardo e Jhon, preciso que vocês... Matem o menino. Aconteceu problemas, e o pai do menino acabou morto. É isso. Até mais.

Naquele momento da ligação eu fiquei em pânico, eu sabia de uma coisa, eu não iria matar aquele menino de forma alguma. Então resolvemos contar a verdade para ele que começou a chorar bastante, nós tínhamos que dar um jeito de salvá-lo. Resolvi ligar para Larissa e avisar que eu não iria matá-lo, ela me respondeu:

— Olha você que sabe.. Mas vão ter que sumir com ele. Eu vou pegar o número de um dos parentes, entreguem o menino ainda hoje e peçam para fugirem do estado o quanto antes. Vou passar o endereço e te falo.

Sim, eu não ia matar uma criança, e não fiz isso. Eu fiz o mais improvável, eu salvei ela, nós ficamos acalmando a criança e pedindo que ela colaborasse ao máximo, sem barulhos nem nada, porque iríamos salvá-la. E assim começou o nosso resgate, demorou 29 minutos para Larissa passar um endereço, eu pedi um taxi no aplicativo, teria que dar um jeito de explicar a minha mãe depois, estava com o cartão dela, colocamos a criança que conseguiu disfarçar o medo e tristeza. Chegando ao endereço, e ao descer do carro eu passei um papel para o menino com meu e-mail, e sussurrei para que ele me procurasse no futuro caso ache necessário. O menino guardou o papel com leveza em seu bolso, acredito que ele vai manter o papel, ou anotar em seu computador o meu e-mail.

Logo em seguida aparece o tio da criança e eu falei rapidamente para ele:

— Olha sumam daqui com ele, vão para bem longe, vendam a casa e se mudem, não deixem saber que a criança tá viva. Não tentem fazer justiça, são pessoas poderosas, se ama sua família só se mude daqui.

O menino nos abraçou antes de irmos e disse "obrigado", o tio e sua família agradeceu por salvarmos o menino e falaram que éramos de bom coração. Mal eles sabiam que nós que sequestramos, mas ninguém precisava saber. Conforme pedi pro motorista, tínhamos que voltar para nossas casas, mais uma viagem a ser paga.

No caminho Jhon mandou mensagem a Mariana dizendo que nós nos livramos do menino e não deixamos rastros no galpão. Ela disse "missão cumprida", e não pediu detalhe algum.

Fomos cada um para sua casa e ficamos ambos conversando pelo celular, estávamos com insônia. Minha mãe percebeu meu espanto de voltar, eu disse a ela que tivemos que pegar ingredientes de fazer bolo na casa de um tio dele, e eu falei que pagava a passagem. Ela ficou brava, mas relevou, estávamos nos dando muito bem.

Depois dessa noite devo resumir os próximos 2 meses até chegar novembro, estava quase no final do ano escolar, eu continuei namorando Larissa, e cada vez eu me dava melhor com ela, durante esses meses não tivemos muitas missões, as que tivemos, pareciam ser relacionadas a parte da máfia, e não a parte da caça de pedófilos. Algumas notícias: O primeiro rapaz da porta 2( o que eu tive que espancar) tinha sido morto, ele ficou uns 2 meses preso lá, eu pude ver o computador dele, era um pedófilo tarado, não senti muita pena de sua morte, mas foi uma situação muito estranha aquilo tudo. Recebi mensagem via e-mail do menino, ele disse que estavam todos bem, ele não passou o endereço, ainda bem, vai que alguém lê meu e-mail. 

Mas depois de exatos 2 meses, em uma quarta-feira, começou a minha penúltima missão, antes de eu ser pego pela polícia e estar hoje aqui no reformatório. E como eu disse, as coisas iriam piorar. As duas últimas missões que tivemos foram horríveis, crimes hediondos. Vou contar os dois, mas vamos pela ordem né...

Se você achou pesado até agora, não imaginem o que eu fiz nessas missões. Lembrem que tinham 3 portas? A porta 1 do porão me da pesadelos até hoje, a próxima missão é sobre ela. Vou tentar segurar minha ansiedade de falar sobre minha prisão, e contar primeiro para vocês o que acontecia lá.