02 | torradas com café

272 26 1
                                    

Após alguns minutos de paz e sossego, meu interior começou a amolecer um pouco. Será que fui muito rude com Bum-- Kibum? Ele deve ter ficado com medo de mim... ou acho que agora, na cabeça dele, serei eternamente conhecido como tio Min Ho chato, o que de certa forma eu não queria. Suspirei levando o olhar ao sofá de novo, após um último gole encorajador de café. Estava pronto pra reconhecer que peguei pesado com o menino.

ㅡ ...

Quem disse que ele estava lá? Estava no pé da mesa, me fitando curioso e mordendo a madeira.

ㅡ Kibum, não morde!! Vai machucar os seus dentes!! K-Kibum!! ㅡ Seus olhos diminuiram como olhos de demônio. Já vi que ele não funciona com ordens. Passei os dedos em minha testa, deixando o jornal ali novamente. ㅡ Kibum!! Já dissse que não é pra morder!! ㅡ Estava praticamente roendo a tinta da mesa como um cupim.

Me levantei agarrando sua cintura e o puxando, mas seus dentes haviam fincado no móvel. Como era possível?? Além de uma garganta poderosa ele ainda tinha as gengivas bem duras -- o esperado para alguém de 19 anos.

ㅡ Kibum!! Não!! ㅡ Falei um pouco mais calmo e de forma compreensível. Ele largou a mesa, nos fazendo cair para trás com grande impacto. ㅡ Bummie, não pode morder minha mesa. Não é de comer!! ㅡ Eu disse sentando nos meus calcanhares e o vendo me imitar.

Bummie, não pode morder minha mesa. Não é de comer. ㅡ Aish, que sapeca birrento e insuportável... ㅡ Você chamou Bummie de Bummie! Min Ho tem que ser punido.

ㅡ ... É, eu tenho que ser punido, você vai me punir? ㅡ Revirei meus olhos, mas era bem melhor do que deixar aquela imitação se estender por mais tempo. ㅡ O que vai querer, Kibum??

ㅡ ... Fome. ㅡ Fez um bico de novo passando as mãos pela barriga. Tive um tremendo insight olhando as marcas dos seus dentes na minha mesa.

ㅡ Ahh!! Por isso que você estava comendo minha mesa?? Kibum, vamos fazer um lanchinho, que tal? ㅡ Ele fez uma careta, brincando com os suspensório das próprias roupas enquanto eu me ocupava na cozinha procurando algo que fosse comestível. ㅡ Você vai comer torradas com café, senta aí.

Mostrei a cadeira pra ele sentar, mas como não seguia ordem nenhuma, tive que levar o café até ele. Aquele garoto não era nem um pouco normal. Assim que pôs a xícara na boca, o rosto fez uma careta horrível, parecia que ia vomitar.

ㅡ Eca! Kibum não gostou! É amargo!! ㅡ Bati na minha testa, eu já deveria imaginar que seria algo assim.

ㅡ Ah mas eu só tenho isso, você disse que queria comer então vai ter que comer!! ㅡ Acabei me exaltando novamente, eu não gostava de desperdiçar comida. Ele cerrou bem os lábios movendo a cabeça e testando todos os meus limites. ㅡ TUDO BEM. A TORRADA. A TORRADA NÃO É AMARGA.

Desisti, virando a xícara toda pra mim mesmo pra pelo menos ter uma calma. Ele pegou a torrada e começou a mastigar, devagar, com a boca aberta, como se quisesse fazer daquela tarde a mais torturosa possível para mim.

ㅡ Boca fechada, Kim Kibum, a gente come de boca fechada. ㅡ Falei pra ele, seus olhos se emperraram como um menino endemonhado novamente... Ay por que ele fazia isso comigo?? Apenas fingiu que seus dentes eram trituradores e foi empurrando a torrada para dentro, espalhando migalhas por todo o carpete. ㅡ Foda-se.

ㅡ Tio Min Ho!! Disse um palavrão!! ㅡ Ele berrou colocando as mãos nas orelhas.

ㅡ Grande coisa! Você já é grandinho, pode falar e ouvir palavrão sem ter vergonha já. ㅡ Falei me levantando do chão, havia desistido de praticamente tudo. Deixaria Kibum fazer o que quiser.

ㅡ Kibum pode?! ㅡ Aquilo foi como uma libertação para o menino, que depois de devorar as torradas voltou a brincar com Lu e me deixando em paz por alguns minutos.

Me equipei de vassoura e pá pra catar as migalhas das torradas e o vi brincando com o urso. Ele fazia efeitos sonoros irritantes com a boca, com uma voz fanha, arrastada e dengosa. Aliás, Kibum era todo dengoso, mas, contanto que não danificasse a minha propriedade, estaria tudo bem. O olhando com mais cuidado... Bem que ele parecia um anjinho.

( ... )

Anjinho?! Só se for Lúcifer. Kibum estava detonando meu apartamento. Como eu não tinha tv, ficou entediado rápido, então qualquer coisa o chamava a atenção. O moleque começou a pular no sofá como se fosse trampolim, além de espalhar todos os meus cds e pranchetas pela sala. Acredite ou não, ele conseguiu fazer uma tampa de pasta de dente de bola. Eu, óbviamente, estava um caco, pedindo a Deus por misericórdia.

ㅡ Kibum, pelo amor de Deus, por que você não pode ser uma criança que ama o tio Min Ho e fica quietinha?! ㅡ Sussurrei pra mim mesmo vendo o menino se concentrar no meu aquário. Uffa. Pelo menos com a Doroth ele não ficava elétrico. ㅡ Poxa vida, como Jinki tem paciência? ㅡ Começei a catar as folhas espalhadas por todo o apartamento, tentando deixar as coisas em perfeita ordem.

ㅡ Por que peixinho vive sozinho no aquário? ㅡ Ele perguntou passando os dedos nos lábios, ainda vidrado no peixe.

ㅡ ... Huh, tinham outros, mas acabaram falecendo, ela acabou ficando sozinha.

ㅡ ... igual Kibum... ㅡ Ele arrastou a voz, aquilo atingiu meu coração como se fosse uma marretada. Seu tom parecia triste e piedoso. ㅡ ... Kibum deve ser um peixinho!! ㅡ Ele virou pra mim elétrico novamente, me fazendo perder a impressão de calmaria dois segundos atrás. ㅡ Kibum é um peixinho no aquário.

ㅡ Aish, Kibum... ㅡ Acabei rindo, ele fez bico de peixe e moveu as mãos como se estivesse nadando com Doroth. De onde que ele tirava tanta energia?

ㅡ Alguém na porta do tio Min Ho.ㅡ Ele falou parando de se movimentar por ouvir um barulho. O silêncio comprovara sua fala. Tomara que seja Jinki vindo o buscar pra ir embora.

Fui atender quem quer que fosse, desgrudando o olhar de Kibum por míseros dois segundos.

ㅡ Oi...

ㅡ Taemin! ㅡ O recebi com um sorriso amplo e um toque nas mãos.

BUMMIE | SHINeeOnde histórias criam vida. Descubra agora